Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Mais de três-quartos do vestuário que os consumidores entregam nas lojas de moda para programas de segunda vida acaba destruído, abandonado em armazéns ou enviado para África, de acordo um estudo da Changing Markets Foundation.

[©Changing Markets Foundation]

A associação sem fins lucrativos colocou dispositivos de rastreamento Apple AirTags para seguir 21 peças de vestuário em perfeitas condições de reutilização, incluindo casacos, calças e saias, que entregou em lojas da H&M, Zara, C&A, Primark, Nike, The North Face, Uniqlo e M&S na Bélgica, França, Alemanha e Reino Unido ou enviou para o programa de recolha da retalhista online Boohoo.

Apesar dos slogans que estes programas advogam – “Dê às suas roupas uma segunda vida” na C&A, “Vamos fechar o ciclo” na H&M e “Vamos completar o círculo” na The North Face –, 16 das peças entregues (equivalente a 76%) foram destruídas, abandonadas em armazéns ou exportadas para África, onde até metade do vestuário usado é rapidamente desfeito para outros fins ou deitado fora.

A maior parte destes programas comprometem-se explicitamente a não destruir vestuário que pode ser reutilizado, mas, segundo a associação neerlandesa, nenhuma das marcas referidas mantém registos públicos sobre o que acontece ao vestuário que lhes é doado, passando simplesmente as doações para empresas especializadas na reutilização, reciclagem e tratamento de fim de vida de vestuário.

A Changing Markets Foundation, que no estudo detalha a informação sobre as peças doadas, incluindo composição e imagens, revela o percurso completo de cada artigo. Por exemplo, umas calças doadas à M&S foram desfeitas em menos de uma semana, umas calças de fato de treino entregues na C&A foram incineradas numa cimenteira e uma saia colocada num contentor de uma loja da H&M viajou 24.800 quilómetros de Londres para uma lixeira no Mali. Três peças acabaram na Ucrânia, onde as regras de importação foram aliviadas devido à guerra e apenas cinco peças foram reutilizadas na Europa ou acabaram numa loja de segunda-mão.

«As promessas feitas pela H&M, C&A e Primark são mais um truque de greenwashing. A nossa investigação sugere que artigos em perfeitas condições são sobretudo destruídos, ficam encravados no sistema ou são enviados para o outro lado do mundo, para países que têm menos condições para lidar com a vasta torrente de vestuário usado da Europa. O esquema agrava a situação ao oferecer aos consumidores vales, descontos ou pontos para comprar mais vestuário, amplificando um modelo de fast fashion que está pejado de desperdício», sublinha Urska Trunk, gestora de campanhas da Changing Markets Foundation.

Criar metas na UE

A associação realça que não investigou programas de recolha em lojas fora da Bélgica, França, Alemanha e Reino Unido, mas acredita que o baixo valor dos artigos de fast fashion significa que a maior parte do vestuário recolhido na Europa neste tipo de programa tem provavelmente o mesmo fim.


Margem do rio de Nairobi (Quénia)[©Changing Markets Foundation]

A Changing Markets Foundation considera ainda que esta investigação mostra as falhas na legislação europeia que está a ser negociada, que, segundo indica, não impede um tratamento desadequado do vestuário recolhido. A associação considera que é necessário incluir metas obrigatórias de reutilização e reciclagem, um imposto sobre têxteis sintéticos e padrões para o design de vestuário mais sustentável.

«A legislação da UE é uma oportunidade de ouro para melhorar os programas de recolha de vestuário usado na Europa. Mas o Parlamento Europeu e os estados-membros têm de reforçar a proposta da Comissão Europeia. Devem estabelecer objetivos de reciclagem e reutilização para acabar com o tipo de tratamento desadequado do vestuário que a nossa investigação descobriu e concordarem numa taxa elevada sobre o fim de vida do vestuário para realmente impulsionar a produção para vestuário de melhor qualidade e com maior durabilidade. Como a fast fashion está viciada em fibras baratas à base de plástico, também deviam taxar essas fibras», acrescenta Urska Trunk.

https://portugaltextil.com/pecas-entregues-nas-lojas-acabam-destrui...

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