Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A semana de moda paulista acontece em paralelo ao aniversário de 5 anos da tragédia do Rana Plaza.

No dia 24 de abril de 2013, mais de dois mil trabalhadores chegaram ao edifício Rana Plaza,  em Bangladesh, para trabalhar. O prédio estava tomado por rachaduras, eles pediram para voltar para casa, mas receberam respostas negativas dos fiscais do local. Antes das 9 da manhã e em menos de 90 segundos, a estrutura desabaria, causando a morte de 1.134 pessoas.

O evento causou uma onda de perplexidade na moda que dura até hoje: a empresa fornecia roupas para gigantes da moda, como a Primark — o que não é muito diferente de outros impérios da moda. O desastre foi catalisador para o surgimento de movimentos globais em prol de uma cadeia mais justa como o Fashion Revolution,  que nasceu naquele ano e atua globalmente até hoje. Na mesma semana que a organização realiza eventos e palestras sobre como continuar transformando a moda e melhorar a vida dos trabalhadores, acontece o São Paulo Fashion Week. Mas nos corredores e backstages do evento, paira uma desconexão entre os temas.

As mudanças ainda não são profundas o suficiente para serem vistas tanto nas roupas quanto no imaginário dos consumidores. Mas como aponta a jornalista Lilian Pacce, a força do novo e a transformação de antigas perspectivas batalham, gerando mudanças: “As marcas que estão nascendo agora já nascem com essa pegada, elas já têm isso naturalmente. Existe uma outra visão de mercado e do consumidor, e as marcas que já estão aí precisam correr atrás, se mexer, procurando modos de produção mais sustentáveis, materiais, mão de obra. A moda é uma cadeia muito grande, é difícil porque é um mercado que terceiriza muito, é complicado rastrear todas as etapas, mas acho que de pouco em pouco vai. Várias marcas ja têm transparência. Começou com o e-commerce “Honest by” e hoje já existem várias”.

O mundo está cada vez mais próximo de entender que as roupas não brotam nas prateleiras das lojas. Compreender o funcionamento da cadeia da moda, principalmente seus processos de terceirizações e subcontratações, é o primeiro passo para que marcas, consumidores e governos sejam capazes de, juntos, transformar essa realidade. Perguntamos a alguns estilistas que apresentaram suas coleções nesta terça-feira no SPFW o que eles estão fazendo no intuito de colaborar para esse momento de mudança em que o ser humano que, de fato, produz a moda, é também levado em consideração e devidamente valorizado.

Fernanda Yamamoto

“Eu acredito que existe um longo caminho pela frente. Essa é a semana do Fashion Revolution, uma iniciativa incrível, que pode nos fazer enxergar o futuro com otimismo. Muita coisa mudou, se você pensar em como se olhava para essa questão há dez ou cinco anos, acho que estamos caminhando. As pessoas estão mais conscientes, elas querem saber de onde veio sua roupa, quem fez sua roupa, como foi esse processo. A minha marca é exatamente isso. Um ateliê sempre mostra quem faz as suas peças. Produzimos tudo localmente, na cidade de São Paulo, e priorizamos o trabalho manual”.

André Boffano e Samuel Santos, da Modem

“Trabalhamos com lugares certificados pela Associação Brasileira do Varejo. Temos este cuidado de ver onde tudo está sendo feito. Quando você preza pela qualidade do seu produto ele não pode ser feito sob qualquer condição”.

Fabiana Milazzo

“Quando a pessoa compra uma roupa barata, ela pode ter certeza que tem alguém pagando um preço bem alto por isso, já que é uma mão de obra injusta, mal remunerada e em condições sub-humanas de trabalho. Não existe milagre, não existe mágica. Não tem como você fazer um produto bom, pagar uma pessoa dignamente e essa roupa custar baratinho, infelizmente não existe essa mágica. Quando a pessoa compra o fast-fashion, ela tem que ter na cabeça que está comprando um produto feito com mão de obra tratada de forma desumana. A primeira coisa, quando a gente fala de sustentabilidade e responsabilidade social ,é se perguntar: ‘Onde essa roupa está sendo feita?’. ‘É o made in…?’.

O [documentário] True Cost  me fez chorar e ele me motivou a entrar em um projeto de bordadeiras. Eu trabalho com o handmade e por isso consegui ter esse envolvimento tão grande com as mulheres que bordam. Não é fácil de achar fornecedores, mas a gente tem que começar porque se existe essa demanda vão aparecer mais fornecedores. Se você quer eliminar ou reduzir o seu lixo, por exemplo, crie formas de reaproveitar. É uma responsabilidade individual. Cada vez mais, as pessoas querem saber o que tem por trás da marca e quanto mais a empresa é transparente e mostra, mais o cliente cria um vínculo com isso, e eu faço questão de mostrar, por exemplo, quantas pessoas fazem uma roupa. No exterior as pessoas valorizam isso, ainda temos muito para caminhar por aqui. Estou tentando fazer minha parte. Não consigo fazer a coleção ainda 100% sustentável, mas pelo menos 30% já é.”

Amir Slama

Hoje as pessoas não descartam roupas das temporadas passadas, elas usam roupas de até cinco anos atrás misturando com outras coisas porque temos uma crise financeira, mas também social e emocional. Acho que o estilista, principalmente aquele que usa o seu nome, tem que saber quem está trabalhando, costurando. Roupa é energia. Se você tem uma coisa que não é muito apaixonada por quem está fazendo, fica difícil”.

Reportagem feita com conjunto por Gabriel Monteiro, Giulia Tani, Julia Mello, Nathalia Levy e Pedro Camargo

https://elle.abril.com.br/moda/perguntamos-no-spfw-como-fazer-uma-m...

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