Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Já se deparou com a tendência 'Quiet Luxury'? Se você assistiu a série da HBO 'Succession', provavelmente foi impactado pelos looks chiques e minimalistas, mas, até que ponto uma trend do momento faz sentido ou é apenas uma forma de viralizar sem parar para refletir?

Tendência Quiet Luxury, ou luxo minimalista, ganhou corpo especialmente após a nova temporada da Série Succession e da presença de Gwyneth Paltrow em tribunal durante julgamento de processo

Tendência Quiet Luxury, ou luxo minimalista, ganhou corpo especialmente após a nova temporada da Série Succession e da presença de Gwyneth Paltrow em tribunal durante julgamento de processo Reprodução Instagram / Getty

Alerta de polêmica: em pleno 2023, momento com pautas sociais em dia, toda vez que uma tendência viraliza sem um pingo de senso crítico, Vivienne Westwood Alexander McQueen se reviram nos túmulos. Sim, caro leitor, foi impossível manter silêncio - este texto grita Quiet Luxury, a tal moda do luxo silencioso, assunto de 8 a cada 10 TikToks fashion e dezenas de textos de moda mundo afora. Sim, ele existe. Sim, há uma definição para esse estilo mais velho que andar para frente: clássico, atemporal, tecidos de qualidade, cortes impecáveis, acabamentos idem. Cores neutras, o suprassumo do minimalismo, "roupa de gente chique" - eles disseram, "a epítome do old money"- poderiam ter dito.

Mas a quem mesmo serve a efervescência do luxo silencioso a essa altura do campeonato? Do ponto de vista viral, das fashionistas "tiktokzando" a ideia, não serve de absolutamente (ou quase) nada: de que adianta emular o luxo silencioso com peças de fast fashion se a base da coisa é exatamente o oposto? E, indo além, quem se beneficia da ojeriza à logomania, da qual a classe trabalhadora é fã? Por que querer desesperadamente parecer vindo "de berço"? Vale mais um Patek Philippe na mão ou uma tornozeleira eletrônica apitando?

Se moda é mensagem, convenhamos, é de se estranhar que a Gen Z, em quem anos atrás depositamos nossas esperanças de dias com mais propósito, almeje se vestir como os Roy (os bilionários da série "Succession", da HBO). Queiram os haters da moda ou não, roupa é coletânea de referências, é reflexo de personalidade. E isso não necessariamente tem a ver com dinheiro. Dá para encher em várias mãos a quantidade de pessoas que se veste única e exclusivamente com peças de brechó e entrega mais estilo e personalidade do que qualquer bilionário jamais pensou.

Uma sucessão de terninhos

Se você não está familiarizado, vamos de apresentações: os Roy da série são novos ricos norte-americanos donos das mídias de metade do país e além. Fingem não ser emergentes e, os filhos, vivem desesperados pela atenção de um pai inescrupuloso, para quem só importam duas coisas: grana e poder (talvez na ordem inversa).

Ao longo da trama, o desconforto causado pelos diálogos e pela mesquinhez corporativo-familiar se assemelha ao dos terninhos limitadores de movimentos, sem cor nem emoção, vestidos sobretudo pelas mulheres. Tudo grifado, obviamente.

Perfil @successionfashion destrincha os looks dos personagens da série. Na imagem, Sarah Snook, a Shiv Roy, veste jaqueta Altuzarra — Foto: Reprodução Instagram @successionfashion

Perfil @successionfashion destrincha os looks dos personagens da série. Na imagem, Sarah Snook, a Shiv Roy, veste jaqueta Altuzarra — Foto: Reprodução Instagram @successionfashion

O recado ali é claro: "Nossas roupas mostram que temos dinheiro, mas escondem nossas personalidades (não que elas sejam tão sobressalentes assim) e não vão permitir que você nos leia de primeira (mas de segunda fica fácil, já que basta que abram a boca para entender quem são).

Luta com classes

Em uma voltinha rápida pela tag #quietluxury você descobre logo quais grandes marcas antes discretas caíram no hype (Brunello Cucinelli, Delvaux, Loro Piana, Lemaire), qual suéter é objeto de desejo das ricaças (o The Row usado por Gwyneth Paltrow recentemente no tribunal), qual a estilista mais minimalista (Phoebe Philo, ex-Celine e Chloé, prestes a lançar sua grife própria homônima), que bolsa sem logo mostra automaticamente quanto você tem na conta (oi, Birkin!). Tais peças, cheias de história, acabamento e design e qualidade, têm mesmo todos os méritos para serem compradas e usadas por quem pode. A problemática é outra, é o entendimento disso enquanto uma estética-desejo a ser emulada a qualquer custo.

O recado ali é claro: "Nossas roupas mostram que temos dinheiro, mas escondem nossas personalidades (não que elas sejam tão sobressalentes assim) e não vão permitir que você nos leia de primeira (mas de segunda fica fácil, já que basta que abram a boca para entender quem são).

Os looks de Gwyneth Paltrow para julgamento — Foto: Getty

Os looks de Gwyneth Paltrow para julgamento — Foto: Getty

"Se queremos mudar quem está sentado nos lugares de comando, por que estamos buscando nos misturar com os CEOs da Geração Boomer, que são predominantemente homens brancos que têm medo da moda devido a sua própria masculinidade tóxica internalizada?", questiona. Vixe, Brenda!

"Essa tendência elitista apenas reforça as desigualdades e é especialmente retrógrada para as mulheres - que trabalharam mais por suas carreiras. Por que elas não iriam querer ofuscar o homem que vem vestindo a mesma camisa pelas últimas duas décadas?”, complementa. No ponto, Brenda. Gritemos moda então.

Por Giovana Romani

https://revistamarieclaire.globo.com/moda/noticia/2023/05/quiet-lux...

Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI

Exibições: 58

Responder esta

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço