Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Reestruturação industrial: Atividades têxtil-vestuaristas

Os setores têxtil e vestuarista integram um mesmo complexo industrial. A noção de complexo industrial implica agrupar atividades econômicas em blocos por algum critério econômico segundo o qual tais atividades estejam mais fortemente relacionadas entre si do que com as demais.

A relação entre as atividades não é trivial: é proposta a utilização da ideia de complexo para referir a conjuntos de indústrias que se articulam, de forma direta ou mediatizada, a partir de relações significativas de compra e venda de mercadorias a serem posteriormente reincorporadas e transformadas no processo de produção.

Os vários complexos industriais dialogam entre si. Na produção têxtil e vestuarista, observa-se constante interação das atividades específicas com outras desenvolvidas no âmbito dos complexos agropecuário, químico e metal-mecânico, para abastecimento em insumos básicos (como fibras naturais, o algodão à frente, e fibras artificiais e sintéticas) e ampliação/modernização das estruturas produtivas (compras de máquinas e equipamentos).

As atividades de beneficiamento de fibras naturais, fiação e tecelagem integram os setores de base do complexo têxtil-vestuarista; a produção de artigos de vestuário e itens para uso doméstico e industrial corresponde às indústrias finais da cadeia produtiva. Portanto, referir à produção têxtil-vestuarista implica aludir a uma extensa gama de atividades que se entrelaçam e, conforme assinalado, interagem com diversos outros setores, inseridos em outros complexos industriais.

  O processo produtivo têxtil caracteriza-se por uma sequência de operações descontínuas em que cada fase depende de operações precedentes. O mercado final constitui o elemento básico de dinamização, e o setor que fabrica artigos de vestuário é o maior canal isolado de escoamento da produção têxtil. O caráter descontínuo do processo de fabricação favorece a especialização flexível das empresas, porém verifica-se uma grande variedade de formas de organização produtiva. Há desde produção diversificada em nível de firma até concentração em artigos de maior qualidade e preço, passando pela produção em pequenos lotes (estimulada pela crescente segmentação do mercado) e pela especialização produtiva no interior de grandes empresas verticalizadas. Em suma, a indústria destaca-se pela profunda heterogeneidade dos agentes que tomam parte nas suas atividades.

  Especialmente heterogêna é a indústria de vestuário, que abriga escalas de planta de vários tamanhos, oscilando entre microestabelecimentos e enormes fábricas, com níveis de faturamento bastante diferentes. Ocorre grande diversidade também na esfera do mercado, onde a segmentação é a regra. Com efeito, diversos são os tipos de produtos: uma relação de certas proporções, embora possivelmente incompleta, incluiria roupas íntimas, de dormir, de praia/banho, infantis e profissionais, assim como meias/malhas, acessórios têxteis para vestuário e artigos de cama, mesa e banho.

  As indústrias têxteis e vestuaristas incorporam tecnologia originária de outras atividades, relacionadas á produção quer de matérias-primas, quer de máquinas e equipamentos.

  Em termos de desenvolvimentos tecnológicos recentes, cabe destacar, na produção têxtil, os avanços logrados pelos segmentos produtores de fibras têxteis, seja no que se refere às fibras sintéticas, seja em relação às fibras naturais. Trata-se de evolução importante, pois um aspecto-chave do desenvolvimento no processo produtivo t^xtil tem a ver com a maior velocidade possibilitada pelo uso de fibras químicas e de fibras naturais de melhor qualidade. Também merece destaque, em termos de inovações de processo, o que foi obtido em virtude do progresso técnico incorporado aos bens de capital.

Sobre isto, vale referir, principalmente, ao desenvolvimento obaservado nas atividades de fiação, que resultou em substancial aumento na velocidade da produção a partir do uso crescente de sistemas mais modernos (filatórios open-end). Porém, mesmo o sistema tradicional, resultaram em maior rapidez de operação. Deve-se aludir, do mesmo modo, à inovação fundamental introduzida na tecelagem, através da qual a lançadeira, integrante dos teares tradicionais, foi substituída, por novas e mais velozes formas de transporte do fio, com uso de pinças, projéteis, jato de ar ou jato d’água, Porem, nos próprios teares convencionais efeturam-se melhorias que possibilitam a mudança automática de lançadeira, sem necessidade do trabalho de operadores.

  Nas atividades vestuaristas, os avanços tecnológicos incidem de forma desigual nas várias fases da produção. Por exemplo, a etapa de montagem das peças (costura) representa barreira considerável à introdução de inovações associadas à automação, tendo em vista, basicamente, dificuldades de manuseio dos diferentes tipos de materiais utilizados, como os tecidos. Mas isso não significa ausência de aprimoramentos  tecnológicos nessa esfera. Além disso, existem diferentes gerações de máquinas de costura, sendo que a mais recente delas apresenta controle da operação efetuado por microprocessador. Na verdade, são diversos os tipos de máquinas utilizados na indústria: há máquinas de costura comum, de costura industrial reta, overlock, galoneiras, caseadeiras, mosqueadeiras e de corte, entre elétricas e eletrônicas.

Entretanto, se é verdade que os avanços da microeletrônica incidem de alguma forma na fase de montagem dos artigos de vestuário, a aplicação tem sido incremental – controles microeletrôicos têm sido acrescentados à máquina de costura sem que ocorra um redesenho fundamental da própria máquina. Vale assinalar que o caráter intensivo em trabalho da etapa de costura tende a fazer do baixo custo da mão-de-obra o principal fator determinante das estratégias com relação à localização industrial e à subcontratação/terceirização. Assim, não causa estranheza a disseminação do recurso de transferência de atividades para outras unidades de produção, inclusive para trabalhadores em domicílio, nessa fase da fabricação de roupas e acessórios.

  O uso da microeletrônica tem-se revelado essencial para aumentar a competitividade nas indústrias em foco, pois permite a integração dos sistemas de monitoramento e regulagem das máquinas, o controle do processo produtivo por microprocessador e uma maior eficiência na coleta, na armazenagem e no registro das informações sobre o processo de produção, assim como no controle dos fluxos de materiais e nos ajustes das máquinas. Por outro lado, a automação industrial possibilita, além do uso de robôs nas operações de transporte e em outras atividades de maior intensidade de trabalho, a redução drástica do volume de estoques intermediários de produtos semi-eleborados (com introdução do just-in-time), além da diminuição do tempo de preparação das máquinas. A produção de lotes menores e diferenciados de produtos é favorecida, e isso representa avanços consideráveis em matéria de flexibilidade produtiva. No segmento vestuarista, o gargalo tecnológico testemunhado na fase de montagem não se repete nas etapas de criação, design e corte, já que aqui a informática alcança ampla e crescente utilização através da tecnologia CAD/CAM. As vantagens são diversas e atraentes: o desperdício de tecido é consideravelmente reduzido, e as atividades envolvento criação, especificação técnica dos diferentes modelos e peças e também definição (a partir de um mesmo projeto e com os necessários detalhes) dos tamanhos a serem fabricados ganham substancial velocidade. Parece supérfluo assinalar que a contribuição de tais desenvolvimentos para o aumento da flexibilidade produtiva tem sido notável.

  O dinamismo testemunhado no plano necnológico tende a fazer com que as atividades têxteis tenham crescentemente ampliada a intensidade de capital. Isso significa alterações paulatinas na estrutura de custos em clguns segmentos importantes. De fato, as consequências mais diretas das mudanças tecnológicas dizem respeito à redução dos custos salariais no custo total. As matérias-primas ainda respondem, na confecção de fios, por grand parte do custo total de produção (mais de 60% em 1985, na Alemanha, Estados Unidos e Japão). Os custos de mão-de-obra vêm em última posição (menos de 15%), depois dos custos dos equipamentos (amortizações). Por outro lado, no segmento tecidos, eles representam, ainda, mais de 20%.

  Cabe salientar que as mencionadas mudanças na estrutura de custos referem-se, em boa medida, à supressão de postos de trabalho em decorrência de processos de modernização produtiva. De fato, conforme estudo sobre as indústrias de fiação e tecelagem de algodão brasileiras, já nos anos 70 a queda no volume de emprego setorial tinha a ver, principalmente, com a atualização tecnológica dos maquinário utilizado: parcela considerável dos postos de trabalho eliminados nas empresas relacionava-se à categoria de operações de máquinas.  

  Outras informações podem ser obtidas no livro “Reestruturação Industrial em Santa Catarina” de autoria de Hoyêdo Nunes Lins.

http://www.administradores.com.br/artigos/academico/reestruturacao-...

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