Não pode haver maior ambição, muitos dirão, que pretender definir, especialmente em um texto tão curto, toda a complexidade de tramas que compõem o tecido da moda. Etimologicamente, texto e têxtil compartilham a mesma origem latina: a palavra “texere”. Ao microscópio revelam-se redes de fios interligados e interdependentes.
A imagem de uma teia, cuja existência é intimamente ligada à lógica de sua estrutura de conexões, aplica-se tanto à noção de um texto quanto à moda e sua lógica sistêmica, em que toda uma rede de ações e fazeres envolvendo múltiplos setores e profissionais dos mais diversos, forma essa entidade complexa e plural que é a moda enquanto sistema.
O pertencimento ao sistema da moda que inclui, entre suas fases, a apresentação pública de novos produtos em desfiles, feiras, lookbooks, showrooms e catálogos, empresta à marca ou designer participante o selo de institucionalização a que tantos aspiram. Afinal, em lugares como São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Fortaleza, para citar somente o Brasil, as semanas de moda de fato servem como plataforma de visibilidade para novos talentos e contribuem para a difusão de uma cultura de moda em nosso país.
:: A moda como sistema é uma das possíveis definições da moda
A moda como um fenômeno que perpassa a cultura contemporânea e a determina singularmente é outra significação que o termo moda pode assumir. Um conjunto de máscaras e encenações que se sucedem infinitas preenchendo um conjunto vazio, eternamente fadado a incompletude e indefinição, a moda extrai seu sentido da impossibilidade última de esgotamento.
Deseja-se o novo a qualquer preço, a surpresa definitiva, ainda que saibamos que se isso acontecesse de fato, a moda perderia seu sentido mais precioso, a condição mesma de sua existência.
A moda, portanto, vive por aceitar a morte decretada de tudo o que produz. Sua vida depende do abandono dos objetos que encarnam suas realizações. Ela, para ser moda nega a cada nova estação e a cada novo produto tudo que a traduz. O passado da moda importa só na medida em que representar material para o novo.
Devora-se, vomita-se todo o tempo na moda e o vômito é depois lambido e vira novo alimento, desprezado, perecível, abandonado, mas estranhamente revivido. Ciclo(s) da moda. Ela é aquilo que está para ser um dia e só essa ancoragem futura e adiada a define e seduz.
Ler o corpo da moda é como em um sonho. Salas de espelhos em que as imagens se desfazem a todo o instante, muito se vê e nada é definitivo. Matéria mesma do tempo em que tudo é permanente dissolução. A moda é memória: líquida, escorre, escapa, transforma-se fugidia.
http://finissimo.com.br/2013/03/01/pensando-o-que-e-a-moda/
Texto: Marco Antônio Vieira
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