A diretiva para a informação de sustentabilidade corporativa, aprovada em janeiro, deverá abranger cerca de 50 mil empresas e, ao nível da moda, está abrangida pela estratégia europeia para os têxteis sustentáveis e circulares, que prevê a responsabilidade alargada do produtor e inclui medidas para encorajar a reparação, reutilização e circularidade da moda.
«No imediato, as novas diretivas e propostas estão já a ter um impacto no que está a ser comunicado aos consumidores, à medida que os legisladores dão a indicação de estarem a trabalhar para alinhar as definições de “sustentabilidade” e que critérios padronizados têm de ser correspondidos para que tal alegação seja feita sem enganar os consumidores», explica Marguerite Le Rolland, gestora da indústria, vestuário e calçado no Euromonitor International, num artigo publicado na Fashion United.

[©H&M]
Segundo a especialista, isso tem levado a mais escrutínio e investigações por parte dos governos para expor práticas de greenwashing, incluindo ao nível das certificações, citando a intervenção da autoridade norueguesa do consumidor sobre as lacunas do índice de sustentabilidade de materiais Higg, que levou a Decathlon e a H&M, entre outras retalhistas, a abandonarem a etiqueta SAC, de Sustainable Apparel Coalition, a entidade que desenvolveu a ferramenta, ou ainda a nova legislação que está a ser preparada em França que deverá exigir que as marcas acrescentem “etiquetas de carbono” aos produtos de moda, indicando uma classificação de A a E.
Caminho para a transparência
Face a esta maior exigência por parte dos governos, não só da UE, mas também do Reino Unido e de alguns Estados dos EUA, «está a tornar-se estratégico para as empresas de moda mapearem proativamente as suas cadeias de aprovisionamento», sublinha Marguerite Le Rolland, que aponta a rastreabilidade como «uma necessidade para identificar riscos em termos de alegações ecológicas ou trabalho forçado», podendo, «a seu tempo, ajudar a provar o cumprimento de leis ambientais ou laborais relevantes». Para a especialista do Euromonitor, «a rastreabilidade é o primeiro passo para a transparência que cada vez mais consumidores esperam das empresas».

[©Mango]
A curto prazo, indica Marguerite Le Rolland, esta necessidade deverá levar à adoção de tecnologia blockchain e ao mapeamento de toda a cadeia de aprovisionamento por parte dos players da moda e cita o exemplo da Mango, que em antecipação à nova legislação europeia, abandonou a etiqueta Committed, lançada em 2017 para identificar vestuário com «características sustentáveis». A retalhista espanhola está gradualmente a substituir esta etiqueta por um código QR que irá redirecionar os consumidores para uma página com informação sobre a composição da peça e o local onde foi produzida, para que possam tomar uma decisão informada em relação à compra.
«São esperadas mais iniciativas como esta no futuro próximo, à medida que aumenta a pressão tanto dos consumidores como dos reguladores», acredita Marguerite Le Rolland. «As empresas têm de estabelecer um roadmap hoje com objetivos de sustentabilidade mensuráveis para se prepararem para o amanhã», conclui.
FONTEFASHION UNITED
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