Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Nos EUA, os mais gordinhos se queixam: não há roupa “de marca” para eles. O que isso diz sobre nossa sociedade?

Há oito anos, aproximadamente, foi aprovada na Província de Buenos Aires, Argentina, uma lei que obrigava fábricas e lojas de roupas a produzir e comercializar peças de ampla numeração, atendendo, assim, tanto consumidores magros quanto obesos
. A obrigatoriedade deveu-se a uma suposta tendência de fabricantes e lojistas locais em comercializar somente roupas de tamanho diminuto, destinadas àquelas pessoas ajustadas ao padrão estético que valoriza a magreza. As conseqüências dessa prática estariam sendo socialmente nefastas, segundo alguns especialistas argetinos ouvidos à época: altas taxas de transtornos alimentares, principalmente entre adolescentes, e elevada incidência de cirurgias plásticas estéticas - ambas representativas de um sofrimento psíquico compartilhado por boa parte da população, especialmente as mulheres.  

plus-size-modelos-350Não sei que fim levou a tal lei argentina, se foi revogada, cumprida à risca ou simplesmente ignorada. Mas lembrei dela dia desses, ao ler uma matéria da Associated Press dando conta de que, nos Estados Unidos, embora o peso médio da mulher americana tenha aumentado 11 quilos desde 1960, as numerações maiores ainda não constituem um mercado expressivo no setor de vestuário. Contribui para isso o fato de que marcas mais prestigiadas, ou “grifes”, como se diz no jargão da moda, limitam seus modelos a tamanhos pequenos e médios, pouco chegando ao G e, principalmente, ao GG, na intenção de evitar associar suas peças a consumidores “menos saudáveis”, por assim dizer. Dessa forma, tem restado aos americanos mais cheinhos vestir-se fora das últimas tendências da moda, uma vez que são as tais grifes que definem os padrões que irão vigorar em uma determinada estação.

Mas qual o problema de não haver roupas de marca para os mais gordinhos? Qual a consequência de só as pessoas magras estarem na moda?

Do ponto de vista prático, nenhuma. Se a ninguém faltar o que vestir, pouco importa o que seja “in” ou “out”. Mas sob o aspecto cultural, há um significado importante.

Afinal, tanto Argentina quanto Estados Unidos são economias de mercado. E o liberalismo postula que o mercado é a melhor síntese das necessidades e dos desejos humanos. Crê, em outras palavras, que reside na livre iniciativa e na desregulamentação estatal a única forma de progresso material possível, pois tudo o que a sociedade demanda e se mostra economicamente viável, é produzido. Assim, garante-se não só o progresso material, mas também a democracia na realização dos desejos de cada um: se estes encontram eco em outros indivíduos, é porque são, de alguma forma, coletivos; sendo coletivos, serão atendidos pelas empresas. Os agentes produtivos respondem à sociedade, e está aí a virtude democrática e a legitimidade social e moral do mercado: só se sustenta se atender aos anseios coletivos.

Só que o sistema não produz apenas bens, como também imagens, ideias, ideologias, cultura. E é nesse conjunto todo que o sistema deve franquear participação, segundo a lei argetina e o pensamento de parte dos americanos. Estar na moda é um atributo simbólico relevante na sociedade forjada pela economia de mercado.

Que fim levará essa discussão? Não se sabe. Mas seu surgimento já é uma prova da vitalidade dos debates culturais relacionados ao consumo.

http://www.amanha.com.br/index.php?option=com_content&view=arti...

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