Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Marca foi convidada para contar sua história no Fórum de Recursos Mundiais, na Bélgica, pois alia os pilares da sustentabilidade a um negócio economicamente viável.

Refazenda: moda sustentável de Pernambuco vai para a ONU
Refazenda: moda sustentável de Pernambuco vai para a ONUFoto: Arthur Mota / Folha de Pernambuco

Uma empresa pernambucana chamou a atenção da Organização das Nações Unidas (ONU) por conta da sua preocupação com a sustentabilidade. É a Refazenda - marca que cria roupas de tecidos naturais sem usar água ou gerar resíduos em uma das ruas mais movimentadas da Zona Norte do Recife, a Rua da Hora. Para a ONU, é um exemplo de que é possível aliar os pilares da sustentabilidade a um negócio economicamente viável. Por isso, a Refazenda foi convidada a contar sua história no Fórum de Recursos Mundiais - o maior fórum sobre sustentabilidade e recursos naturais do mundo, que acontece nesta semana na Bélgica. 

“Seremos a única companhia da América Latina e a única empresa de moda de fora da Europa a participar do fórum”, revela o sócio da Refazenda, Marcos Queiroz, ainda surpreso com o convite da ONU. “Até agora não sabemos como chegaram até nós. Mas a ideia é mostrar nossa trajetória, contar como saímos de um sonho para um negócio que é viável economicamente, mas também é social e ambientalmente responsável. Afinal, há muita gente pensando em problemas criados por outras pessoas ou empresas, mas nós queremos propor que os negócios que já comecem evitando problemas, que fechem o ciclo de sustentabilidade, que é onde a gente se propõe a estar”, comenta o empresário, que vai representar a marca, criada por sua mãe, a estilista Magna Coeli, na Bélgica. 

“Magna Coeli, uma estilista brasileira, percebeu que restos de tecidos que se tornariam um desperdício poderiam gerar um negócio lucrativo dentro da indústria da moda e, assim, a Refazendafoi criada”, explica relatório da ONU que avaliou as atividades da marca pernambucana antes de convidá-la para o Fórum de Recursos Mundiais. O texto, publicado no fim do ano passado, ainda diz que a companhia conseguiu conectar os três pilares da sustentabilidade - o econômico, o social e o ambiental - e, por isso, também apresenta um crescimento sustentável. “O conceito de sustentabilidade está ligado ao modelo de negócio desde o início”, frisa a ONU, que decidiu, então, colocar Marcos na mesa ‘Estilos de vida sustentáveis - uma chave na transição para a economia circular’ -, módulo que vai falar como a inovação pode aumentar a extensão da vida útil dos produtos na Bélgica e também vai contar com a participação de representantes do Carrefour e do One Planet Canadá.

“A proposta de economia circular e capitalismo consciente, visando um ciclo de produto mais longo e um aproveitamento de 100% da matéria prima, faz parte da nossa filosofia”, confirma o sócio da Refazenda, contando que essa história começou há 30 anos, quando sua mãe decidiu fazer peças de cama, mesa e banho e roupas novas com os retalhos que eram jogados fora por outras confecções e tecidos que pudessem ser inteiramente aproveitados. “Ela já começou planejando o aproveitamento de todos os níveis do tecido, do corte à produção dos detalhes, para que houvesse um ciclo completo dentro do próprio negócio”, conta Marcos, dizendo que essa preocupação com a redução dos resíduos é importante, sobretudo, na moda, já que a indústria têxtil é a segunda mais poluente do mundo. 

A Refazenda prefere, então, usar tecidos naturais, como algodão, linho e seda, que duram mais, são menos nocivos ao meio ambiente e podem ser reaproveitados com mais facilidade. As estampas são feitas de maneira digital, para economizar água na estampagem. E todo o corte de tecido é planejado, para que não haja sobras. “Acreditamos que todo resíduo é uma nova matéria prima. Por isso, no corte, não geramos sobras, mas pedaços menores de tecido”, explica Marcos, dizendo que esses pedaços são usados nos detalhes e nos acabamentos das roupas e na confecção de acessórios como colares e cintos. Já os pedaços ainda menores são enviados para cooperativas de costureiras que fazem produtos como fuxicos, que são reinseridos na produção da Refazenda. E é por isso que, em 2012, a empresa conquistou o prêmio de lixo zero da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe).

Também é por isso que, para a ONU, a Refazenda é uma das referências na aplicação do upcycling - técnica que converte materiais antigos ou descartados em produtos de melhor qualidade e maior durabilidade. “Com o upcycling, a gente pega resíduos ou matéria-prima já utilizada, como os retalhos, e transforma em produtos finais de maior valor agregado. A ideia é que os produtos tenham uma vida útil maior através da inovação”, explica Queiroz, frisando que o upcycling difere da reciclagem porque a reciclagem gera produtos de baixo valor agregado. 

As peças da Refazenda ainda são criadas com mais de uma forma de uso para durarem mais. Por isso, enquanto os produtos de moda têm uma vida útil média de cinco anos, os da Refazendachegam a 12 anos de uso. “Mais que vender mais produtos, nós queremos vender ideias e inspirar novos negócios sustentáveis. Por isso, balanceamos os fatores econômico, social e ambiental”, esclarece Queiroz. Hoje, a Refazenda emprega 45 pessoas e tem parcerias com mais de 10 cooperativas de costureiras. Por isso, produz duas mil peças por mês de forma sustentável - roupasque são vendidas em todo o País e até no exterior.

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