Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

“Obscenidades e Fúria” estampou a capa do Daily Mirror numa manhã de dezembro de 1976, depois de uma entrevista do grupo Sex Pistols, em directo, num programa de TV de audiência familiar. O guitarrista, Steve Jones, exibia uma camiseta impressa com a imagem de um par de seios femininos nus, cheia de alfinetes e tachas. Tanto o apresentador, quanto o público ficaram indignados, para dizer o mínimo. Esse parecia ser o fenômeno mais transgressor na música pop, mas a história já provou que era mais do que isso.

Os punks de Londres eram jovens subempregados, entediados e enfurecidos, desanimados com suas perspectivas, num período de recessão na Inglaterra, e que se voltaram contra o establishment. A única resposta, para eles, era declarar guerra à hipocrisia dos britânicos de “bom gosto e boas maneiras”.

Num misto de Punk e Grunge, a Saint Laurent trouxe o dark novamente às passarelas, num look inspirado em Debbie Harry, vocalista do grupo Blondie.


Muito desta guerra se deu através de música e também da moda. Seu lema era “Não temos heróis” e seu credo era o DIY (faça você mesmo, na sigla em inglês). O caminho para o punk não podia ser consumido, mas criado e personalizado a partir de peças de brechó, e a estética mais emblemática do movimento foram os alfinetes e, é claro, as tachas.

O alfinete, um humilde instrumento de fixação, inventado em 1849 e por muito tempo associado às fraldas, já tinha um pouco de um passado contracultural. A drag queen Jackie Curtis havia enfeitado seus vestidos com alfinetes de segurança na década de 1960 e, no início dos anos 1970, o cantor e poeta Richard Hell, da banda Television, havia também adornado sua camiseta rasgada com eles e com tachas. Mas só depois que Johnny Rotten, do grupo Sex Pistols, entrou em cena com alfinetes pela roupa é que eles se tornaram o emblema oficial do movimento punk. Pobreza, Rotten disse, foi a origem de seus farrapos remendados. E os alfinetes tornaram-se um fetiche, um talismã.

O punk invadiu pela primeira vez a moda comercial quando a estilista inglesa Zandra Rhodes lançou um vestido de jersey de rayon preto com rasgos falsos, correntes e alfinetes, como parte de sua coleção Conceitual Chic de 1977. E, a partir daí, cruzou o oceano e invadiu continentes. Os grandes estilistas abraçaram a estética e fizeram o que se convencionou chamar de “punk de boutique”, ou seja, o punk despido de suas ideologias e só com pretensões estéticas. Hoje, alfinetes cravejados de strass ou brilhantes e tachas de todas as cores e formatos adornam jaquetas de couro preto, e jeans afunilados tornaram-se referências de design perenes e tão clássicos como um blazer azul, um mocassim ou um terno.

Look Givenchy - desfile Inverno 2014


A longevidade da estética é, ironicamente, ainda mais impressionante, levando em conta seus objetivos anarquistas originais e sua estética transgressora.

Hoje revisitado de maneira intensa, o movimento punk é motivo de exposição no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, nos Estados Unidos. A exposição “Punk: Chaos to Couture” (Punk: do Caos à Alta-Costura, em tradução livre), organizada pelo instituto de vestuário do museu, ocupa as galerias até 14 de agosto de 2013.

E os cabelos moicanos, as tachas e as jaquetas de couro ganharam espaço não só na moda de rua, mas também na alta-costura. Em alusão à exposição, a maioria dos estilistas usou referências ao movimento em suas coleções para o inverno 2014, tendo como inspiração grandes nomes que invadiram sete galerias do museu, como Vivienne Westwood, Alexander McQueen, Christopher Bailey (da Burberry), Martin Margiela e Gianni Versace, entre outros. Além da moda, a exposição homenageia o bar CBGB de Nova York, onde tocavam artistas como Blondie, Ramones e Patti Smith.

Cristina Sant’Anna é consultora, palestrante e ministra cursos nas áreas de design, marketing de moda e estratégias de posicionamento e imagem das marcas. Conduz workshops sobre tendências de moda e comportamento de consumo nos segmentos têxtil e de acessórios. É docente nos cursos de graduação e pós-graduação do Istituto Europeu di Design. Realiza pesquisa de tendências em âmbito internacional há mais de duas décadas. contato@cristinasantanna.com

http://pt.fashionmag.com/news/Punk-fashionista-e-exaltado-pela-moda...

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