Os formadores de opinião da moda, ao contrário, não deveriam se tornar os embaixadores da época que eles próprios impulsionam a cada temporada, em vez de serem defensores de um visual minimalista?
Embora o questionamento possa parecer fútil à primeira vista, uma simples olhada na aparência dos grandes nomes da moda é suficiente para legitimar sua relevância.
Mas, olhando mais de perto, descobre-se que a grande maioria das mentes criativas da moda segue essa tendência.
Do elegante terno preto de Tom Ford ao visual casual totalmente preto de Riccardo Tisci, passando pela gravata borboleta colorida do saudoso Alber Elbaz ou o uniforme neo-escolar de Thom Browne, a maioria dos diretores artísticos das grandes casas de moda parece usar o mesmo uniforme todos os dias.
Pretinho básico
O único denominador comum entre todas essas escolhas de roupas? Uma inclinação quase instintiva para o preto monocromático, um sentido matador de acessórios e uma ode ao minimalismo que quase nos faz esquecer que todos esses visuais são perfeitamente idênticos. E isso não é uma ilusão.
Entre os designers de moda, um visual simples para uma mente tranquila. Karl Lagerfeld revelou desde 2011 ao The Independent que possuía mais de 1000 camisas idênticas.
Tommy Hilfiger explicou recentemente ao The Times que seu guarda-roupa é composto por 50 camisetas brancas, 50 calças chino, 50 jeans e 25 pares de tênis brancos, tudo combinado com ternos cinza e azul e sapatos pretos ou marrons. "Meu visual é meio entediante!" brincou ele.
O mesmo sentimento vem de seu colega Michael Kors, que deu à Time a razão de seu eterno visual preto, combinando um paletó, camiseta combinando e calças.
"Eu passo minha vida pensando no que todos deveriam vestir. Portanto, a última coisa que quero pensar é no que devo vestir de manhã", disse ele à mídia, enfatizando que ter uma roupa na qual se sinta confiante e confortável é uma verdadeira mudança de jogo nesta profissão.
Quanto a Tom Ford, ele simplesmente confessou não ter energia para imaginar novos trajes audaciosos todos os dias. "Muitas vezes sinto que estou vestido como se trabalhasse em uma loja, mas não tenho forças para criar um novo estilo. E eu sei que é isso que me convém", observou na Vogue US.
"O preto é ao mesmo tempo modesto e arrogante. O preto é preguiçoso e fácil - mas misterioso. Mas, acima de tudo, o preto diz o seguinte: 'Eu não te incomodo - não me incomode'", filosofou Yohji Yamamoto.
Essa posição lembra a de Martin Margiela, que, ao escolher a blusa branca como seu uniforme de trabalho final, reforçou seu conceito único de um estilista anonimizado, cuja presença fantasmagórica deveria desaparecer em favor de uma peça de roupa em seu estado puro, bruto e completo.
A vestimenta do poder
Para a jornalista britânica Jackie Mallon, essa escolha da uniformidade também pode ser explicada por uma tentativa - mais ou menos bem-sucedida - de encarnar autoridade e atemporalidade em uma indústria do efêmero, onde apenas uma presença de ordem estatutária promete uma certa forma de longevidade.
"Isso lhes dá uma estatura digna de um guru de estilo de vida que reinará sobre seus seguidores de maneira completamente altruísta", escreve ela, sugerindo também que esse uniforme lhes permitiria adotar - não sem ironia - uma postura operária herdada daqueles que trabalhavam então em oficinas de confecção, menos marcadas pela excentricidade do que pela excelência.
Historicamente, os homens são aqueles que introduziram a ideia de um uniforme de trabalho, com sua principal inspiração sendo aquela que deviam usar no exército como sinal de pertencimento à mesma corporação.
Foi apenas com a ascensão deles a cargos de poder – econômico e/ou político – que as mulheres puderam fazer o mesmo, até então obrigadas a incorporar as tendências de seu tempo.
Foi assim que Gabrielle Chanel, Vivienne Westwood ou mais tarde Phoebe Philo se destacaram com visuais únicos que obviamente contribuíram para sua fama na cena da moda, assim como personalidades não criativas na indústria, como Anna Wintour ou Suzy Menkes.
Ou quando o hábito faz o monge, em um ambiente onde as aparências são obviamente soberanas.
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