Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A Restoque, dona da marca de luxo Le Lis Blanc, é mais uma empresa do setor a ter seu nome ligado a esquemas de exploração de mão de obra. A empresa foi autuada e corre o risco de pagar multas milionárias

A Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888, aboliu a escravidão no Brasil. Mais de 120 anos depois, no entanto, parece que algumas empresas ainda não entenderam o que isso significa. Entre muitas outras, esse parece ser o caso da grife de luxo Le Lis Blanc, que pertence à varejista Restoque, empresa que faturou R$ 635,9 milhões no ano passado e cujo valor de mercado é de R$ 1 bilhão. Em junho, uma fiscalização do Ministério do Trabalho, realizada em três oficinas de costura, na zona norte de São Paulo, encontrou trabalhadores em condições análogas à escravidão em fornecedores da Le Lis Blanc. 

 
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Ao todo, 28 imigrantes bolivianos, incluída uma adolescente, que eram obrigados a cumprir jornadas extenuantes de 12 a 14 horas diárias, foram libertados. As condições de higiene e segurança do local eram precárias. Eles dormiam no próprio trabalho, em beliches improvisados, e eram impedidos de deixar o local. Recebiam conforme a produtividade. Uma peça de roupa costurada valia entre R$ 4 e R$ 5. Mas o pouco dinheiro acabava indo parar nas mãos de seus “empregadores”, por conta de dívidas contraídas, geralmente para pagar as despesas da viagem da Bolívia para o Brasil. 
 
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O lixo do luxo: peças vendidas por até R$ 2.2 mil nas lojas da Le Lis Blanc
são costuradas por menos de R$ 10 em oficinas clandestinas
 
A Le Lis Blanc, dona das marcas Bo.Bô, John John e Noir, Lelis, foi autuada pelo Ministério Público (MP) por conta de 24 infrações. Inicialmente, terá de pagar R$ 600 mil em indenizações aos estrangeiros libertados. Mas o valor das multas pode chegar a cifras milionárias. Em nota, a companhia confirma que recebeu autuação do Ministério do Trabalho “envolvendo empresas que não conhece e com as quais não tem relacionamento”. Não foi o que constatou a fiscalização. “Ficou evidente a ligação direta da empresa com a organização da linha de produção”, afirmou o auditor fiscal Luís Alexandre Faria, que participou da operação, à ONG Repórter Brasil, que investiga esse tipo de crime. 
 
Somente pelo fato de ter terceirizado a sua atividade principal, segundo Faria, a empresa já estaria cometendo uma irregularidade. De acordo com o Ministério do Trabalho, a cada dez peças fabricadas nas oficinas, nove eram pedidos das confecções intermediárias Pantolex e Recoleta, que eram contratadas pela Restoque para produzir roupas da Le Lis Blanc e da Bo.Bô. Nas lojas, uma peça dessas marcas pode chegar a custar mais de R$ 2 mil. A Le Lis Blanc possui lojas nos principais shoppings e centros de compras do Brasil, como a rua Oscar Freire, em São Paulo, um dos maiores redutos das grifes de luxo no País. A Restoque foi criada em 1982 por Waltraut Guida e Rahyja Afrange, duas profissionais de prestígio no mercado da moda brasileiro. 
 
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O custo da terceirização: a restoque, do presidente do conselho,
Marcio Camargo (à esq.), e do CEO Alexandre Afrange, pagou R$ 600 mil
de indenizacão aos trabalhadores
 
Em 2007, a companhia foi comprada pelo fundo Artesia, fundado por Marcelo Faria de Lima e Márcio Camargo, ambos adeptos da cultura da meritocracia, herdada do tempo em que trabalharam no Banco Garantia. Atualmente, a companhia é comandada por Alexandre Afrange, irmão de Rahyja, mas a última palavra é de Camargo e Faria de Lima. Na segunda-feira 29, quando foi divulgada a notícia sobre o trabalho escravo nas oficinas da empresa, suas ações sofreram uma queda de 3,1%. No ano, os papéis da companhia acumulam uma perda de 33,9%. As notícias de trabalho escravo não são tão incomuns no mundo da moda. 
 
Nos últimos anos, diversas empresas foram flagradas explorando trabalhadores, em sua maioria bolivianos. Em abril, a GEP, dona das marcas Luigi Bertolli, Cori e Emme, foi multada em R$ 1,1 milhão pelo Ministério Público, após uma fiscalização ter libertado 29 escravos de uma das oficinas contratadas pela companhia. Em julho de 2011, a subsidiária de uma das maiores varejista de moda do mundo, a espanhola Zara, também foi acusada de utilizar mão de obra escrava, em um caso que ganhou repercussão internacional. O primeiro caso desse tipo de crime registrado em São Paulo foi em 2010, quando duas estrangeiras foram resgatadas de uma oficina onde trabalhavam à força e, inclusive, eram agredidas fisicamente.
 

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http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/125338_OS+ESCRAVOS+DA+MODA

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