Projetado inicialmente como solução para um problema no desenho das roupas masculinas na Renascença, o codpiece, traduzido para o português como “peça escrotal” ou simplesmente “braguilha”, originalmente era somente uma solução para melhor posicionar o órgão genital masculino nas calças especialmente apertadas que a nobreza vestia nos séculos XV e XVI. Rapidamente, porém, a peça aplicada à frente das calças passou a ser vista como um símbolo de masculinidade, de poder e, na realidade, da obsessiva relação da sociedade patriarcal com o pênis em suas simbologias e representações.
Carlos V, Sacro Imperador romano e Arquiduque da Áustria, retratado por Ticiano em 1533, usando sua vistosa braguilha
O surgimento da braguilha se deu não somente para melhorar o desenho e o conforto das calças – que não eram projetadas com um espaço maior para acomodar o pênis e o saco escrotal masculino, fazendo com que o órgão ficasse apertado em um lado da calça – mas também para evitar o excesso de “exposição” provocado pelas medidas justas das peças de roupa de então. Aos poucos, porém, o tamanho da braguilha e mesmo a posição que ela sugeria para o pênis passaram a representar poder, fertilidade, tamanho e riqueza – reza a lenda que o rei Henrique VIII, da Inglaterra, costumava dizer que quanto maior fosse o codpiece, melhor.
Henrique VIII, pintado orgulhoso com sua braguilha
As armaduras de Henrique VIII também tinham grandes codpieces
A obsessão foi crescendo junto com a própria dimensão das braguilhas, ao passo que a peça que originalmente era somente um espaço maior na frente das calças passou a ser projetado em dimensões desproporcionais, chegando a aparecer com o desenho de um pênis de fato em algumas armaduras de metal, por exemplo – sugerindo uma ereção permanente em que a vestia para a guerra, em um prato cheio para análises simbólicas e psicológicas futuras.
Pier Maria Rossi di San Secondo com sua braguilha pintado por Parmigianino
-Macaroni, uma subcultura entre o queer e o drag na aristocracia inglesa do século 18
A peça, bem como o tamanho da peça, tornou-se febre entre os poderosos da Inglaterra durante o reinado dos Tudor, e só viria a perder sua importância e começar a cair em desuso com a chegada de Elizabeth I ao trono, em 1558. Ainda assim, elementos semelhantes até hoje surgem em figurinos e vestimentas ligadas a grupos, como em peças de teatro, espetáculos de balé, dentro da cultura leather e sadomasoquista, e mesmo entre alguns ramos mais estilizados do heavy metal.