Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Quem é o cara por trás da grande guerra do tênis entre Nike e Adidas

Marc Dolce trocou a marca americana pela alemã em 2014, e está apenas começando a definir seu futuro.

Marc Dolce, um dos cabeças da Adidas na guerra contra a Nike (Foto: reprodução/instagram)

É impossível conversar da guerra de tênis entre Nike e Adidas - o período prolongado de competição agressiva entre as duas marcas - sem falar sobre Marc Dolce. De 2005 a 2014, Dolce foi o diretor global da Nike Sportswear, supervisionando suas divisões de futebol e basquete, e nesse tempo assinou designs como o Nike Lunar Force 1 (assim como versões atualizadas do clássico Air Force 1). Na indústria, ele é apenas um de um punhado de designers de tênis com um nome realmente reconhecível, acompanhando caras como Nathan Von Hook (o homem por trás do Nike Air Yeezy 2) e Tinker Hatfield, o padrinho de quase todos os modelos clássicos da Nike que já existiram. Mas quando ele decidiu deixar a Nike, sua saída foi caótica e conflituosa. 

Em 2014, ele e outros dois designers trabalhando na "Inovation Kitchen" da companhia pularam do barco em favor da Adidas,  citando uma atitude repressiva na empresa, e, ao fazer isso, cravaram o clima denso que a rivalidade tomou esses últimos tempos.

Ao assinar com a Adidas, Dolce e os designers Denis Dekovic e Mark Miner foram recebidos por um processo de US$ 10 milhões da Nike. A marca afirmou que eles levaram segredos da Nike com eles para a Adidas. Todos os três negaram as acusações e o processo foi acertado por uma quantia desconhecida, mas o maior preço que Dolce pagou foi ter se distanciado do design por um ano inteiro - o que significa que ele só começou a trabalhar em pisantes para a Adidas em março de 2016.

Adidas Crazy BYW LVL 1 (Foto: reprodução)

Durante seu afastamento, Dolce diz ter focado em projetos pessoais de arte, viagens e em reconectar-se com Nova York, cidade que ele havia deixado para trás desde 2005. Lá ele trabalhou com a super secreta “Brooklyn Creator Farm" da Adidas em Greenpoint, onde ele foi escalado para imaginar o futuro da marca. Até aqui, ele tem cumprido a missão: com ele lá, a marca vem introduzindo sneakers inovadores como o Crazy Boost You Wear  (uma versão da série Foot Your Wear dos anos 90), assim como calçados como o Futurecraft 4D, que tem o potencial de mudar o jeito que solas de tênis são feitas, ponto final. Mas ao menos até o momento, Dolce precisa de minha ajuda - ou algo do tipo

Dentro da Maker Lab, pop-up da Adidas, uma das muitas atrações do complexo da marca do endereço 747 da Warehouse Street no centro de Los Angeles erguido para o All-Star Weekend, Dolce e outros artistas ajudam clientes a transformarem suas ideias de novos tênis em um sketch e posteriormente, na coisa física. Estou aqui para aprender o que faz Dolce ser o homem de 10 milhões de dólares e uma das principais armas da Guerra do Tênis.

 (Foto: )

Antes que possamos botar a mão na massa, nos debruçamos sobre um pedaço de papel, lápis em mãos. "Quero saber o que puder sobre onde você está em sua vida e o que você está pensando antes que comecemos a rabiscar", diz Dolce, que calça o já citado par de Adidas Crazy Boost You Wear. Ele me pergunta quais são meus tênis favorito de todos os tempos (mesmo que incluam aqueles feitos por seus ex-empregadores), minhas cores prediletas, e daí gira a chave, me questionando como se eu estivesse em um divã - coisas como o que me motiva e quais são meus objetivos. Ele escreve tudo em um pedaço de papel que ele chama de "O Dôssie". Ele desenha enquanto falo da mesma maneira que um policial faria um retrato falado, transformando algumas das ideias que flutuam na minha mente em linhas fluídas e belas. Digo que quero criar um design baixo ou mid-top, com um cabedal mais estruturado e menos futurístico, e que quero usar a sola novinha do Boost You Wear. Vários rascunhos, algumas máquinas de costura, um cortador à laser e três horas depois Dolce e eu criamos o "Jakey Boost 900".

Este processo é uma versão truncada do que Dolce e seu time fazem todo dia no Brooklyn e de sua filosofia num geral. Dolce diz, por exemplo, que a pesquisa para um dado tênis normalmente toma dois a três dias para ficar completa, o que ajuda a aliviar minha frustração quando o protótipo do Jakey Boost 900 parece apenas 40% concluído. Mas Dolce e as duas dúzias de designers que trabalham integralmente com ele no escritório são basicamente adultos que passam o expediente como se fosse uma aula de educação artística, costurando, cortando e colando peças umas nas outras na esperança de criar o próximo tênis definitivo. Mesmo em um formato resumido, por vezes o processo foi tedioso - costurar um pedaço de camurça numa malha é tão emocionante quanto parece. Mas a Adidas dá a Dolce todo tempo que ele precisa para esquematizar a próxima geração da marca.

Não é como se Dolce não tivesse prazos ou metas específicas porém. Neste momento, ele diz que o time está trabalhando em projetos que vão dos tênis de basquete de 2019 até modelos para as Olímpiadas de 2020. Ainda assim, a Brooklyn Farm foi criada para ser um lugar focado em grandes ideias e em conectar-se com a comunidade local para melhor entender o que as pessoas querem calçar. "Nosso escritório é conhecido pela discrição por causa do trabalho que fazemos, mas a gente está próximo do público, com 30 ou 40 pessoas visitando os workshops todo mês", diz Dolce. "A 747 é um ótimo exemplo do que fazemos para nos conectarmos com artistas, influenciadores e celebridades. Mas não é só sobre os famosos. É também sobre comunidade e o que podemos fazer ao nível do solo. Ontem tivemos garotos vindos de colégios e faculdades. A maioria destes jovens estudando arte nunca tinham considerado desenhar calçados como carreira em potencial, e mostrar esse mundo a eles foi a parte mais recompensadora do fim de semana." 

Uma das mensagens da Adidas durante o fim de semana foi "Chamando todos os criadores" - O tipo de frase meio vazia que parece montada sob medida para se conectar com uma geração de diretores criativos de Instagram. Mas além da linguagem vaga está uma ideia genuinamente interessante: a Adidas aposta que o design vindo de cima para baixo é um lance antiquado em 2018. Ao invés de especular a respeito da necessidade dos consumidores de dentro de uma sala de reunião em algum lugar em Portland, a melhor maneira que a Adidas achou para saber o que a molecada quer comprar foi também simples: pergunta pra eles. Talvez não dê para usar o que eles dizem literalmente, mas dentro de cada resposta há o cerne de algo mais profundo.

Quando James Carnes, vice presidente de estratégias globais da Adidas, passou pelo Maker Lab, ele reforçou esse sentimento. "Não dá para ser relevante à distância", ele crava. "Há muitas marcas que fazem um ótimo trabalho, mas você não pode participar". Ele dá o que imagino ser uma alfinetada nos workshops All-Star da Nike (alguns dos quais acontecendo simultaneamente), onde visitantes podem customizar sous próprios Air Force 1 usando prendedores, impressoras a laser e canetas marcadoras. "Eles podem convidá-lo a algo pequeno em que você coloca algum detalhe em algo e brinca de decorar, mas nós queremos saber o que as pessoas estão realmente pensando. É por isso que temos um espaço permanente no Brooklyn", diz Carnes. É justo imaginar que este também seja o motivo do porquê eles contrataram Marc Dolce.

Da Nike para a Adidas (Foto: Reprodução/Twitter)

Conforme nossa conversa chegava ao fim, perguntei a Dolce sobre sua própria infância - em particular se ele sempre projetou tênis, se era algo que ele sempre quis fazer. "Eu rabiscava uns bonecos de ação e lutadores de luta livre; para mim era um jeito de mostrar minha força. Eu criava personagens com poderes pois eu sentia que isso era algo que faltava em minha vida e que queria alcançar. Eu estava projetando algumas das minhas inseguranças", diz. Na real, é uma resposta mais honesta e vulnerável que eu esperaria - ou mesmo sequer recebi - de um executivo ou designer em uma companhia de sportswear. De todo jeito, de sua filosofia de design ao seu escritório, tudo que Dolce faz é uma ruptura na maneira que as coisas são tradicionalmente feitas em outros cantos da indústria. 

Por um instante, o Maker Lab parece um ambiente genuinamente inovador onde criatividade e soluções são peças centrais - e daí a realidade volta a te atingir. Nossa sessão termina pois Dolce, que por sinal foi super atencioso com meu pequeno projeto por quase três horas, é chamado para atender James Harden, que acabara de chegar no espaço maker e para quem a Adidas paga US$ 200 milhões para calçar seus tênis. Por mais que o trabalho de Dolce seja diferente de seus colegas e executivos da insústria, alguns elementos, como manter celebridades felizes, nunca mudam. A Guerra do Tênis continuará a toda, e a Adidas precisa de Dolce na linha da frente.

http://gq.globo.com/Estilo/noticia/2018/02/quem-e-o-cara-por-tras-d...

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  Nossa sessão termina pois Dolce, que por sinal foi super atencioso com meu pequeno projeto por quase três horas, é chamado para atender James Harden, que acabara de chegar no espaço maker e para quem a Adidas paga US$ 200 milhões para calçar seus tênis.

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