Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Quem faz suas roupas? Qual preço é justo? Onde comprar? Perguntas e respostas sobre consumo consciente de moda

Foto: Ricardo Lage
Foto: Ricardo Lage


Não, nós não estamos falando do estilista ou da marca que está na etiqueta da roupa que você veste, mas, sim, da procedência. Você tem alguma ideia de quem, afinal, são os trabalhadores que confeccionaram a blusinha que você está usando? É justamente esse o primeiro questionamento que o Fashion Revolution propõe: que a gente desperte essa curiosidade para saber quem, afinal, costurou aquelas peças que vestimos.

– Muitas pessoas não têm a mínima consciência do que está por trás (do processo de confecção das roupas que vestem). Questionar, ser curioso e tentar descobrir é um primeiro passo – explica Cacá Camargo.

Quer tentar? Comece observando a etiqueta da roupa que você está usando. Foi produzida no Brasil? Ou em países onde há registros de trabalhadores em situação precária, como Índia, Bangladesh e Camboja? Dependendo da resposta, vale questionar – o vendedor, o gerente e até a própria marca nas redes sociais – sobre o modo de produção. A própria Cacá Camargo fez o teste: entrou em uma grande fast fashion internacional e buscou por peças que tivessem sido fabricadas em solo nacional. Não encontrou. Dirigiu-se ao gerente, que confirmou: tudo era produzido em “outros países”.

– Não é só pela sustentabilidade ou a questão ambiental, mas existe o ponto de vista econômico também. Precisamos potencializar nosso mercado – pondera Cacá.

Foto: Ricardo Lage

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Eu realmente conheço a marca que uso?

Ok, você já está habituada a verificar suas etiquetas. Mas o que fazer agora? A resposta é simples: buscar informação sobre as marcas que você veste. Ter a produção em solo nacional é um bom indício, mas não quer dizer que se trata, necessariamente, de uma marca ética. Para tirar a dúvida, uma pesquisa rápida no Google pode ajudar – afinal, casos de trabalhadores em péssimas situações de trabalho são cada vez mais denunciados pela imprensa. Outra opção é verificar o Índice de Transparência da Moda, lançado pelo Fashion Revolution, com uma análise das cem maiores marcas de moda em relação a políticas, práticas e impactos sociais e ambientais.  Há também uma infinidade de sites e perfis bacanas que se dedicam a debater moda ética – uma das sugestões de Cacá Camargo é o modefica.com.br e o aplicativo Moda Livre. Não custa lembrar: transparência é o novo preto!

Compro, logo… apoio?

Conforme passamos a mudar nossa forma de consumir, entendemos que o simples ato de comprar uma blusa pode ter um significado bem maior. Já parou para pensar que, se você compra de uma marca sem preocupação ambiental ou que esteve envolvida em denúncias de trabalho análogo ao escravo, está contribuindo para que estas práticas sejam perpetuadas? Para muitas pessoas, essa consciência desperta quando se fala em alimentação: a preferência pelos alimentos orgânicos incentiva a compra do pequeno produtor, por exemplo. Com a moda, o processo é parecido. Quando você passa a prestar atenção no que veste, é provável que acabe optando por comprar de marcas que se preocupem, de fato, com tudo o que envolve a produção de uma peça: da remuneração justa ao resíduos gerados.

– Começamos a mudar nossa forma de consumir e passamos a consumir em uma nova perspectiva, a de apoiar. Consumo de uma marca não só porque gosto dela ou do produto, mas porque acredito nesta marca. Quero apoiá-la porque acredito – afirma Cacá Camargo.

Foto: Ricardo Lage

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O preço que paguei é justo?

Quando se fala em moda ética e sustentável, não raro muitos consumidores reclamam dos preços da etiqueta.
– Ouço demais que moda sustentável é moda cara. E essa reflexão (sobre o que é caro e barato) é bem pessoal, mas necessária – pondera Cacá Camargo. – É complicado para quem não tem grana para se alimentar direito, por exemplo. Mas entendo que existem pessoas com condições e que não têm essa preocupação.

Quando pensamos no valor final de um produto, é preciso levar em conta que vários fatores entram na conta: mão de obra, marketing, design e, claro, matéria-prima. Neste escaninho, um dos materiais que demandam valores mais altos para o consumidor final é o algodão orgânico. Para se ter uma ideia, menos de 1% de todo o algodão produzido no mundo inteiro é orgânico (sem químicos ou transgênicos).

No Brasil, os números baixam para 0,01%, segundo dados divulgados pela C&A em 2016. Quer mais? Quando se fala de marcas com proposta sustentável, estão embutidos também os custos ambientais daquela peça, que vão desde os tecidos utilizados até o correto descarte dos resíduos. Sem contar que, nestes casos, é possível que a mão de obra tenha sido melhor remunerada, com o que é considerado justo. Analisando desta forma, fica mais claro o porquê de, em muitos casos, a marca sustentável cobrar mais por uma calça do que a fast fashion. O que não significa, necessariamente, que a fast fashion ignore esses valores éticos, vale ressaltar.

Foto: Ricardo Lage

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Onde, afinal, é legal comprar?

Apoiar a moda ética e sustentável não quer dizer que você precisa comprar somente em marcas com essa proposta. Muito menos que você deveria jogar fora todas as roupas de marcas não tão bacanas assim que estão no seu armário. Pelo contrário: o ideal é usar até o fim da vida útil daquela peça, para evitar ainda mais impacto e desperdício.

Nós, que amamos moda como você, sabemos bem: a roupa comunica nosso estilo e precisa refletir quem você é. E tudo bem se você ainda não encontra tudo o que precisa nas marcas sustentáveis, seja pelo estilo ou pelo preço. O importante é estar consciente dos lugares onde você compra – e, aqui, vale relembrar a dica de observar a etiqueta. Se você têm dúvidas, que tal perguntar no Instagram da marca como aquela peça foi feita? É exatamente essa uma das ações propostas pelo Fashion Revolution: para participar (e questionar), é só postar uma foto com a hashtag #QuemFezMinhasRoupas, marcar as grifes no seu post e aguardar o retorno.

– É superbacana receber esse feedback. E mesmo que a marca não responda, é interessante fazer isso porque ela vai entender que alguém está interessado em saber. Quando várias pessoas estão perguntando, não dá para continuar da mesma forma – avalia Cacá Camargo.

– É nosso papel como consumidor fazer esse questionamento.

Para quem busca alternativas mais em conta para se vestir, uma opção cada vez mais em alta são os brechós. Em Porto Alegre, por exemplo, rolam edições pelo menos uma vez por mês do Brechó de Desapegos, capitaneado por Natália Guasso.

De sites como o Enjoei! a grupos de desapegos no Facebook, passando pelos eventos de trocas de roupa entre amigas, comprar de segunda mão nunca foi tão legal. E, não custa lembrar: é possível garimpar achados incríveis! Cacá também indica iniciativas como as novas versões do aluguel de peças, os chamados “guarda-roupas compartilhados”. O primeiro deles inaugurado em Porto Alegre é a “roupateca” Réver: para participar, você assina um plano mensal e pode trocar os empréstimos quantas vezes quiser. 

GRANDES MARCAS ENTRAM NA ONDA

Não são somente as novas grifes que estão preocupadas com o processo de produção e os efeitos no meio ambiente. Talvez impulsionado por essa leva de marcas que trazem a sustentabilidade no DNA, grandes redes varejistas também vêm investindo em iniciativas mais conscientes em todas as etapas.

Pompéia
A rede de fast fashion foi a primeira do Brasil a utilizar sacolas em plástico verde, produzido em polietileno verde a partir do etanol da cana de açúcar. Todos os materiais utilizados para divulgação da marca, como banners e back drops, são reutilizados e passam a ser eco bags e nécessaires que são entregues a clientes em ações e eventos da marca.

Renner
A rede de lojas vem desenvolvendo peças confeccionadas com componentes menos impactantes ao meio ambiente, sempre identificadas com tags. Somente no ano passado, foram mais de 3 milhões de roupas produzidas a partir de matérias-primas como o fio reciclado, criado a partir de material têxtil e/ou plástico (PET); o liocel, fibra de origem renovável extraída da polpa de madeira; e o algodão certificado. Dentre outras iniciativas, há também o EcoEstilo, que disponibiliza coletores nas áreas de perfumaria.

Youcom
Com a iniciativa Jeans for Change, a marca busca incentivar o reaproveitamento dos jeans que você não usa mais. Você ganha desconto para comprar na loja, e a grife envia sua peça antiga para pequenas marcas e cooperativas as ressignificarem, em um processo atento à redução do uso da água e, claro, à reciclagem. Nas lojas, a Youcom conta também com uma coleção cápsula de jeans reciclado.

http://revistadonna.clicrbs.com.br/moda/quem-faz-suas-roupas-qual-p...

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