Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Os problemas que o grupo SBF está tendo que resolver com a Nike

Os problemas que o grupo SBF está tendo que resolver com a Nike

Migrações de sistemas e mudanças no comércio digital têm afetado a logística e a distribuição de produtos da marca.

Por Adriana Mattos

O grupo SBF, dono da Centauro, tem conduzido uma série de migrações, em sistemas e logística, na Nike no país, e parte dessas mudanças afetou a operação on-line da marca, segundo apuração do Valor. Administrada pela Fisia, a Nike é um negócio de mais de R$ 3 bilhões em vendas anuais no Brasil, e o digital é quase um terço da receita total.

O principal problema hoje está na área de logística e distribuição. Houve atrasos nas entregas, pelo menos, desde novembro, em praças de alto fluxo, como São Paulo e Rio de Janeiro, em níveis acima da média no setor, dizem fontes ouvidas. A taxa de pedidos enviados fora do prazo, em dezembro, saiu de 1% a 3% para um índice de dois dígitos em plataformas parceiras, em que a Nike faz os envios, apurou o Valor.

“Mudanças desse tipo são complexas e as redes não começam migrações após julho ou agosto porque é alto o risco de instabilidades afetarem as vendas de fim de ano, quando a demanda sobe”, diz uma fonte do setor que foi informada pela Fisia das dificuldades.

Em mensagens a clientes, na semana do Natal, a Nike citou o impacto de um “atraso operacional”, e dizia que eram necessários três dias úteis para, então, informar um novo prazo de entrega. Em janeiro, foi preciso ampliar prazos para diminuir volume de atrasos, reduzindo o ritmo de emissão de faturas e dando tempo para tentar equalizar o problema.

A nota da Nike, para a operação digital, no site Reclame Aqui caiu de 8,6 (“ótimo”) em 2021 para 5,4 (“ruim”) nos últimos seis meses — desde que começou a migração interna. No braço físico, a nota é 3,8 (“loja não recomendada”).

Entre janeiro de 2020 (início da atividade da empresa no Reclame Aqui) e janeiro de 2023, são 73 mil reclamações de consumidores ao on-line da Nike, e entre julho e dezembro, foram 28,1 mil — ou seja, 38% do total. O número supera o total de 2021 (25 mil). O principal problema identificado é pedido não recebido. A Centauro (loja e on-line), de julho a dezembro, tem 16,4 mil reclamações.

Os dois negócios são quase do mesmo tamanho. A Nike vendeu R$ 2,82 bilhões de janeiro a setembro de 2022, alta de 24,7% (o digital subiu 93%), e a Centauro vendeu R$ 2,9 bilhões, alta de 24,2%.

Ganhos e perdas

As mudanças no sistema e na logística fazem parte de um plano de unificação de estruturas da Centauro e da Nike, e de redução de despesas, em andamento desde a metade do ano passado, e que ocorre em fases. No início de 2020, o grupo SBF adquiriu a operação da Nike no Brasil por cerca de R$ 900 milhões, criando com isso a Fisia. O SBF passou a ser responsável, de forma exclusiva, por áreas como distribuição, política comercial e gestão de lojas por 10 anos, podendo ter o prazo renovado.

A operação da Nike já havia sido afetada, no terceiro trimestre, quando a Fisia perdeu R$ 17 milhões por conta de entregas não feitas de produtos vendidos, após trocas no sistema de tecnologia, segundo a direção detalhou a analistas, em novembro. A empresa, que utilizava o ERP Global da Nike Inc, foi migrando a operação para o sistema SAP 4 Hana após agosto — deixando com isso de pagar a Nike, nos EUA, pelo uso do ERP.

Ao mesmo tempo, o SBF fez outra troca, também após metade do ano: o sistema ERP da Centauro migrou para o SAP 4 Hana.

Mudanças para o SAP no varejo levam vários meses, às vezes, mais de um ano pelo nível de sensibilidade. Ele funciona como o espinha dorsal de uma varejista — controla o fluxo de estoque, entrada e saída de produtos, preços de venda, política de descontos e comissões, por exemplo. Uma simples emissão de nota fiscal passa por ele.

Paralelo a essas duas trocas, ainda havia outro projeto, relacionado à gestão da plataforma digital da Nike e a sua logística. Isso levará a saída da Nike da base de clientes da Infracommerce, empresa brasileira parceira do grupo nessas áreas há anos, segundo fontes. É essa mudança que tem causado atrasos nos envios de itens vendidos pelo site próprio da Nike, e também das vendas fechadas em plataformas de terceiros, segundo apurou o Valor.

“Depois que iniciaram esse processo, em agosto teve algum ruído para atender pedidos, mas nada anormal. Era basicamente por causa do SAP. Em outubro, já estava melhor, só que depois de novembro piorou de novo e em dezembro continuou”, diz um lojista que vende itens da Nike.

O SBF chegou a mencionar, em novembro, em teleconferência, que a intenção é que o digital da Nike seja totalmente operado pelo grupo, inclusive a distribuição. E que “a migração da logística, ainda operada por um parceiro, deve ser finalizada ao longo de 2023”. A empresa não cita o nome do parceiro.

Empresas se posicionam

Procurados, grupo SBF e Infracommerce enviaram notas conjuntas ao Valor. Afirmam que devido à alta demanda de Copa do Mundo, Black Friday e Natal, foram registradas extensões no prazo de entrega de alguns pedidos e “intercorrências pontuais”.

“As empresas reiteram que estão trabalhando em conjunto para solucionar todas as demandas relacionadas ao período e a maior parte dessas ocorrências já está resolvida ou em fase final de tratativa, reforçando o compromisso de ambas as companhias com a qualidade de seus produtos e serviços”.

Semanas antes da Copa do Mundo, o Valor noticiou que a Nike vendeu menos camisas da seleção brasileira do que poderia, porque não conseguiu atender a alta na demanda.

Valor apurou que essa transição na logística teve uma fase inicial já no ano passado. Mas o período mais difícil da transição teria passado. “A informação que temos deles, oficialmente, é que o volume de venda cresceu no fim do ano e a logística não acompanhou”, afirma um lojista que vende itens da Nike no interior de São Paulo.

“Acontece que todo ano há um planejamento prévio para esse período de vendas, e decidiram trocar sistema e rever logística correndo o risco de que isso entrasse pelo quarto trimestre. A demanda no on-line não explodiu tanto a ponto de explodir a demanda de fim de ano, ou impossibilitar dar uma previsão ao cliente. E isso afeta o nível de serviço das empresas que vendem a marca nas plataformas”, diz esse lojista.

“Praticamente estabilizadas”

Em teleconferência, em novembro, o comando disse que as migrações nos sistemas estavam “praticamente estabilizadas”, com expectativa de efeito positivo em margens após o quarto trimestre. A empresa não detalhou as questões logísticas na época.

Além dos R$ 17 milhões em perda de vendas na Fisia no terceiro trimestre, com a migração de sistemas, o SBF estimou em R$ 91 milhões as vendas no braço de atacado da Nike, que deixaram de acontecer com a migração. O grupo disse a analistas que a venda aos distribuidores foi postergada para o quarto trimestre, e ainda deve acontecer.

Em relatórios ao mercado, analistas entendem que as mudanças no grupo são necessárias e os ganhos com a integração devem crescer ao longo dos anos. Isso tende ainda a ser potencializado com um plano mais agressivo de abertura de lojas próprias.

Em linhas gerais, a integração dá liberdade para a empresa adaptar o sistema ao modo de ela operar. No caso da logística, há o custo de montar uma operação logística com transportadoras de forma direta, algo que ela terceirizava, mas ela passa a ter essa atividade sob seu controle.

Fonte: Valor Econômico

Por Adriana Mattos

https://sbvc.com.br/os-problemas-que-o-grupo-sbf-esta-tendo-que-res...

Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI

Exibições: 440

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço