Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Uma leva refrescante de cabelos brancos reinventa — com inspirações para todas as idades — a imagem da mulher acima dos 60.

Sempre há algo novo na moda – e é assim que a indústria se alimenta. Mas a novidade mais arejada dos últimos tempos é quase surpreendente. Num meio que tantos dizem privilegiar antes de tudo a juventude, as mulheres de 60, 70 e 80 anos têm sido vistas – lindas, estilosas, com seus cabelos em cores originais – por passarelas, campanhas e editoriais.

A cantora Joni Mitchell posou aos 71 anos para a Saint Laurent em 2015. Na mesma época, a escritora Joan Didion foi, com 82 anos, musa da Céline. Antes delas até, a atriz Charlotte Rampling foi escolhida, também aos 71, para promover os batons Nars. Vimos ainda Sophia Loren, aos 81, como a garota-propaganda do perfume Dolce Rosa Excelsa, da Dolce & Gabbana, Carmen Dell’Orefice fazer uma campanha aos 83 para a Rolex e a revista norte-americana Vanity Fair eleger Maye Musk, de 69, uma das novas it-girls – o que ela mesma achou “hilário”.

Maye, seis vezes avó, tem mais de 50 anos de carreira como modelo, mas nunca trabalhou tanto quanto agora. “Eu trabalho e aproveito a vida. Nunca me senti frágil”, afirma.

Maye Musk (Mike Ruiz/Estilo)

Carmen Dell’Orefice (Divulgação/Divulgação)

Por que essas e outras velhas – sim, assim mesmo, sem aspas – estão com tudo e por todos os lugares?

Há vozes assumidamente cínicas sobre esse movimento da moda. A modelo inglesa Sandra Howard, 77 anos, que estrelou uma campanha para a Ralph Lauren aos 47 ­– algo surpreendente para a época em que aconteceu, três décadas atrás – acredita que a indústria usa as 60+ como uma espécie de “efeito choque” porque “nunca houve uma época em que a juventude não tenha sido venerada como a qualidade mais desejável numa mulher”, diz.

As pessoas estão cansadas de tantos modelos impostos

Lyn Slater

“As pessoas estão cansadas de tantos modelos impostos”,diz Lyn Slater, 63, professora universitária em Nova York, autora do blog Accidental Icon e modelo de gigantes como a Uniqlo e a Mango. Em seu perfil no Instagram (@iconaccidental, 220 mil seguidores), ela abusa da hashtag #AgeIsNotAVariable, algo como “idade não conta”.

“Meus seguidores, a maioria entre 18 e 35 anos, me escrevem, agradecendo por eu mostrar um jeito muito mais interessante de olhar para a idade que desafia as convenções sociais”, diz.

Lyn observa que essa geração não se relaciona com as pessoas mais velhas do jeito que os mais velhos fazem – eles são mais abertos e livres. Os comentários nas fotos trazem palavras e expressões como “linda”, “incrível”, “maravilhosa”, “amo tudo da cabeça aos pés”. Nada do que ela (que tem entre seus trunfos de imagem o corte de cabelo) posta é photoshopado.

“Autenticidade é o que torna as pessoas atraentes”, acredita.

Lyn decidiu criar seu blog há três anos para mergulhar no seu amor pelo jogo de aparências. Nos posts, existem substância filosófica, confissões e perguntas. Mas o tema nunca passa pela questão dos anos vividos na Terra. Como ela insiste, a idade é “uma falsa categoria”. “Nunca penso em ser velha, mas sobre envelhecer. Esse é um processo contínuo, que começa quando nascemos. E os vinhos e as antiguidades estão aí para provar que as coisas melhoram com o passar do tempo.”

 

Lyn Slater (Heather Hazzan/Estilo)

O que significa, então, ser velha?

Uma das modelos icônicas dos anos 1960, 70 e de 2017, a norte-americana Jan de Villeneuve, 73, responde com uma anedota. Um amigo, ela diz, se aproximou no trem de uma senhora que ele achou chiquérrima. Sem graça, porque diz o bom-tom que não se deve fazer isso, ele perguntou se poderia saber a idade dela. “Não me importo de ter 99 anos. O bom é ter uma filha de 73”, respondeu ela. Moral da história para Jan: “Sim, os ossos estão mais fracos, os cabelos mais finos e eu não gosto das rugas, mas essa é a minha idade. Eu não quero ter de novo 27 e, acima de tudo, eu não me sinto diferente por dentro”, resume.

“Envelhecer é inevitável e precisamos pensar nisso e não nos obcecar com a juventude. Velho é querer parecer novo.” Jan, uma das modelos do desfile de inverno 2018 da Simone Rocha, diz que seu estilo é clássico com um twist. Muito twist. “Meu armário se parece com as coleções da Gucci”, compara. Coleções que nem de perto passam pelo visual tradicional de vovó a que estamos acostumadas – e um figurino fora do padrão sem dúvida ajuda na percepção do outro.

O melhor exemplo de que o hábito faz a fashionista é a austríaca Ernestine Stollberg, 95 anos, uma Iris Apfel tardia. Ernie, como é conhecida, costumava passar de jeans boca larga, suéter e trench coat Burberry na frente da Park, uma multimarcas da dupla Markus Strasser e Helmut Ruthner em Viena, e chamou a atenção de Markus, que é stylist. Há um ano, ela começou a modelar para o Instagram da loja.

Nas fotos, aparece de Jacquemus, Raf Simons, Ann Demeulemeester, Dries Van Noten. Ela mesma monta seus looks, clica com o smartphone e posta. “Ela se diverte com peças ultracontemporâneas e age naturalmente. É isso o que as pessoas, não importa de que geração, buscam hoje”, analisa Markus.

É possível dizer que no centro dessa pequena revolução está assumir o cabelo branco, um dos sinais de velhice mais combatidos. “Os meus são a prova de que na vida é preciso se deixar levar e buscar novos caminhos para se sentir bela, inteligente e viva”, diz a jornalista parisiense de moda Sophie Fontanel, menor de 60.

Desde que largou a tinta escura, Sophie viu sua conta no Instagram (@sophiefontanel) explodir em seguidores em velocidade exponencial, mesmo que em números absolutos, 114 mil, ele não impressione no universo das blogueiras nascidas nos anos 1990. É como se ela tivesse se encontrado com ela mesma, sem disfarces, e os posts mostram isso. Sophie, como Lyn, Jan e Maye, arruma-se só para si – até para manter um jogo de sedução com os outros. “É preciso se reinventar o tempo todo. O que mudou é que tenho cada vez mais prazer em me fazer bonita. A idade nos traz doçura e naturalidade. Quem resiste a isso?”, pergunta.

Só nos resta, então, observar que há uma luz branca no fim do túnel e que os conselhos de Anna, Sophie, Lyn, Maye, Jan, Ernestine são como os sábios conselhos de mãe para filha, que valem para qualquer geração.

Por Simone Esmanhotto

http://estilo.abril.com.br/moda/old-is-cool-as-modelos-acima-de-60-...

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