Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

As empresas têxteis portuguesas têm estado empenhadas em criar e usar novas matérias-primas nos seus produtos, com inovações a surgirem ao longo de toda a fileira, da fiação à confeção, passando pela tecelagem e pelos acessórios.

É o caso da Inovafil, que tem usado cânhamo e urtiga para produzir fios com aplicação no vestuário, nomeadamente de desporto, uma vez que têm propriedades dermatológicas antialérgicas.


Pedro Martins (Inovafil)

«Trabalhamos bem misturas com urtiga e cânhamo. Depois temos alguns artigos mais na área da performance, que vamos trabalhando em colaboração com produtores europeus. A Inovafil, no fundo, é uma fiação que procura acompanhar os clientes no desenvolvimento de projetos, que são projetos à medida», afirma, ao Jornal Têxtil, Pedro Martins, responsável de mercado externo da empresa.

Dos tecidos aos botões

Já nos têxteis bidimensionais, a Somelos tem vindo a adotar algumas alternativas, como o tecido de viscose de caule de rosa que apresentou em 2018, com a possibilidade de encapsular o cheiro da mesma.


Paulo Melo (Somelos)

«Cada vez mais, o produto tem de ser sustentável em todas as vertentes. Usamos matérias-primas orgânicas, algodão BCI, etc. Tudo aquilo que hoje em dia é procurado, tentamos introduzir nos nossos artigos até ao seu exponencial máximo», garante Paulo Melo, presidente da Somelos.

A Riopele, por sua vez, tem apostado em projetos de investigação para desenvolver novas matérias-primas. Resultado do projeto R4Textiles, onde a empresa contou com a colaboração da Universidade Católica, do CeNTI e do CITEVE, a marca Tenowa representa tecidos sustentáveis fabricados a partir da reciclagem de subprodutos têxteis, incluindo ainda na sua produção desperdícios da indústria de carnes, através do pelo onde se extraí a queratina, da indústria de lacticínios, com a utilização do soro do leite extraído dos resíduos, e da indústria da seda, onde é obtida a sericina retirada dos casulos do bicho da seda. «A questão da sustentabilidade é um tema permanente na Riopele. Abordamos a sustentabilidade não só na perspetiva do produto em si, enquanto tecido, mas na sua globalidade. Na moda, como é sempre algo visto numa perspetiva do design e cor, torna-se importante acrescentar algo diferenciador, daí que há muito temos vindo a trabalhar nas propriedades funcionais dos tecidos», explica José Alexandre Oliveira, presidente da Riopele.


José Alexandre Oliveira (Riopele)

É nessa perspetiva que surgiu também, no âmbito do Texboost, um projeto liderado pela Riopele, em parceria com o CITEVE, o CeNTI e a Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, para conceber têxteis com propriedades multifuncionais, incluindo a capacidade de fazer desaparecer os maus odores, com recurso a um subproduto da indústria de laticínios. «Todos estes temas, em que estamos a falar da utilização de produtos naturais, resíduos, requerem uma quantidade de procedimentos, pois é fundamental a estabilidade na sua aplicação enquanto banho de acabamento, análises de resultados como seja a resistência da propriedade às lavagens sucessivas. É um ponto fundamental em todo o projeto», salienta o presidente da Riopele, que antecipa a integração destes têxteis nas próximas coleções.

Ainda na moda, mas nos acessórios, empresas como a Louropel têm revelado diversas alternativas aos materiais tradicionais. A produtora de botões, a maior da Europa, procurada por marcas como Hugo Boss, Ralph Lauren, Armani, Valentino, Kenzo e Massimo Dutti, mostrou no fórum de acessórios do iTechStyle, na mais recente edição do Modtissimo, botões feitos com madeira e osso natural, assim como versões com misturas com farinha de trigo, farinha de milho e fécula de batata, com serapilheira ou com casca de arroz. Os botões com papel reciclado têm ainda outros compostos de base ecológica. São «botões onde a resina de poliéster tradicional é substituída por uma resina bio, que contém cerca de 42% de produtos reciclados e de fontes renováveis, juntamente com poliéster termoendurecido reciclado, proveniente do processo de fabricação dos botões tradicionais e incorporando também papel reciclado», descreve a empresa.

Têxteis-lar acompanham


Ana Pinheiro (Mundotêxtil)


Xavier Leite (Têxteis Penedo)

Os têxteis-lar estão igualmente a incorporar novas matérias-primas para além do algodão nos seus produtos. A Mundotêxtil, por exemplo, está a usar fibras naturais que consomem menos água na sua produção, como cânhamo e kapok, assim como fibra de ananás. Uma tendência que está a ter procura no mercado. «Há, efetivamente, uma maior consciência e há muitas marcas e grupos empresariais que estão a trabalhar com uma mentalidade mais sustentável, ou seja, com metas traçadas, e, por isso, procuram certificações», assegura a administradora Ana Pinheiro.

Também a Têxteis Penedo tem estado ativa neste campo, tendo desenvolvido, em parceria com a Sedacor, fios de cortiça e algodão. O Cork-a-Tex, como foi batizado, recebeu mesmo o prémio de inovação da Techtextil e está atualmente a ser aplicado na produção de tecidos. Aliás, em 2020, Xavier Leite, presidente da Têxteis Penedo, colocou como meta «a implementação, a nível mundial, do tecido Cork-a-Tex. É o objetivo prioritário».


FONTEJORNAL TÊXTIL 266 (NOVEMBRO 2021)
https://www.portugaltextil.com/portugal-na-vanguarda-dos-materiais-...
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