Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Um novo estudo mostra que o ácido polilático (PLA) afinal não se degrada no mar, mantendo-se inalterado durante, pelo menos 14 meses. As conclusões levantam dúvidas sobre a designação de biodegradável habitualmente associada a este biopolímero.

[©Scripps Institution of Oceanography-Sarah-Jeanne Royer]

O estudo do Scripps Institution of Oceanography da Universidade da Califórnia San Diego, que foi publicado esta semana no jornal PLOS One, investigou a capacidade de biodegradação de têxteis naturais, sintéticos e com misturas de fibras diretamente no oceano.

As experiências levadas a cabo por Sarah-Jeanne Royer, autora principal do estudo, mostram que os têxteis de fibras naturais e à base de celulose se degradaram num mês, enquanto os que eram feitos de PLA e as fibras sintéticas em têxteis com misturas praticamente não mostraram sinais de degradação mesmo após mais de um ano submersos no oceano.

«Este estudo mostra a necessidade de haver testes padronizados para ver se os materiais promovidos como compostáveis ou biodegradáveis realmente se degradam num ambiente natural», considera Sarah-Jeanne Royer, que realizou estudo enquanto investigadora de pós-doutoramento no Scripps Institution of Oceanography. «O que se pode biodegradar num ambiente industrial não se biodegrada necessariamente no ambiente natural e pode acabar a poluir o ambiente e o mundo marinho», acrescenta, num artigo publicado no website da instituição.

Os bioplásticos são produzidos a partir de recursos naturais renováveis como milho ou cana de açúcar e têm sido publicitados como uma potencial solução para o problema do plástico. O PLA é um desses biopolímeros, habitualmente apresentado como biodegradável e compostável. A equipa de investigadores escolheu esta matéria-prima exatamente pela sua utilização abrangente como substituto de materiais à base de petróleo.


[©Scripps Institution of Oceanography-Sarah-Jeanne Royer]

Para a experiência, foram colocados 10 tipos de têxteis com fibras diferentes, incluindo celulose à base de madeira (liocel, modal e viscose), celulose natural (algodão virgem orgânico e não-orgânico), o bioplástico PLA, sintéticas, nomeadamente tereftalato de polietileno (PET) e polipropileno, e misturas de liocel com poliéster e polipropileno.

As amostras foram colocadas em contentores onde podiam flutuar, que foram posicionados tanto à superfície da água como a aproximadamente 10 metros de profundidade, e foram analisadas a cada sete dias, sendo fotografadas e retiradas pequenas peças de amostras duplicadas para análise posterior no laboratório. O processo durou 231 dias à superfície e 196 dias na profundidade de 10 metros.

Após a conclusão da experiência no oceano, as amostras foram transportadas para o Experimental Aquarium no Scripps Oceanography, onde foram expostas a condições controladas de água do mar em movimento.

Fibras naturais destacam-se

Enquanto os têxteis de base celulósica se desintegraram repetidamente em 30 a 35 dias, os de matérias-primas sintéticas e biopolímero não deram sinais de desintegração mesmo depois de um total de 428 dias.


Desintegração dos materiais – Figura 1 do estudo [©Scripps Institution of Oceanography]

«Os materiais naturais celulósicos desintegravam-se em cerca de um mês, por isso trocávamos por uma nova amostra quando a anterior se desintegrava», indica a investigadora. «As amostras naturais celulósicas foram replicadas cinco vezes, enquanto os outros materiais se mantiveram os mesmos durante mais de um ano», acrescenta.

Adicionalmente, os mesmos tipos de têxteis foram testados por uma empresa independente num biorreator de sistema fechado, que replica o ambiente marinho. O dispositivo permitiu medir a percentagem de dióxido de carbono produzido pela atividade microbiana usando os têxteis como nutrientes, que foi depois usado para estimar a biodegradabilidade. Os materiais à base de celulose evidenciaram uma biodegradação total em 28 dias, enquanto as fibras sintéticas e biopolímeros não revelaram qualquer sinal de biodegradação.


Sarah-Jeanne Royer [©Scripps Institution of Oceanography-Sarah-Jeanne Royer]

«Este estudo comparativo destaca quão crucial é a nossa linguagem à volta dos plásticos», sublinha Dimitri Deheyn, biólogo marinho e autor sénior do estudo, que conta também com a coautoria de Francesco Greco, atualmente investigador no Weizmann Institute of Science, e Michaela Kogler, da Lenzing. «Um bioplástico como o PLA, que habitualmente se assume que é biodegradável no ambiente porque contém o prefixo bio, na verdade não é nada assim», acrescenta.

«Os consumidores que estão preocupados com a poluição por microplásticos devem ter noção dos materiais que estão a comprar», considera Sarah-Jeanne Royer. «Devemos tentar comprar menos vestuário, procurar opções mais sustentáveis e circulares que dão uma nova utilização aos produtos, como trocas de roupa», aponta. E «se precisa de comprar alguma coisa, opte por materiais naturais de elevada qualidade, como a lã, lã merino e matérias-primas à base de celulose», aconselha a investigadora.

https://portugaltextil.com/pla-nao-se-degrada-no-mar/

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