Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
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Recordando Giorgio Armani
Giorgio Armani, que faleceu tranquilamente na quinta-feira, rodeado pela família, será lembrado como o maior estilista italiano e o homem que liderou o notável renascimento da moda italiana no pós-guerra, seguindo um percurso afortunadamente longo e ímpar que o coroou de "Il Re" (Rei), com trono e reino, sim, extensivos às passerelles e lugares por onde foi deixando a sua marca globalmente.
É difícil exagerar a importância de Armani na moda e no design, especialmente após a sua morte, e o seu notável reconhecimento em qualquer lugar do mundo. Na verdade, se pedíssemos a um estranho qualquer para citar um estilista, Giorgio Armani seria provavelmente a escolha mais provável.
Aqueles de nós que tiveram a honra de passar algum tempo com Armani — de Milão a Nova Iorque, de Xangai a Tóquio — sempre ficaram impressionados com a graciosidade com que lidava com a fama. Ao encontrar Giorgio, os xeques do Golfo colocavam as mãos no peito; em Hong Kong, parava o trânsito ao caminhar para almoçar; em Milão, estrelas de cinema e vencedores do Oscar cumprimentavam ele nos bastidores com as mais profundas reverências. Certa vez, ao caminhar com Armani perto da Escadaria Espanhola, em Roma, uma transeunte o fez parar e insistiu em beijar a sua mão. Aceitou gentilmente, antes de se virar para mim com um comentário shakespeariano: "Sabe, eu não lhe paguei antecipadamente para fazer isso!"
Embora tenha se tornado extremamente rico e famoso, lidava com o sucesso com leveza e elegância. Conversava com jovens assistentes, seguranças ou completos estranhos com o mesmo tom paternal com que se dirigia a chefes de estado. Apesar de ser cortês, preciso e irônico, Armani podia ter um temperamento explosivo, mas apenas quando sentia que os seus próprios padrões exigentes não estavam sendo cumpridos.
Hoje, é impossível viajar para qualquer grande cidade e não encontrar alguma influência de Armani. As suas várias coleções elegantes – Armani Prive, Giorgio Armani, Emporio Armani, Armani Exchange – juntamente com a sua rede de cafés Armani, lojas Armani/Dolci e Armani/Casa, anunciam a mistura de minimalismo refinado e fantasia oriental que era o seu estilo característico.
E numa época em que praticamente todos os designers venderam o controlo das suas marcas – Dior, Chanel, Valentino e Versace, para citar alguns –, Armani deixou esta vida como único proprietário do seu enorme império. Só no ano passado, Armani obteve um lucro líquido de 398 milhões de euros, com um volume de negócios de 2,3 bilhões de euros.
Embora tenha deixado a sua cidade natal, Piacenza, no início da década de 1950 para estudar Medicina em Milão, após completar dois anos de serviço militar obrigatório, mudou de carreira e se tornou vitrinista na maior loja de departamentos de Itália, a La Rinascente. Essa formação inicial em exposição e edição permaneceu com ele durante toda a vida, como pude observar numa viagem com Armani para inaugurar o seu primeiro hotel no seio do edifício mais alto do mundo – o Burj Khalifa, no Dubai, em 2006. Durante uma visita matinal a um café Armani num centro comercial, Giorgio passou 45 minutos mudando a iluminação, reposicionando cadeiras, endireitando as camisas dos empregados e dobrando guardanapos.
Como um verdadeiro esteta, dedicou a sua vida à criação e só quando estava 100% satisfeito é que considerava socializar. Em outra ocasião, passei um dia acompanhando Giorgio quando organizou o seu primeiro show 'Armani One Night Only' em Londres, uma festa extravagante e enorme para apoiar a luta contra a AIDS na África e a instituição de caridade RED, de Bono. Realizada no Earl's Court, decorada como uma discoteca de Ibiza, com Leonardo DiCaprio, Alicia Keys, Lady Helen Taylor e Minnie Driver na plateia; Elle MacPherson e James Franco como mestres de cerimônia. Após vários desfiles, Beyoncé cantou 'Crazy in Love'; Bryan Ferry cantou 'Slave to Love'; e Alicia Keys e Andrea Bocelli cantaram para Giorgio. Mas o que mais marcou a minha memória foi a noite anterior, quando Giorgio editava meticulosamente as coleções e o seu diretor de Comunicação lhe lembrou discretamente que ele era esperado num jantar em sua honra com Tony Blair.
Ao que Armani respondeu: "Qui, sto lavorando!" (Aqui, estou trabalhando!), rejeita
Autodidata, Armani recebeu as suas primeiras lições sobre confecção de roupas da sua mãe e, mais tarde, batizou os seus dois fabulosos super iates de Mariù, em sua homenagem. Depois de passar uma década a trabalhar para subir na carreira da moda, Giorgio — incentivado pelo seu sócio Sergio Galeotti — abriu primeiro um escritório de design e, de seguida, lançou a sua própria marca em 1975, supostamente financiada pela venda do seu Volkswagen.
Em outubro de 1975, Giorgio apresentou a sua primeira coleção de moda masculina, que foi imediatamente aclamada. Foi um momento crucial em que um grupo de designers italianos fabulosamente talentosos — Gianni Versace, Gianfranco Ferré, Valentino Garavani, entre outros — começou a utilizar os excepcionais artesãos e fabricantes de roupas da Itália para desafiar a liderança de longa data de França na moda. Um movimento em que Armani era o líder de facto entre alguns colegas brilhantes, muitas vezes apelidado de "Il Re della Moda" ou "Imperatore Giorgio".
De um modo geral, Giorgio se mantinha muito respeitoso publicamente com os seus colegas, embora certamente não gostasse que as roupas deles fossem misturadas com as suas — exceto as da Versace, cujo brilho parecia ofendê-lo.
E enquanto praticamente todos os designers do planeta contratavam um estilista independente para ajudar a criar as suas campanhas, Armani nunca o fez, para evitar qualquer desvio da sua visão rigorosa da moda. O estilo de Giorgio foi sempre um ato de equilíbrio — as silhuetas perfeitas da sua roupa masculina combinadas com a delicadeza opulenta da sua alta costura.
Apaixonado, como a maioria dos italianos, por filmes, foi o cinema que catapultou Armani para a proeminência global quando criou o guarda-roupa de Richard Gere no filme 'American Gigolo', de 1980. A famosa cena de Gere a lançar belas camisas Armani para a cama antes de escolher uma roupa sedutora adequada expressou uma nova era de elegância moderna e o papel repentinamente vital da moda na vida contemporânea. Também ligou Giorgio indelevelmente ao cinema, onde viria a assinar figurinos de mais de 100 filmes — do 'The Untouchables' e 'Batman: The Dark Knight Rises' a 'Ocean’s Thirteen' e 'Inglourious Basterds'. Desde o 'American Gigolo', nenhuma primeira fila de Armani ficou completa sem meia dúzia de estrelas de cinema se juntando a grandes nomes do futebol, superestrelas do esporte e ícones culturais nos seus desfiles.
Há duas décadas, em Cannes, me convidou gentilmente para jantar no Mariù I, um belo navio com casco preto, painéis de madeira clara e cores neutras — o oposto de um super iate típico. Então, quando um novo grupo de cerca de uma dúzia de pessoas apareceu após uma exibição noturna — incluindo nomes como Kevin Klein e Sheryl Crow — Giorgio pediu aos seus três charmosos chefs que preparassem uma grande tigela de massa simples, mas deliciosa, feita apenas com azeitonas, alho, Pepperoncino e Parmesão. Antes de insistir em servir pessoalmente a todos, algo que nunca vi nenhum outro estilista fazendo.
Durante muitos anos, encenou a maioria dos seus desfiles no seu próprio espaço privativo da sua sede na central Via Borgonuova, onde o conheci como o jovem e recém-nomeado editor-chefe da Vogue Hommes em 1995. Tendo passado cinco anos na Itália, pude conversar com ele em italiano. Armani falava francês fluentemente, embora, como muitos italianos nascidos antes da guerra, o seu inglês fosse limitado.
Exibi com orgulho a minha primeira edição, que incluía uma sessão de fotos maravilhosas de Albert Watson intitulada 'Mafia Crooner'. Apresentando um elegante casal latino, o homem estava sensacional num clássico casaco Armani trespassado em tom cimento dentro de um café em Little Italy. Giorgio pareceu devidamente impressionado e apertou a minha mão com firmeza ao sair da reunião, antes de me encontrar na porta do seu palazzo, evidentemente irado. "Viu isso!?", disse, exibindo a foto do cantor de casaco. "Alguém colocou uma gravata horrível da Vivienne Westwood no meu casaco! 'Allora'?", irritou-se. Ao que respondi: "Desculpe, Signore Armani, mas sabe como é difícil controlar estilistas". Ao que respondeu, apaziguado: "Finalmente, um editor que sabe do que está falando!"
Shows posteriores foram realizados no sul de Milão, dentro do Armani/Teatro, projetado pelo arquiteto japonês Tadao Ando, dentro de uma antiga fábrica de chocolates da Nestlé. É onde o caixão de Armani ficará exposto em uma câmara funerária durante todo este fim-de-semana, aberto ao público. Foi também o local do seu último show em junho, quando estava frágil demais para fazer uma reverência, e o seu braço direito, Leo dell'Orco, fez o aceno. Um parceiro fiel até o fim, que deve continuar a guiar a casa com a irmã, sobrinhas e sobrinhos sobreviventes de Armani.
Mesmo com 91 anos, Giorgio nunca diminuiu o ritmo. Encenou outro 'One Night Only' em novembro passado, com um show repleto de estrelas dentro do New York Armory, onde Orlando Bloom, Liev Schreiber e Pamela Anderson posaram orgulhosamente.
No dia anterior, Giorgio havia revelado mais um projeto: um novo complexo de 400 milhões de dólares denominado Armani Residences na Madison Avenue. O empreendimento inclui três andares de lojas, dois restaurantes e mais de 20 apartamentos. Giorgio reservou a cobertura para ele. De fato, muitos dias da sua última década foram dedicados à construção de hotéis e residências Armani, com uma série de torres de luxo previstas para serem inauguradas nos próximos anos.
O dia de Giorgio em novembro passado começou com uma aparição pessoal na sua boutique na Bergdorf Goodman, autografando exemplares do seu livro 'Per Amore'. Do lado de fora, 10 montras da loja de departamentos mais luxuosa do mundo foram personalizadas com looks das coleções masculina e feminina da Armani. Uma elegante celebração dos seus laços históricos com a Bergdorf — a primeira loja americana a exibir a coleção masculina da Giorgio Armani, na década de 1980. No total, mais dois dias marcantes do 'maestro italiano', o estilista que parecia nunca dormir na cidade que nunca dorme.
Nessa época, perguntei a Giorgio qual esperava que fosse o seu legado, e respondeu: "O legado que espero deixar é de dedicação, respeito e um olhar para a realidade. O sucesso na moda vem da observação das pessoas, da compreensão das suas necessidades e da criação de roupas que atendam a essas necessidades. No fundo, o meu foco é criar peças belas. A moda é uma profissão séria, mas profundamente gratificante".
Resumindo a sua vida — o maior construtor de marcas do design italiano, o designer mais dedicado que já conheci e um cavalheiro que deixou esta Terra um lugar muito melhor do que a encontrou.
Em um sentido muito real, Armani se tornou muito mais importante do que ser um designer de moda icônico. O grande público italiano, e de fato um público internacional, tratava Giorgio como o presidente do estilo e do gosto italianos. A sua longevidade e a sua devoção à arte o tornaram numa figura consagrada. Nos próximos anos, quando as pessoas vierem escrevendo novas histórias da Itália, Armani será equiparado a Galileu, Leonardo da Vinci, Michelangelo e Cristóvão Colombo — e merecidamente. Além do seu império da moda, centenas de lojas, arranha-céus da Armani Casa e uma enorme perfumaria, a sua estética influenciou o último meio século mais do que qualquer outro designer vivo. Em uma era de estilo, foi o Doge do design.
O Imperatore nos deixou e não veremos ninguém como ele novamente.
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