O lançamento da nova camisa 3 do Atlético-MG ilustrou uma tendência crescente no marketing esportivo: o vazamento programado. Antes da apresentação oficial da camisa, o streamer Coringa, torcedor declarado do clube e um dos maiores nomes do cenário gamer brasileiro, apareceu vestindo o uniforme em suas transmissões na Twitch e na Kick. A ação, resultado da parceria entre o clube, a Adidas (fornecedora de material esportivo do Atlético-MG) e o H2Bet (patrocinador máster do Galo e também parceiro de Coringa e da Loud, sua equipe de e-Sports), foi pensada para gerar “buzz” imediato e inserir o lançamento dentro de um contexto cultural já consumido por milhões de jovens.
Eis o balanço resumido da ação:
Twitch: Mais de 420 mil visualizações e 161 mil espectadores únicos.
Instagram: Stories exibidos para 15,5 milhões de seguidores, e um alcance estimado entre 1,5 e 4,6 milhões de pessoas.
Repercussão orgânica: Destaque em páginas de e-Sports, futebol e veículos de imprensa, gerando ampla mídia espontânea.
Valor para patrocinadores: Associação a um momento espontâneo com repercussão massiva, comparável a campanhas milionárias, mas com maior autenticidade.
Adidas na Copa do Mundo de 2022, Manchester United e Vasco
Essa estratégia não é isolada. Em 2023, o Manchester United levou a estreia de seu uniforme para um dos maiores palcos culturais do Reino Unido, o Festival de Glastonbury, que reuniu mais de 200 mil pessoas naquele ano (e mais de 23 milhões assistindo pela BBC). No show do rapper Aitch, torcedor fanático dos Red Devils, o uniforme foi revelado no exato momento em que o artista iniciava “1989”, música baseada em um “sample” dos Stone Roses, banda também de Manchester. O gesto transformou o lançamento em uma celebração coletiva, reforçando o vínculo entre clube, artista e comunidade.
A própria Adidas já havia usado essa estratégia na Copa do Catar, “escondendo” uniformes em lugares ligados à cultura de cada país: mangás no Japão, barbearia na Argentina, taquería no México, etc. Por meses, deixou que a conversa fluísse sem qualquer anúncio oficial.
Em junho deste ano, o Vasco também apostou na estratégia: a nova camisa surgiu no show do cantor Luccas Carlos, no Rio de Janeiro (RJ), e virou tema de debate nas redes sociais dias antes da apresentação oficial.
O ponto central, no entanto, está na escolha dos personagens. Nos dois primeiros casos citados, tanto Coringa quanto Aitch são de fato torcedores dos clubes, o que dá legitimidade à narrativa e transforma o “furo” em algo crível para os espectadores.
A lógica desse tipo de lançamento atende a diferentes frentes: disputa pela atenção da Geração Z, ampliação orgânica de distribuição e criação de identidade. Ao usar personalidades locais, com alcances nacionais e famosos em outras atuações, os clubes expandem sua presença para outros territórios (geográficos e culturais). Em festivais, “streams” ou redes sociais, cada camisa se transforma em um símbolo de identidade e espetáculo, aproximando os clubes da cultura pop para gerar conversas e conexões.
O conteúdo desta publicação foi retirado da newsletter semanal Engrenagem da Máquina, da Máquina do Esporte, feita para profissionais do mercado, marcas e agências. Para receber mais análises deste tipo, além de casos do mercado, indicações de eventos, empregos e mais, inscreva-se gratuitamente por meio deste link. A Engrenagem conta com uma nova edição todas as terças-feiras, às 9h09.
https://maquinadoesporte.com.br/futebol/para-que-servem-os-cada-vez...
