Este mês, uma campanha da GAP e a polêmica em torno dela trouxe à tona o fato de que a Moda pode ser uma arma fundamental na guerra contra o racismo e o preconceito. Aconteceu o seguinte: a GAP resolveu lançar a campanha “Make Love” (“Faça Amor”, em tradução livre), nas ruas dos Estados Unidos, mostrando pessoas de diferentes etnias e culturas em um contexto romântico, provando que o amor não reconhece fronteiras.
Fotos da campanha de férias "Make Love", da GAP, onde pessoas de diversas etnias e culturas participaram juntas.
Em uma das fotos da campanha, o designer indiano (que mora em Nova York) Waris Ahluwalia, um Sikh, religião popular na Índia, está ao lado da ilustradora canadense (que mora em Londres) Quentin Jones, com os dizeres: “Waris Ahluwalia e Quentin Jones fazem arte #façaamor”.
Infelizmente, com base na sociedade em que vivemos, a foto, exposta em um banner no metrô nova-iorquino, acabou sendo vandalizada e o #façaamor virou #façabombas, seguido da frase “por favor, parem de dirigir táxis”. Em NY, uma parte da população dotada de preconceitos vê os indianos ou as pessoas que são percebidas como muçulmanas como apenas imigrantes que conseguem empregos que exigem baixo nível de especialização ou terroristas.
O editor sênior da publicação “The Islamic Monthly” e fundador do site “TheMuslimGuy.com”, Arsalan Iftikhar, publicou a foto do metrô em suas redes sociais e, por conta de sua popularidade e influência, a notícia se espalhou rapidamente, chegando aos olhos da própria GAP. “A moral da história é para provar que nós ainda não vivemos em uma América ‘pós-racial’, uma vez que minoridades como os Sul-asiáticos (ou outras pessoas mais escuras, mulçumanas ou árabes) não podem nem participar de campanhas de Moda sem receber comentários e apelidos sujos e racistas contra eles”, comentou no blog ‘The Daily Beast’”.
A Gap, por sua vez, respondeu ao tweet do jornalista pedindo para ele descobrir onde estava a foto que havia sido vandalizada e, em sinal de solidariedade e apoio, alterou instantaneamente a capa de seu perfil no Twitter, colocando a foto de do designer Ahluwalia. A rápida resposta da empresa e sua preocupação com a ação provou a muitos consumidores que a marca está do lado do povo e que se preocupa com as questões sociais.
O reconhecimento também aconteceu na comunidade Sikh, que demonstrou gratidão à Gap com a campanha “Thank you, Gap”, chegando a afirmar publicamente que colocar um modelo Sikh na publicidade ajudou a aumentar a visibilidade da comunidade pela população, que em sua maioria não tem noção sobre quem são essas pessoas, seus costumes e anseios.
Enquanto marcas como a GAP mostra que luta contra o preconceito, outras não fazem questão de se pronunciar à respeito e chegam a fazer exatamente o contrário, exaltando o racismo, como foi o caso da americana Abercrombie. Essa imagem negativa foi instantaneamente atribuída à marca depois que o CEO, Mike Jeffries, declarou que não vendia roupas em tamanhos maiores porque gente gorda não é “cool”. Jeffries disse ainda que deseja associar a marca a pessoas bonitas, com “boa atitude”.
Em resposta ao depoimento do CEO da Abercrombie, diversos protestos surgiram no mundo inteiro. Na foto, um tumblr foi criado por um brasileiro com o nome "Abercrombie Popular", que doava camisas da marca para moradores de rua, como uma espécie de campanha a favor da "democratização" das peças.
Todas estas ações nos fazem pensar quais marcas realmente cumprem todos os deveres sociais e quais estão preocupadas apenas em empurrar o produto aos consumidores. É muito importante, antes de consumir uma marca, buscar saber sua história, quais suas responsabilidades sociais, que imagem ela mostra à sociedade... Há muito tempo, as pessoas deixaram de comprar apenas o produto. Elas querem pagar por muito mais além disso, querem uma experiência de vida, um estilo que se encaixe perfeitamente no seu. E ninguém quer ter a sua imagem atrelada à outra negativa e preconceituosa.
A Moda realmente tem o poder de modificar a realidade a sua volta, servindo como principal mecanismo de quebra de fronteiras do mundo inteiro, aproximando culturas, costumes, pessoas e ideais.
http://www.profissaomoda.com.br/materias/2013/11/por-uma-moda-livre...
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Exemplar, a atitude da marca ao criar a campanha e ao responder com rapidez e precisão ao vandalismo e ao preconceito. As mídias sociais são como organismos vivos, e é preciso lidar com assuas reações com transparência, ética e inteligência.
Ou o tiro sai pela culatra, como no caso a Abercrombie.
O tempo passa, mas o ser humano muda numa velocidade bem menor.
Lembram-se dos outdoors da Benetton- Toscani a partir de 1984 e em 2011? A net possui a maior parte deles.
Eram bem mais ousados e claros. Anexo coloco duas e a da mais recente polêmica (que muitos que acham que são liberais e contra qualquer forma de preconceito irão se rebelar contra)
Num programa Canal Livre na cultura, na década de 90, o Toscani foi detonado por até publicitários que clamam contra preconceito atualmente ...quem lembra?
Estranho as críticas a Abercombrie.
Está falando o que é real. Ou vemos gente feia e gorda nos desfiles da SPFW ou nas passarelas de París, Milão, New York que todo mundo quer copiar? Ou você para vender sua coleção faz catálogos com gente pobre e feia; e ainda em nome da democratização abriria mão do lucro - que não é pecado - de um ano para que sua marca ganhasse a "massa" e fosse associada a uma marca de gente pobre?
Vá as lojas das grifes que são prestigiadas e badaladas e peça uma peça tamanho 50.
E convenhamos, não existe raça "gente bonita" e "gente magra" para ser classificada a declaração como racismo. Ser politicamente correto as vezes nos leva a erros de semântica.
Olhe viver numa sociedade onde você não pode dizer o que pensa, porque não é "politicamente correto" é viver numa ditadura velada. Ditadura democrática, onde a opinião da maioria não pode ser contrariada.
Não julgo ser ruim defender causas, mas desde que aqueles que as defendam vivam coerentemente com as causas que defendem.
Admiro a Anita Roddick, da Body Store. Enquanto viveu manteve seu discurso contra a ditadura da beleza alinhado com suas ações empresariais.
Quem é contra o que disse Mike Jeffries, faça seus desfiles com pessoas gordas e feias.
Agora ser contra e colocar manequins 38 e só rapazes atléticos desfilando e fotografando... no mínimo diz uma coisa e faz outra.
Ou então, bradar contra as declarações do CEO, e comprar roupas em lojas que prezam a beleza e status como marketing de marca...
É igual ao ecologista que não larga o carro na garagem e diz que é porque o transporte coletivo não presta.
Sabe o que falta hoje, muito mais do que justiça social e necessidade de direitos iguais? Faltam pessoas sejam autênticas com elas mesmas, que possuem coerência entre o que dizem, pensam e vivem.
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