A cada julho, o mundo volta seus olhos para o impacto silencioso – e persistente – do plástico em nossas vidas. O movimento Plastic Free July, iniciado na Austrália em 2011, propõe um desafio direto: repensar hábitos, reduzir excessos e buscar alternativas sustentáveis. Embora normalmente ligado a canudos, sacolas e embalagens, o problema vai muito além — está, literalmente, no tecido das roupas que usamos.
Boa parte do que vestimos hoje é feita de fibras sintéticas como o poliéster, resultado direto da indústria do petróleo. Essas fibras se escondem sob nomes técnicos, mas o dano que provocam é visível: todos os anos, bilhões de microplásticos são liberados nos rios e oceanos apenas com a lavagem das roupas. Invisíveis, eles invadem os corpos de peixes, tartarugas, aves e — mais recentemente se descobriu — até os nossos próprios órgãos.
Diante desse cenário, a escolha de tecidos passa a ser uma decisão ética. O algodão, uma fibra vegetal que se decompõe naturalmente, ganha protagonismo como alternativa viável e responsável. Não se trata de nostalgia ou idealismo: trata-se de dados. Segundo o International Cotton Advisory Committee, o algodão perdeu espaço no mercado global de fibras nos últimos anos, enquanto os sintéticos continuam crescendo em ritmo acelerado. O custo ambiental dessa curva é alarmante.
No Brasil, onde 80% da safra de algodão é certificada socioambientalmente, a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) vem liderando esforços para reverter essa lógica. Através de movimentos como Sou de Algodão, a associação busca conscientizar consumidores e estimular escolhas mais alinhadas com um futuro de baixo impacto. “Ninguém quer vestir petróleo”, afirma Gustavo Piccoli, presidente da Abrapa. “Quando escolhemos algodão, escolhemos um material que respeita o ciclo da vida.”
Além de biodegradável e renovável, o algodão cultivado no Brasil utiliza irrigação mínima e segue protocolos que priorizam o equilíbrio entre produção, meio ambiente e responsabilidade social. É um exemplo de que moda e consciência não precisam andar em lados opostos.
Em um momento em que até a ciência aponta a presença de microplásticos em tecidos cerebrais humanos, como revelado por uma pesquisa publicada na Nature Medicine em 2024, o debate sobre o que vestimos se torna urgente. Vestir algodão não é apenas um gesto de estilo ou conforto — é um manifesto silencioso por um planeta menos contaminado e por um corpo mais protegido.
Julho pode ser apenas um mês. Mas as escolhas que fazemos agora têm impacto que vai muito além do calendário. É hora de respirar novos ares — e vestir tecidos que fazem o mesmo.
https://abrapa.com.br/2025/07/24/por-que-o-algodao-e-o-futuro-da-mo...