Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A designer Cris Barros, em sua flagship store, em frente ao Hotel Fasano, em São Paulo: "pessoas confiantes querem criadores com identidade."

Para a estilista Cris Barros, há sempre uma roupa certa para cada tipo de mulher. A afirmação, que pode parecer inofensiva, esconde boa dose de subversão - pelo menos nesses tempos em que a moda está cada vez mais global e a mesma saia plissada veste da colegial londrina à dona de casa paulistana. Cris tem ousado andar na contramão. Com sua grife que está completando dez anos, a criadora não se rende à massificação. Não por não acreditar nas vantagens competitivas do fast fashion, do qual, aliás, ela já provou e gostou. Mas por entender que, mesmo no ditatorial mundo da moda, sempre vai haver lugar para os desejos individuais - e infinitamente mais duradouros. "As pessoas confiantes querem criadores com identidade", diz a estilista. E ela está aqui para isso: vestir "com identidade" consumidoras que desejam peças requintadas (e podem pagar por elas), mas com certos detalhes subversivos que marquem sua presença no mundo. É o chique com pitada de punk, o clássico com irreverência.

Apesar de feliz com a própria escolha - a de investir no segmento de moda de luxo -, Cris admite que não tem sido fácil bancar coleções com matéria-prima sofisticada e design, ainda mais nesses tempos de crise mundial, quando o que vale é produzir rápido e barato. Vale lembrar que a balança comercial têxtil brasileira encerrou 2011 com déficit de USS 4,74 bilhões. E o desequilíbrio não se deu apenas por conta da importação de matéria-prima, mas também de roupas prontas.

Para piorar, a exportação deixou de ser uma boa opção de 2010 pra cá. A marca Cris Barros, que já foi vendida em 20 países, hoje investe unicamente no mercado interno. "Com a crise, as lojas estrangeiras passaram a pedir as peças em consignação", lamenta a estilista. Ou seja, o que não é vendido é devolvido. A consignação foi a fórmula encontrada pelas grandes lojas de departamento - e até por butiques menores - para prevenir eventuais "encalhes". Péssimo negócio para marcas que mantêm um cronograma rígido. "Quando a roupa é devolvida, a minha coleção já mudou e eu não tenho mais como vender aquela peça." Segundo Cris, em sua empresa, a "sobra" de coleção após a etapa de liquidação é de apenas 5%.

Vestido de seda da mais recente coleção da marca

Felizmente, o mercado interno tem sido receptivo. A grife Cris Barros produz 120 mil peças por ano, vendidas em quatro lojas próprias (três em São Paulo e uma no Fashion Mall, no Rio) e em 85 multimarcas. A cada coleção, as vendas no atacado crescem de 10% a 20%, sem alteração no número de lojas revendedoras, frisa a designer. O crescimento da empresa, como um todo, tem sido de 100%, nos últimos quatro anos. "São 400 itens por coleção", afirma Cris, que cuida da criação da coleção e do marketing pessoalmente. As outras áreas, como administração, vendas e produção, ficam a cargo dos outros dois sócios, a irmã Daniela e o cunhado Luiz Felipe Verdi. Foram eles, aliás, que permitiram à estilista estruturar a empresa para um crescimento sem tropeços. "Nunca metemos os pés pelas mãos. Cada nova loja aberta é acompanhada de toda uma reorganização da empresa. Não dá para sair abrindo lojas de qualquer maneira", afirma Cris, que abriu sua primeira loja em 2002, na rua Oscar Freire, com o nome de Wardrobe.

Atualmente, a companhia mantém uma fábrica de cerca de 1.300 m2 na Vila Olímpia, em São Paulo. Lá é feita toda a parte de criação e corte das peças. A etapa da costura é terceirizada. Ao todo, são 170 funcionários. Além da coleção para mulheres adultas, Cris criou a linha Mini, para meninas. No ano passado, Cris lançou uma coleção especial para a Riachuelo. "Foi uma experiência muito boa, tive liberdade de pesquisar tecidos e uma equipe trabalhando só nisso", diz Cris. "Fiz algo impensável para o segmento de fast fashion: foram cinco provas de roupa para acertar cada modelo." E deu no que deu: em entrevista ao Valor, o presidente da Riachuelo, Flávio Rocha, declarou que a parceria rendeu filas nas portas das lojas, no dia do lançamento.

O projeto Riachuelo comprovou o que a estilista já sabia, instintivamente: a marca é objeto de desejo de vários perfis de mulheres. Cris Barros gosta de contar sobre o dia em que duas clientes estavam no provador experimentando a mesma blusa. "Uma delas era uma jovem DJ, supermoderna, que provavelmente comprava uma roupa minha pela primeira vez. A outra era uma cliente antiga e com o estilo mais clássico. Cada uma combinou a blusa à sua maneira", diz a estilista. Houve diferenças também no número de peças que cada uma consumiu (a cliente antiga comprou mais) e na forma de pagamento (a DJ parcelou). Mas as duas saíram satisfeitas, para a alegria da criadora. "É muito bom poder agradar pessoas de estilos diferentes", afirma.

Pensando sob a lógica estrita do atualmente mercado, não parece bom negócio abrir uma grife de moda, no Brasil. De acordo com especialista em varejo, 80% dos negócios ligados à moda não duram mais do que dois anos. Entre os problemas mais recorrente estão a má gestão de equipe e a falta de controle de qualidade, uma vez que a fabricação das peças quase sempre é terceirizada. Além disso, há a concorrência cada vez mais feroz dos grandes magazines, que firmam parcerias com estilistas para criar coleções "de autor", porém com o preço muito mais baixo. E, por fim, há a chegada ao país de mais lojas internacionais de fast fashion, como a Top Shop (leia abaixo), que abrirá loja no Iguatemi JK no mês que vem.

Apesar de não concorrerem diretamente em preço e estilo, é sempre um player a mais para disputar os mesmos consumidores. "Não me preocupa a concorrência do fast fashion porque me antecipei e, dentro da minha própria coleção, já há peças mais acessíveis, da linha Cris Barros Casual", diz a criadora. "Além disso, faço uma roupa que tem mais durabilidade."

Mas, se a qualidade e a durabilidade são importantes, no caso da grife Cris Barros elas são, talvez, o segundo e o terceiro ítens a serem levados em consideração pela consumidora. "Ela conseguiu uma coisa que é rara que é a assinatura de um estilo", diz a consultora de imagem Paula Martins. É inegável que a própria imagem da criadora - de moça com sólida formação cultural (estudou no Dante Alighieri), bonita (foi capa da revista "Capricho") e, hoje, empresária bem-sucedida - ajudou no marketing da grife. "Para começar, ela é uma estilista mulher num segmento que é dominado por homens", diz Paula. "E acredito que, sim, no começo, as clientes que consumiam suas roupas espelhavam-se nela como modelo. Mas, se fosse só isso, a marca não teria perdurado." Foi a estruturação do negócio e a persistência na qualidade, de tecido, corte e acabamento, que fez a diferença, acredita a consultora.

Ainda assim, a estilista segue conquistando fãs, entre elas, muitas meninas que vestem a linha infantil Cris Barros Mini. É a própria estilista que conta uma história engraçada: durante o lançamento de coleção da linha Mini, uma cliente mirim aproximou-se da estilista, puxando uma amiga pelo braço. Diante do ar de surpresa da amiga, a menina disparou: "Viu, eu não disse que a tia Cris existia mesmo?".

Fonte:|http://www.valor.com.br/cultura/2607886/quando-roupa-encontra-mulhe...

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