A parceria entre a GS1 Brasil e a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) representa um avanço significativo na rastreabilidade do algodão no Brasil, com impactos diretos na transparência e eficiência da cadeia produtiva. Neste contexto, conversamos com Nilson Gasconi, executivo de Desenvolvimento Setorial da GS1 Brasil, que compartilha insights sobre como essa colaboração, iniciada em 2014, tem transformado o setor. Desde a implementação do Sistema Abrapa de Identificação até os benefícios diretos para produtores e consumidores, Gasconi nos traz uma visão abrangente sobre as tecnologias e os padrões que garantem a qualidade e a procedência do algodão brasileiro. Confira abaixo a entrevista completa.
1. Como surgiu a parceria entre a GS1 Brasil e a Abrapa para garantir a rastreabilidade do algodão no Brasil?
A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) criou o Sistema Abrapa de Identificação (SAI) em 2003 com a finalidade de oferecer rastreabilidade para os fardos produzidos e oferecer ao usuário final a possibilidade de identificar, visualmente, a origem do fardo adquirido. Para a Abrapa, o sistema permite ter outros dados como quantidade de algodoeiras e prensas instaladas (ativas e inativas), capacidade de produção por estado, utilização de etiquetas padronizadas nas algodoeiras, entre outras, tais dados permitem conhecer a realidade de cada usina de beneficiamento no Brasil.
Todo esse processo precisava ser automatizado e, em 2014, o padrão GS1 de identificação foi escolhido para dar suporte ao projeto de rastreabilidade da Abrapa e garantir maior eficiência logística. Foi então que nasceu a parceria entre as entidades. A tecnologia utilizada no sistema é o GS1-128, um tipo de código de barras específico para a área de logística e que contém mais informações para rastreabilidade.
2. Quais são os principais benefícios que essa parceria traz para a cadeia produtiva do algodão, desde a produção até o varejo?
O primeiro deles é obter informações precisas como da identificação do produto e produtor, quantidade, número do pedido, lote e outros dados fundamentais para assegurar que as informações para a rastreabilidade possam chegar ao destino final de forma eficiente e sem risco. O SAI – Sistema ABRAPA de Identificação oferece todo o histórico e a rastreabilidade dos fardos. Isso permite às algodoeiras que não possuíam um controle interno obter um histórico do que foi adquirido, além da quantidade de fardos beneficiados em cada safra. Para isso, basta que atualizem o sistema ao final do beneficiamento da safra em andamento. Hoje a Abrapa consegue extrair diversos tipos de relatórios e estatísticas, tendo por base as informações transmitidas pelas algodoeiras no momento em que se cadastram no sistema. Entre eles se destacam o crescimento da adesão ao Sistema Abrapa de Identificação pelas algodoeiras nacionais e a capacidade instalada de beneficiamento em cada estado.
Vale lembrar que a Abrapa representa 99% de toda a área plantada e 100% da exportação de algodão no Brasil. Representante legítima da cotonicultura brasileira, a Abrapa é constituída por nove associações estaduais – Abapa (Bahia), Acopar (Paraná), Agopa (Goiás), Amapa (Maranhão), Amipa (Minas Gerais), Ampa (Mato Grosso), Ampasul (Mato Grosso do Sul), Apipa (Piauí) e Appa (São Paulo).
Resumindo, os principais benefícios são a oferta de um sistema único e confiável de identificação dos fardos; facilidade para vender o algodão ao mercado externo; agilidade na obtenção dos resultados da classificação pelos laboratórios; e possibilidade de expansão de novas aplicações visando maior eficiência e produtividade.
3. Quais tecnologias de rastreabilidade são utilizadas pela GS1 Brasil para garantir a qualidade e procedência do algodão brasileiro?
No caso do algodão, foi escolhido padrão de tecnologia GS1-128, um código de barras específico para a área de logística e rastreabilidade. Mas há outras opções, de acordo com a particularidade de cada caso.
4. Como a GS1 Brasil assegura que os dados coletados ao longo da cadeia de produção do algodão sejam precisos e confiáveis?
A identificação única e inequívoca no padrão global GS1 dá identidade ao produto em toda a cadeia, o que anula erros nos processos de automação logística. Não há dúvida de que, ao adotar padrões de identificação dos produtos gerados por uma entidade com abrangência global e mais de 2 milhões de associados em 150 países, como a GS1, fica estabelecida a confiança da marca do produtor na cadeia de abastecimento. Toda a cadeia passa a ter o histórico e o registro de tudo que aconteceu com o produto. Utilizar um padrão global de identificação de produtos se torna essencial, pois é como eles tornam-se únicos.
5. Como a rastreabilidade impacta o consumidor final e de que forma ela agrega valor ao produto de algodão no ponto de venda?
O consumidor recebe um produto diferenciado e passa a ter o direito de saber a origem de seu produto. Informações como origem do algodão, nome do produtor e a unidade de produção, variedade, quando houver, qual o nome do produtor primário (preferencialmente), ou do distribuidor (no caso de lote consolidado), município e estado de origem quando nacional, e o país, caso o produto seja importado. O melhor valor agregado é a confiabilidade somada à qualidade.
6. Além da Abrapa, há outras entidades ou empresas envolvidas no processo de rastreabilidade do algodão que vocês consideram importantes nessa parceria?
Sim, há outros envolvidos, aliás um processo de rastreabilidade de alto nível igual ao que a ABRAPA implementou, requer envolvimento e comprometimento de vários elos da cadeia de suprimentos. Portanto, as empresas produtoras (fazendas), os laboratórios de avaliação de qualidade do algodão, os distribuidores, os clientes e os usuários finais são essenciais para que a rastreabilidade aconteça. Para que um cliente obtenha informações corretas ao pesquisar/acessar informações sobre uma camiseta, por exemplo, é necessário que todos os elos anteriores tenham feito os registros de informações de maneira adequada e inequívoca para preservar informações recebidas anteriormente e adicionar suas próprias informações, que serão repassadas ao elo seguinte. Parece fácil, mas não é. Exige investimentos, horas de dedicação, muito conhecimento da causa e comprometimento com o propósito, além de muitos aspectos técnicos.
7. Como a GS1 Brasil vê o futuro da rastreabilidade no setor têxtil, especialmente no que diz respeito ao aumento da transparência e sustentabilidade na produção de algodão?
A rastreabilidade é um processo cujo propósito é muito nobre, que é o de ser transparente com o consumidor, dando-lhe a oportunidade de conhecer em detalhes não só o produto que irá adquirir, mas de entender etapas do processo produtivo desde a matéria-prima ao produto acabado – se houve mão de obra irregular, se feriu algum aspecto ambiental entre tantas outras coisas. Somente empresas que trabalham de maneira correta, dentro dos mais altos padrões de qualidade e em conformidade com as diversas legislações globais, terão coragem de ser transparentes. O setor têxtil, por meio das várias iniciativas já comprovadas, está comprometido com esse propósito e, principalmente por meio do seu exemplo, vem incentivando outros setores a fazerem o mesmo.
8. Há algum plano ou projeto futuro entre a GS1 Brasil e a Abrapa para expandir ou melhorar o processo de rastreabilidade e garantir ainda mais a qualidade e procedência do algodão brasileiro?
Um dos objetivos da Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil é promover, por meio dos seus padrões globais, serviços e soluções, inovação, desenvolvimento sustentável e bem-estar da sociedade. Por isso, estaremos sempre à disposição da ABRAPA e demais setores, apoiando-os em demandas de rastreabilidade, automação de processos.
Fonte: Ana Gimonski | Foto: Divulgação
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