Por isso, afirmou o diretor-geral da Euratex, a mensagem é para «fazer a transição para nos tornarmos mais sustentáveis, mais transparentes, produzir artigos de elevada qualidade, mas precisamos de apoio na inovação, na investigação de novos materiais e aplicações para que esta transição seja bem-sucedida. Porque fazer a transição implica custos e investimento e queremos que as nossas empresas continuem a ser competitivas», realçou.
O desafio da desfossilização
Lutz Walter, por seu lado, apresentou aqueles que considera ser os três grandes desafios da indústria têxtil e vestuário, não só europeia, mas mundial, para as próximas décadas, que designa por “desfossilização”, uma palavra assumidamente inventada, «mas que é mais exata do que descarbonização, porque quando pensamos nos materiais que usamos, têxteis, não os podemos descarbonizar a não ser que queiramos usar fibra de vidro». Como tal, reforçou, «não podemos descarbonizar os nossos materiais, mas podemos desfossilizá-los, assegurar que não são provenientes de combustíveis fósseis, que são de base bio ou renováveis».
Um segundo ponto, referiu Lutz Walter, é o tipo de energia usada para transformar matérias-primas em produtos finais e para levar esses produtos ao consumidor, que ainda é «na maior parte, energia de base fóssil» e, um terceiro, a digitalização e automatização.
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Lutz Walter
O secretário-geral da ETP Têxtil desafiou ainda os números da poluição da indústria têxtil e vestuário. «A nossa indústria não é responsável por 10% das emissões mundiais de CO2. O número real provavelmente está abaixo de 2%», sublinhou. «A indústria toda no mundo é responsável por aproximadamente 20% das emissões. Agora dizem-me que a indústria leve é responsável por metade disto e que todas as indústrias pesadas são responsáveis pela outra metade? Não faz sentido. Estes números estão sobrestimados. Mas 2% ainda é alguma coisa, é muito se quisermos ser neutros em carbono», justificou.
E é aqui que entra a energia usada, onde a Europa tem uma pegada mais reduzida que os grandes países produtores da Ásia. «Se alguém quer baixar a pegada carbónica dos seus produtos, deve trazer a produção têxtil de volta à Europa», destacou. «Mudar de algodão convencional para algodão orgânico ou de poliéster convencional para reciclado tem pouco impacto, talvez 12%, enquanto que ao mudar a produção da Índia para Portugal, por exemplo, é possível ter uma redução de 63%», destacou.
Por último, a digitalização, além de uma maior eficiência na produção e de uma maior proximidade ao mercado de consumo, vai permitir prever com maior precisão a procura. «É aí que se vai reduzir o desperdício, eventualmente reduzir os custos e também reduzir o risco. Por isso, é para aí que temos de ir», acredita Lutz Walter.
«Em 2030, a indústria não vai ser consideravelmente diferente do que é hoje, apesar de todas as declarações e questões políticas, mas se trabalharmos na direção certa tempo suficiente, teremos efeitos compostos. Acredito que em 2050, daqui a 27 anos, teremos uma indústria que processa basicamente 100% de fibras de base bio ou renováveis, incluindo materiais reciclados, que produz com energia baixa em emissões de CO2 e que faz os seus produtos em fábricas altamente digitais e automatizadas, localizadas muito perto dos centros de consumo», concluiu.