As fantasias do Carnaval carioca, apesar de sua beleza, escondem um desafio ambiental que nem sempre é evidente: o que acontece com as toneladas de materiais após o encerramento da festa? O SENAI CETIQT, a partir do projeto de iniciação científica ‘Sustentabilidade em Cena’, mostra como esses resíduos podem ser transformados em novos objetos, promovendo a redução do impacto ambiental e renda para trabalhadores ligados à essa indústria.
Por meio de técnicas de upcycling, conceito que consiste em reaproveitar peças que seriam descartadas para a criação de um novo objeto, o projeto propõe a reutilização dos materiais descartados das fantasias e adereços, criando produtos como roupas, bolsas e itens de decoração. Sob a orientação de professores, em parceria com o Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular (NUSEC/ABIT), estudantes do curso de Design de Moda do SENAI CETIQT lideram esse processo, que une criatividade e responsabilidade ambiental.

Para a ex-aluna do curso de Design de Moda Luara Essinger, que fez parte do grupo de estudantes participantes do projeto, a experiência contribuiu para ampliar a sua percepção sobre os materiais:
“Acredito que a iniciação científica é importante para entendermos um pouco mais sobre as peças de Carnaval e quais são os tipos de tecidos usados que, em sua maioria, são artificiais. Então, aprendi muito sobre o ciclo da moda e como podemos utilizar insumos orgânicos de formas cada vez mais sustentáveis. Aprendi a ver a produção e o ciclo de vida de uma peça de maneira mais cirúrgica, no sentido de prestar bastante atenção em como é idealizado e produzido, comenta Luara.
Coleta, triagem e criação

O processo começa com a coleta e triagem dos materiais descartados, que são analisados, desmontados e organizados em uma teciteca e uma materioteca – bibliotecas de tecidos, aviamentos e outros insumos. Com esses materiais em mãos, os alunos dão início à criação de novos produtos, explorando diferentes técnicas de design e reaproveitamento.
Entre as soluções mais utilizadas estão o patchwork, técnica de costura que consiste em unir pedaços de tecido para criar uma peça, a estamparia manual e a modelagem criativa, que transformam o que seria resíduo em produtos únicos e comercializáveis. Além de estimular a criatividade, o projeto permite aos alunos lidar com limitações de recursos, algo essencial em um mundo que busca soluções mais sustentáveis.
Para a professora do curso de Design de Moda Cristiane Santos, que atuou como uma das coordenadoras desse projeto, o resultado depende da peça:
“Não é a gente que determina no que vai ser transformado o insumo. É o insumo que nos diz em que é possível transformar, porque a gente tem que desenvolver o que é possível com aquele material”, explica Cristiane.
Resultados para o meio ambiente
O impacto desse trabalho vai além das vitrines. Ao evitar que toneladas de materiais sejam descartadas em lixões, o projeto reduz a necessidade de produzir novos insumos, economizando energia e diminuindo as emissões de carbono. Além disso, ele se conecta aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente os que promovem educação de qualidade, trabalho decente e consumo e produção sustentáveis.
De acordo com a especialista em gestão ESG Camila Costa, que atua no Núcleo de Sustentabilidade e Economia Circular do SENAI CETIQT (NuSec), a promoção da conscientização e iniciativas como essa podem contribuir tanto com o meio-ambiente quanto com a renda de quem trabalha nos bastidores do Carnaval:

“Em 2024, foram recolhidas 24 toneladas de resíduos têxteis provenientes de fantasias nos desfiles da Sapucaí, sem contar os desfiles das escolas menores (séries prata e bronze) e de blocos de carnaval que ocorrem nas ruas. Projetos que promovem a reutilização criativa desses resíduos não apenas reduzem o impacto ambiental, mas também geram oportunidades de renda e inclusão social, especialmente para comunidades carentes”, comenta Camila.
Projeções

Com o sucesso das primeiras experiências na iniciação científica, Cristiane Santos ainda prevê a possibilidade de expandir o projeto, incorporando mais rigor científico e ampliando o impacto, mostrando como esse avanço também reforça o papel da educação no enfrentamento dos desafios ambientais e sociais:
“A ideia é sistematizar ainda mais o processo, criando manuais e registros detalhados para tornar o trabalho replicável em outras regiões ou até mesmo em outros setores”, destaca a professora.
O Carnaval do Rio de Janeiro, reconhecido oficialmente como manifestação cultural, é muito mais do que uma festa, é um símbolo de criatividade e diversidade. Transformar os resíduos desse evento em produtos sustentáveis reforça essa identidade cultural e mostra como a economia circular pode ser uma ferramenta poderosa para gerar soluções que beneficiem o meio ambiente, a economia e a sociedade.
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