Uma pesquisa feita em Campinas (SP) com roupas íntimas - calcinhas, cuecas e sutiãs - encontrou 10 mil bactérias e fungos nas peças usadas, após várias lavagens, e contaminação também nas novas, recém-compradas. O risco para a saúde vai desde alergias até infecções graves e incontinência urinária.
O estudo, feito na Faculdade Devry Metrocamp, analisou 52 peças, sendo 27 novas - com contaminação em 85% por bactérias resistentes -, e 25 usadas - com risco de doenças em 92% delas. Mulheres e homens entre 20 e 55 anos participaram do estudo. Para idosos e crianças, os itens novos integraram as amostras e também geraram preocupação.
"A gente analisou o forro, a parte que fica muito mais em contato com o ânus e a região vaginal ou peniana. [...] Se a pessoa já tem uma predisposição, fez uma cirurgia ou está com uma ferida, pode desenvolver dias depois um desconforto. É uma irritação, uma ardência e isso pode levar a um quadro de infecção mais grave", afirma a doutora em ciência de alimentos, bióloga e pesquisadora Rosana Siqueira.
A falta de higienização correta foi a grande vilã da pesquisa. Nas calcinhas e cuecas usadas foi encontrado o maior número de micro-organismos - até 10 mil - responsáveis por causar corrimento, dor, febre, alergia, ardência, irritação na pele, infecções de urina graves, anais e penianas, além de inflamações.
Representam risco ainda maior para quem possui hemorróidas e fístulas anais, em mulheres e homens."Mais de mil [micro-organismos] já é preocupante", diz Rosana.
"Algumas mulheres têm muitas queixas com infecções de urina recorrentes e, às vezes, o problema está na calcinha. O mesmo para os homens, às vezes se queixam de dor", afirma Rosana.
Nas peças novas vale o alerta para quem tem "preguiça" de lavá-las antes de usar, e também para quem as experimenta antes de comprar. A pesquisadora encontrou nas amostras de calcinhas, sutiãs e cuecas - compradas em lojas de shoppings e também em comércio de rua - até 250 bactérias resistentes.
"[Encontramos] Staphylococcus aureus, Staphylococcus saprophyticus e Candida albicans, que são micro-organismo que fazem parte da microbiota da maioria da população. Ou são provenientes do material utilizado, dos manipuladores, ou das pessoas que estavam ali para comprar. O novo não é sinônimo de segurança", diz Rosana.
O cuidado com os sutiãs é preciso principalmente nos casos em que a mulher amamenta - possui nos mamilos uma "porta aberta" com pequenas fissuras - ou passou por cirurgia de mama e está em fase de recuperação.
Os fungos e bactérias encontrados - entre elas a Escherichia coli - podem causar desde irritação na pele até furúnculo, inflamações nos mamilos, micoses e manchas.
"Quando esses microorganismos conseguem penetrar na mucosa, aumentam a quantidade e podem cair na corrente sanguínea e afetar outros órgãos. Pode ser que não aconteça nada, mas se o sistema imunológico está debilitado, pode ser prejudicial", ressalta a bióloga.
O ginecologista, obstetra e professor Carlos Tadayuki Oshikata, que atua no Hospital Celso Pierro da PUC de Campinas, alerta que, dependendo da paciente, as infecções urinárias podem atingir formas graves.
"Numa gestante, é a principal causa de trabalho de parto prematuro, em uma paciente idosa pode levar até a morte se ela for imunodeprimida", explica o especialista.
Oshikata relaciona o risco à falta de cuidado com a higiene da vagina, que possui proteção natural devido à sua acidez, mas fica vulnerável com o uso de roupas de material sintético e o abafamento da região, por exemplo.
"Isso faz com que haja uma proliferação de micro-organismos potencialmente patogênicos. A partir daí você vai ter uma infecção, que pode ser bacteriana ou fúngica. Uma vez que estabelece esse desequilíbrio na flora, vai predispor à infecção urinária", afirma o ginecologista.
No caso dos homens, o chefe da urologia da Hospital da PUC, André Meirelles, pontua que há risco de transmissão de doenças se houver compartilhamento das peças íntimas, principalmente se a pessoa é portadora de doenças sexualmente transmissíveis. Mas, a ocorrência é remota.
"Tem gente que não lava por dois, três dias. [...] No caso de hemorróida e fístula, tem sangramento, ter contato com o sangue de outras pessoas nunca é bom. [...] Uma roupa dessa tem que ser muito bem lavada, e se houve uma contaminação muito grande - sangramento, feridas com pus - tem que jogar fora", afirma o urologista.
Segundo Rosana, o ideal é que as roupas íntimas não sejam lavadas com sabão em pó ou outros produtos durante o banho, como shampoo, mas com sabão neutro. Também é importante não misturá-las com outras peças de roupa e, principalmente, não deixar dias no cesto aguardando a lavagem. A contaminação se alastra.
"A Escherichia coli , responsável pela maioria das infecções, dobra a população a cada 20 ou 30 minutos", afirma.
Na hora de colocar para secar, vale cuidar para que as peças não estejam do lado do avesso, pois correm o risco de serem contaminadas por insetos. Antes do uso vale, ainda, um "choque" de temperatura.
"A maioria dos micro-organismos não é resistente a altas temperaturas. Não usar ferro a vapor, por conta da umidade", completa a bióloga.
O ginecologista Carlos Tadayuki Oshikata ressalta, ainda, que a mulher deve se preocupar mais em manter a saúde da vagina como forma de proteção. Por exemplo, usar calcinha de algodão e até dormir sem calcinha, para manter o ambiente arejado.
"Em relação à higiene, mais em adolescentes e crianças pelo fato de não saberem se limpar, após a evacuaçãoo é comum a contaminação. A limpeza deve ser da vagina para trás", ensina.
Por Patrícia Teixeira
https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/pesquisa-em-roupas-...
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Esta informação é realmente muito importante, e tenho certeza que poucas pessoas sabem ou quase nenhuma sabe deste problema.
Para que esta informação fique mais completa está faltando informar qual o tipo de produto químico que pode ser utilizado na lavagem diária para combater ou eliminar estes fungos e bactérias.
A Metrocamp poderia dar esta informação, ou melhor fazer uma divulgação através das mídias, para que principalmente as dona de casa possam ter acesso as estas informações.
Estudos como este são feitos e refeitos com constância e, parecem cada vez mais precisos.
Só fica um "gap" de informação sobre a matéria-prima quando se referem aos tecidos sintéticos e a recomendação cega do uso do algodão, pois, primeiramente, existem diferenças entre sintéticos no que se refere a absorção e transporte de umidade, sendo as microfibras de Poliamida perfeitamente adequadas ao trabalho em artigos Underwear e esportivos, pois, possuem boa absorção e excelente hidrofilidade; Poliéster não é recomendado, mesmo as microfibras.
Sobre o Algodão ser a fibra recomendada pelos médicos, acredito que estes precisem ser atualizados, pois, todos do têxtil sabem que esta fibra absorve muito bem a umidade, porém, não realiza o transporte (hidrofilidade), causando o acúmulo excessivo de umidade nestas regiões íntimas, que é o principal componente para o desenvolvimento de doenças.
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