Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A indústria têxtil e vestuário chinesa não tem tido a vida facilitada nos últimos anos, tendo em conta as acusações de trabalho forçado em Xinjiang e os efeitos da pandemia, que levaram ao encerramento de várias fábricas. No entanto, o fim do reinado da China na ITV ainda está longe.

China [©Xinhua/Song Weiwei]

Durante décadas, a China tem sido uma referência no sourcing de vestuário, graças aos custos baixos, uma mão de obra qualificada e à integração vertical da indústria. Contudo, aponta uma análise do Just Style, nos últimos três a cinco anos, o sourcing de vestuário tornou-se mais desafiante, não só por causa da pandemia de covid-19, mas também pelo aumento nos custos de transporte, atrasos nos portos e falta de motoristas nos transportes rodoviários do Ocidente.

Com termos como nearshoring e onshoring a surgirem frequentemente nas notícias e nos debates, com o apelo a uma produção mais próxima ou mesmo nos mercados dos EUA e da Europa, há quem arrisque dizer que o domínio da China pode estar a chegar ao fim.

A verdade é que, de acordo com os números do gabinete de têxteis e vestuário (Otexa) dos EUA, divulgados pelo Just Style, houve uma queda acentuada no sourcing da China de têxteis e vestuário de algodão nas comparações entre 2020 e 2021. Entre abril e setembro, os últimos seis meses para os quais há dados, a queda foi de 48% no vestuário de algodão e de 34% nos têxteis de algodão. Esta queda pode ser atribuída, em grande parte, ao escândalo à volta da produção de algodão em Xinjiang, na qual é usada, alegadamente, mão de obra forçada, que levou inclusivamente a legislação específica por parte dos EUA a proibir a importação de bens produzidos nesta região autónoma chinesa.

Alternativas à China

Neste processo de relevância da China nas importações mundiais de têxteis e vestuário, vários países têm assumido protagonismo. Segundo o Just Style, embora o Vietname e o Bangladesh estejam a aumentar a sua popularidade entre os compradores de vestuário – em parte por causa da localização, mas também pelo seu crescente foco na digitalização e em métodos de produção sustentável –, o seu peso é bastante inferior ao da China em termos de quota de mercado. Em 2020, a China tinha uma quota de mercado de 31,6%, refletindo já uma queda de 7% face ao ano anterior. O Vietname, que se assumiu como o segundo maior exportador mundial, detinha uma quota de 6,4%, equivalente a 29 mil milhões de dólares, em 2020, seguido do Bangladesh, com 6,3%, representando 28 mil milhões de dólares.

Além disso, há outras questões que entram em equação quando se fala em mover a produção da China para países como o Vietname. Para começar, são mais caros. De acordo com a análise do Just Style aos dados do Otexa sobre as importações americanas em 2020, o custo por peça de vestuário proveniente do Vietname foi de 3,31 dólares, em comparação com 1,79 dólares no caso dos artigos importados da China. Em relação ao Bangladesh, o custo por unidade foi de 2,76 dólares.

Outro entrave é o facto de países como o Vietname e o Bangladesh na verdade dependerem da China em termos de fios, fechos e outros têxteis e acessórios. Quando a China encerrou por causa do covid-19, outros países produtores tiveram igualmente dificuldades.


Vietname [©Vitas]

Para Bob Antoshak, consultor da indústria, o Vietname, «embora tenha feito grandes progressos para se tornar num grande fornecedor de vestuário, o seu crescimento está limitado pelo facto de apenas ter disponível um número limitado de trabalhadores, porque é um país pequeno», refere ao Just Style. Já o Bangladesh apresenta desafios ao nível da qualidade e instabilidade laboral.

Sheng Lu, professor associado de Estudos de Moda e Vestuário na Universidade do Delaware, nos EUA, acrescenta que ambos os países são atrativos para a produção em volume e para modelos básicos, mas os compradores deixam as encomendas relativamente mais pequenas e com uma combinação de produtos mais complexa na China, que tem ainda a vantagem de ter as matérias-primas têxteis dentro das suas fronteiras.

Outros potenciais países produtores, como Myanmar e a Etiópia, têm enfrentado problemas de instabilidade política, económica e social, enquanto no Camboja, a pandemia teve efeitos devastadores na indústria de vestuário, obrigada a parar frequentemente por surtos do vírus.

Nearshoring e onshoring mais perto?

Bob Antoshak acredita que o regresso da produção “a casa” irá demorar, até porque em países como os EUA, as infraestruturas industriais «desapareceram há décadas, quando o negócio do vestuário saiu para o exterior. Encontrar costureiras de qualidade, por exemplo, continua a ser um problema e vai demorar até ser criada uma força de trabalho decente. Contudo, existe uma boa força de trabalho no Hemisfério Ocidental, por isso o nearshoring continua a ser uma opção viável para muitos compradores que procuram diversificar o seu sourcing».

Além disso, «a produção têxtil, embora reduzida em comparação com o seu auge, continua intacta para fornecer as operações de confeção», acrescenta.


Etiópia [©World Business Council for Sustainable Development]

De acordo com o estudo State of Fashion 2022 da McKinsey e do Business of Fashion, várias empresas europeias duplicaram os seus esforços de nearshoring durante a pandemia, transferindo a produção têxtil da China para a Turquia para minimizar os atrasos.

Mais de 70% das empresas planeiam aumentar a sua quota de produção para próximo da sua sede e quase 25% pretendem aproximar a produção do país onde estão sediadas.

Mais abaixo, mas não fora de jogo

Ainda assim, a China deverá continuar a ter um papel importante no sourcing de vestuário. Em outubro de 2021, a China contava com uma quota de 41% das importações americanas de vestuário em quantidade e 27,1% em termos de valor.

E embora seja verdade que há uma tendência de diversificação de mercados, seria exagerado afirmar que os compradores ocidentais estão a abandonar completamente a China.

«A China continua a oferecer bom valor e qualidade e vai continuar a fazê-lo», sublinha Bob Antoshak. «Claro que o preço continua a ser um fator essencial para muitas empresas de sourcing. E o preço e a qualidade da China mantêm o país como o principal centro de aprovisionamento para vestuário a nível mundial», acrescenta.

Para o consultor, «o futuro da China vai ser fortemente determinado pela evolução da pandemia mundial, pela distribuição, pelo aumento dos custos de produção internos, pela continuação das taxas punitivas, pelo ataque do Ocidente em relação às questões laborais em Xinjiang e, por último, pelo sucesso dos países concorrentes mais próximos dos mercados de consumo».

Em resumo, «as exportações chinesas enfrentam muitas problemas correlacionados que podem ser questões de curto prazo, mas também barreiras de longo prazo à expansão do sourcing no país. Antes do Covid, as pessoas estavam a tentar mudar o aprovisionamento para outros países porque se tornou evidente que o sourcing estava muito concentrado na China. A pandemia acelerou essa mudança. A fricção política entre Pequim e Washington contribuiu também para isso, resultando em mais incentivos para as empresas de sourcing procurarem os seus produtos noutros locais», sustenta Bob Antoshak.


[©Port of Los Angeles]

«Não acredito que a China perca a sua posição como a maior fornecedora de têxteis e vestuário do mundo em 2022 a não ser que algo “grande” aconteça, como um conflito militar no mar do sul da China ou o encerramento forçado das fábricas por todo o país por causa do Covid ou da crise energética», acrescenta Sheng Lu. O professor lembra ainda que, além de fornecer os países vizinhos com matérias-primas essenciais à produção de vestuário, «as empresas chinesas de têxteis e vestuário estão a criar uma capacidade de produção mundial através do investimento direto estrangeiro, sobretudo sob a iniciativa Belt and Road [também conhecida como Nova Rota da Seda]», como está a acontecer em Marrocos.
https://www.portugaltextil.com/qual-sera-o-lugar-da-china-em-2022/?...
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