Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

O visual pós-andrógino chega para revolucionar o guarda-roupa deles e delas

É homem ou mulher? Nunca foi tão difícil responder a essa pergunta nas passarelas dos desfiles internacionais

Enquanto a Europa vivia a ansiedade de um novo ultimato dos credores à Grécia, as salas de desfile da semana de alta-costura deParis refletiam o espírito de apostas e incertezas que assola o continente.

grife Chanel montou, no centro de exposições Grand Palais, um cenário que reproduzia um cassino, com roletas e máquinas caça-níqueis de verdade. Os crupiês eram modelos engravatados, e as jogadoras estrelas de Hollywood, do cinema francês e da moda, como as atrizes Julianne Moore, Kristen Stewart e Isabelle Huppert. Elas usavam glamourosos vestidos e tailleurs de veludo com joias que podiam custar até R$ 10 milhões. Enquanto fingiam que faziam suas apostas, as modelos desfilavam os vestidos de alta-costura, feitos sob medida nos corpos das clientes, que demandam milhares de horas de trabalho dos artesãos da maison. As roupas custam, em média, entre R$ 150 mil e R$ 1 milhão, dependendo do tipo de material e dos bordados aplicados. Mas a grande surpresa ficou para o final.
 

Desfile da Gucci 2015 (Foto: Catwalking/Getty Images)
Kendall Jenner vestida de noiva no desfile da Chanel (Foto: Divulgação)

A tradicional noiva, que geralmente fecha as apresentações dos desfiles de alta-costura, usava um terno masculino, com penteado idem. Se não fosse pelo longo véu, dificilmente alguém identificaria se era uma garota ou um rapaz a usar o modelito.

Era uma moça, a modelo Kendall Jenner, até pouco tempo atrás conhecida por ser irmã da estrela de reality shows e exibicionista incansável Kim Kardashian. A fama de Kendall se multiplicou por ela ser filha da transexual mais célebre do mundo, Caitlyn Jenner. Caitlyn, nova encarnação do ex-atleta olímpico americano Bruce Jenner, estreará no fim de julho um reality show sobre sua nova vida como mulher. Pelo programa, receberá um cachê estimado em US$ 4,5 milhões, fora os numerosos e suculentos contratos publicitários que seus empresários negociam. Quando posou em junho pela primeira vez como mulher para a capa da revista americana Vanity Fair, Caitlyn se tornou a celebridade que mais rápido amealhou novos seguidores nas redes sociais, batendo, por exemplo, o antigo recorde de Barack Obama no Twitter. A transgênero conquistou 1 milhão de seguidores em apenas quatro horas, contra cinco horas do presidente. Ninguém esperava, porém, que sua influência – e a ideia da fluidez de gênero – ultrapassaria as fronteiras das confusões de sua trepidante família para conquistar as passarelas internacionais.

Nos desfiles de moda masculinos de Paris, Milão e Florença, no final de junho, muitas marcas decidiram apresentar também roupas femininas ou mulheres usando peças típicas do guarda-
roupa 
masculino. O novo estilista da italiana Gucci, Alessandro Michele, liderou o movimento. Sugeriu camisas com laçarotes de seda no pescoço, estampas românticas e mangas com babados para eles, e ternos com botões cruzados, jaquetas curtas e alfaiataria militar para elas. “Muitas garotas bonitas podem se parecer com os homens, mas, para um homem se parecer com uma mulher,  talvez aí esteja a história do mundo”, diz ele. Nas vitrines da Gucci em Paris e Milão, é difícil diferenciar os modelos masculinos dos femininos.


Riccardo Tisci, da grife francesa Givenchy, colocou em sua passarela masculina 11 looks de sua coleção feminina de alta-costura. E o mais recente caso de sucesso financeiro do mundo da moda, o estilista Heidi Slimane, da lendária marca francesa Saint Laurent, alcançou um espetacular crescimento mundial de 27% nas vendas no ano passado, justamente brincando com a falta de fronteiras entre os guarda-roupas de homens e mulheres. Nenhuma grife de luxo, fora a Saint Laurent, cresceu dois dígitos no período, por causa do desaceleramento da economia chinesa e do refreamento do consumo dos mercados russo e árabe. A Saint Laurent, em momento de expansão, vai abrir sua primeira loja no Brasil em setembro, em São Paulo, confiando no frisson que vem causando mundo afora.

Para suas campanhas publicitárias, Slimane tem optado por modelos sem muitas curvas, com admitida inspiração em astros de rock como Marilyn Manson, Courtney Love e David Bowie, que sempre brincaram com a confusão de gêneros. A androginia não é exatamente uma novidade no mundo fashion. Nos anos 1920, Gabrielle “Coco” Chanel pegou de seu amante, o duque de Westminster, a ideia de transpor para o guarda-roupa de suas clientes os blazers de tweed que ele usava em suas caçadas no interior da Inglaterra. No final dos anos 1960, o próprio Yves Saint Laurent criou o smoking feminino. Nos anos 1980, Jean Paul Gaultier e seus amigos desfilavam de saias numa Paris em ebulição. Na década seguinte, o movimento “Lesbian chic” colocou o vestuário unissex na ordem do dia. “Mas o que estamos vivendo agora é uma verdadeira revolução pós-andrógina”, diz o editor de moda Godfrey Deeney, do jornal francês Le Figaro. “As formas das roupas estão cada vez mais unissex, e o que as diferencia entre homens e mulheres são os adornos, os bordados, os enfeites, ou a ausência deles.”

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Não se trata, portanto, de uma mulher usar uma roupa de homem ou vice-versa – é a mesma peça podendo ser perfeitamente vestida pelos dois, sem diferenciação na modelagem. E se trata, também, de uma nova oportunidade para as grifes, com uma clientela ávida por comprar, em dobro, o que eles e elas estão usando. “O gênero realmente perdeu a importância”, diz uma vendedora de uma das butiques parisienses da Gucci. “Homens e mulheres têm procurado a loja atrás dos mesmíssimos modelos.” 
 

Blazer criado por Coco Chanel em 1920 (Foto: Sasha/Getty Images)
Yves Saint Laurent apresentou em 1966 sua releitura do smoking (Foto: Reg Lancaster/Getty Images)
Jean Paul Gaultier lançou em 1984 saias para homens (Foto: The Life Picture Collection/Getty Images)
Nos anos 1990, a ideia de “Lesbian chic” se difundiu (Foto: Thierry Orban/Sygma/Corbis)

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Respostas a este tópico

questão difícil...
onde o foco não são apenas problemas de gêneros sociais, mas também ergonômicos.
tá, todo mundo mundo usa o que quiser, mas o que seria mais/menos confortável?
questão difícil...
onde o foco não são apenas problemas de gêneros sociais, mas também ergonômicos.
tá, todo mundo mundo usa o que quiser, mas o que seria mais/menos confortável?

Concordo com vc Paulo.

A partir de um momento que se pega um sapato feminino, p.ex., e o adapta a ergonomia masculina, pronto: virou um sapato masculino.

Acho que a brincadeira dos generos ficam mesmo so na estetica. 

   É menino ou menina.

A diferença seria o tamanho. mas isso é independente do corpo de cada um, independe do sexo. um scarpan tamanho 43 cabe num pé de um homem, por ex. é confortável? depende dele, de quanto tempo ele usa. pq não, ele não é se tu não usa com frequência, sendo mulher ou homem.

Acredito que a modelagem andrógina seria bem genérica, bem simples, sem uso de pences por ex, para aproximar os gêneros. Eu vejo os coletes masculinos com pences e remete a uma sensualidade, a uma marcação de cintura, saliente no guarda roupa mais atual da mulher - da modernidade. eu já não saberia responder se é andrógino, pois salienta elementos antes usados exclusivamente por mulheres.

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