O tripé estética-preço-qualidade em produtos de vestuário

[Romildo de Paula Leite]

Por Fábio Romito

 

Em virtude da grande repercussão do artigo da edição passada, que abordou o tema “Qualidade e fast fashion”, resolvi ampliar um pouco a discussão, ainda mantendo-a sob o aspecto técnico observado.

Eu proponho que seja feita uma análise mais ampla, levando em conta os três aspectos importantes observados pelo consumidor em uma compra de produtos de vestuário.

O primeiro aspecto é a estética do produto, ou seja, suas características visuais e o quanto elas estão de acordo com a informação de moda do consumidor. O segundo é o preço, ou seja, o valor cobrado pelo produto. O terceiro e último aspecto é a qualidade do produto, que basicamente diz respeito à qualidade de execução (o quanto o consumidor é preparado para avaliar) e à durabilidade do produto.

Em outros termos, estou propondo uma reflexão que leve em conta a seguinte relação: características visuais do produto x durabilidade e expectativa de uso x preço.

Esses três aspectos serão tratados com peso e importância diferentes pelo consumidor, porém intimamente relacionados. Vale ressaltar que esses fatores serão aqui tratados genericamente, mas merecem ser aprofundados para serem explorados considerando-se as diferenças entre os diversos segmentos de consumidores.

Outro ponto a ser considerado nessa avaliação leva em conta o fato de que passamos por um momento de grandes mudanças no universo do consumo de moda. Existem vertentes de consumidores que buscam produtos com preços mais baixos e esteticamente atualizados, mesmo que isso implique uma expectativa de uso ou durabilidade menor. E há consumidores que valorizam produtos com uma estética mais clássica, preços um pouco maiores, porém uma expectativa de uso ou durabilidade maior.

De modo geral, grande parte dos consumidores não gosta de pagar um preço alto por um produto “fora de moda” segundo sua avaliação, pois os fatores estética e expectativa de uso pesam negativamente para o fator preço. Da mesma forma, não se espera pagar um preço alto por um produto que tem a estética atualizada (última tendência ou modinha), pois, provavelmente, sairá de moda rapidamente. Os produtos que o consumidor entende como produtos de melhor qualidade, são, geralmente, os mais clássicos, que, por terem uma estética que não acompanha demasiadamente a última tendência de moda, tornam-se mais perenes, gerando assim uma expectativa de uso um pouco maior.

Quando nos referimos à qualidade do produto de vestuário, seja de uma loja de fast fashion ou de qualquer outro tipo de loja, durabilidade, expectativa de uso, estética e preço sempre fazem parte do pacote básico a ser avaliado pelos consumidores no processo de decisão de compra.

Por outro lado, as empresas, de forma geral, escolhem o formato de trabalho e os aspectos que serão valorizados dentro do processo de concepção e produção de seus produtos.

O exposto acima nos leva a refletir um pouco sobre o tipo de produto que estamos colocando no mercado. Muitas empresas cobram um preço alto por produtos de estética atualizada e baixa expectativa de uso ou durabilidade. Trata-se de uma questão estratégica. Em vários ramos de atividade, a estética está mais valorizada que a qualidade. Não estamos aqui para julgar, e sim para refletir.

Como será a relação estética do produto x durabilidade e expectativa de uso x preço?

Sabendo que existe uma influência forte entre esses fatores, como vamos agir?

Reflitam a respeito.

 

Fábio Romito é técnico têxtil, administrador de empresas e mestre em engenharia de produção. Atua no mercado de confecção há mais de 25 anos, sendo quase 20 dedicados a consultoria e treinamento em empresas de vestuário. É professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de moda e administração.

[e-mail]

http://www.costuraperfeita.com.br/edicao/28/materia/qualificacao.html