Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A indústria da moda movimenta-se para instigar consumidores a enxergar além das etiquetas de preço e tamanho na hora de comprar um item de vestuário e se conscientizar do impacto de suas escolhas

 

Pôster da campanha ‘Who Made Your Clothes?’, do movimento Fashion Revolution.

Foto: Divulgação

 

Atire a primeira pedra quem disser que, quando vê numa vitrine uma roupa, calçado ou acessório que chame sua atenção, imediatamente o ponto focal se desloca para a etiqueta de preço. E, já dentro da loja, para a de tamanho. Quiçá uma espiada no tipo de tecido e nas instruções de lavagem. Mas e o restante das informações que essa peça carrega em sua etiqueta de fabricação importa para você?

A moda, de forma geral, tem o poder e o dom do encantamento, de fazer as pessoas se enxergarem e se imaginarem de um jeito que transmita pinceladas de sua personalidade ou de como gostariam de ser vistas pelas outras. Há uma projeção, uma transmutação. Então, que tal nos aprofundarmos um pouquinho mais nessa troca além do nosso corpo? Já parou para pensar em quem faz suas roupas?

A globalização há muito tempo vem permitindo o intercâmbio de culturas, informações e também aproximando pensamentos. Isso é fato, aliás, totalmente saudável e interessante. Mas, ao mesmo tempo, por outro lado, fez com que os olhos que veem cifras em primeiro plano brilhassem com a possibilidade de explorar pessoas e recursos abundantes em outras partes do mundo, sem dar a eles o devido valor.

Um exemplo disso na indústria da moda foi o desastre ocorrido no dia 24 de abril de 2013, no edifício Rana Plaza, em Bangladesh. Seus oito andares, construídos e ocupados de forma totalmente irregular por prestadores de serviços de costura na parte superior e um shopping abaixo, ruíram matando cerca de 1.200 trabalhadores e deixando mais de 2.500 gravemente feridos. No dia anterior, grandes rachaduras na construção já haviam sido notícia na imprensa local, mas nenhuma providência foi tomada para evitar a catástrofe. Além disso, a forma degradante de trabalho a que eram submetidos, com jornadas desgastantes, ambiente insalubre, sem a mínima estrutura de segurança, e valores pífios pagos por peça costurada, era – e ainda é – a mina de ouro de grandes grifes de fastfashioninternacionais. A cena das vítimas entre os escombros com etiquetas de dezenas de marcas espalhadas é realmente chocante. E essafoi apenas mais uma ocorrência, infelizmente.

Com repercussão mundial, o caso Rana Plaza tornou-se um símbolo de pedido de socorro parao que acontece na indústria de vestuário, que, além de utilizar trabalho escravo, contribui com a poluição e a devastação de terras, alimentada pelo consumo inconsciente e desenfreado. Para marcar essa data, foi criado o movimento Fashion Revolution, em que designers, ativistas e jornalistas britânicos de moda sustentável se uniram na ânsia por mudanças. Encabeçado pela britânica Carry Somers e pela italiana Orsola de Castro, pioneiras em moda ética, o movimento ganhou notoriedade com o Fashion Revolution Day, comemorado pela primeira vez em 24 de abril de 2014, quando a tragédia em Bangladesh completou um ano, espalhando-se por mais de 70 países, inclusive o Brasil.

 

Edifício Rana Plaza, em Bangladesh, que desabou em 24 de abril de 2013 matando cerca de 1.200 trabalhadores da indústria de confecção.

Foto: Andrew Biraj/Reuters

 

 

“A ideia para o Fashion Revolution Dayveio a mim durante o banho”, explica CarrySomers. “Eu vi que o desastre com o Rana Plaza poderia atuar como um catalisador, com a conscientização em torno da moda ética fornecendo uma janela para trazer a mudança real. O Fashion Revolution Day representa uma excelente oportunidade para reconectar os amantes da moda com as pessoas que fizeram suas roupas”, reflete.

O movimento procura mostrar que, por trás de uma indústria que possui uma cadeia produtiva tão fragmentada como a moda, os produtores tornam-se praticamente anônimos, sem rosto, mas isso tem um alto custo, o de vidas, de pessoas no mundo inteiro sofrendo em condições subumanas para que você tenha uma roupa bonita ou barata, descartada após pouquíssimas vezes de uso, desde o plantio do algodão até o produto final, nas araras das lojas. E não estamos dramatizando, é uma verdade.

O braço brasileiro do Fashion Revolutionteve início em janeiro de 2014, por meio de Fernanda Simon, e foilançado oficialmente no SP.Ecoera. Hoje conta com colaboradores de diversos estados. De acordo com Bruna Miranda, responsável pela comunicação do movimento aqui no país, o Fashion Revolution atua no mundo com temas e abordagens desenvolvidos pelas fundadoras e pela equipe londrina, estimulando a conscientização e melhorias na área de moda como um todo, especialmente nas questões sociais e ambientais, com debates, mesas-redondas, palestras, desfiles, bazares, entre outras ações, seguindo a mesma temática de forma global. Mas Bruna salienta que cada país tem a liberdade de realizar atividades pertinentes ao que acontece em seu território e à sua cultura, mas sempre alinhadas ao pensamento da matriz. “No Brasil, trabalhamos bastante pela internet, especialmente pelo Facebook, enquanto nos outros países a atuação pelo Twitter é muito mais intensa. Nossos eventos reúnem profissionais das áreas criativas e de design e são um ponto expressivo da cultura de moda brasileira. Os simpatizantes da causa têm a liberdade de organizar eventos e manifestações diversas que coloquem a campanha e seus debates em evidência, da maneira que lhes for mais conveniente e interessante, dentro das premissas que defendemos”, destaca ela. Bruna conta que o primeiro Fashion Revolution Day, comemorado também no Brasil em 2014, foi marcado por manifestações online nas quais foram enviados releases da campanha aos principais veículos do país – de moda e notícias diversas –, o que rendeu uma grande repercussão, com pessoas enviando e compartilhando suas fotos com roupas vestidas do avesso, mostrando a etiqueta e questionando as marcas. “Quem Fez Suas Roupas?” foi a pergunta-tema da campanha em seu primeiro ano. Fernanda Simon, coordenadora brasileira, diz que,por parte do público, houve uma grande adesão, porém, por parte das empresas questionadas, a participação foi baixíssima. Algumas das marcas que apoiam o movimento no Brasil são Flavia Aranha, que trabalha com tecidos e tingimentos naturais; as estilistas cariocas Gabriela Mazepa, que trabalha com upcycling (reconstrução de peças), e Flavia Amadeu, que produz joias orgânicas feitas de borracha de comunidades da Amazônia; a Loja Mutações, também do Rio de Janeiro; a grife mineira Green Co.; o evento Ecoera, de Chiara Gadaleta, membro do time Fashion Revolution Brasil. No exterior, aparecem nomes de peso, como Bianca Jagger, as jornalistas Lucy Siegle e TamsinBlanchard, Livia Firth, Mary Portas, Jo Wood, o fotógrafo TrevorLeighton e as marcas Ellen Fisher, Sprit e G-Star Raw, entre outras.

http://www.costuraperfeita.com.br/edicao/30/materia/especial.html

Por Silvia Boriello

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  O movimento procura mostrar que, por trás de uma indústria que possui uma cadeia produtiva tão fragmentada como a moda, os produtores tornam-se praticamente anônimos, sem rosto, mas isso tem um alto custo, o de vidas, de pessoas no mundo inteiro sofrendo em condições subumanas para que você tenha uma roupa bonita ou barata.

   Além disso, a forma degradante de trabalho a que eram submetidos, com jornadas desgastantes, ambiente insalubre, sem a mínima estrutura de segurança, e valores pífios pagos por peça costurada, era – e ainda é – a mina de ouro de grandes grifes de fastfashioninternacionais.

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