Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Reindustrialização : Inova+ apresenta oportunidade para a transformação das empresas

Especialistas trouxeram para o debate importância da inovação para a competitividade nacional, a transformação digital e a reindustrialização

Solange Sólon Borges, Agência Indusnet Fiesp

Empresas com desafios tecnológicos tiveram a oportunidade de conhecer a parceria estratégica Embrapii e BNDES, nesta terça-feira (21/3), em encontro sediado na Fiesp. O objetivo do Inova+ Indústria sustentável e digital foi proporcionar informações para acessar os recursos do programa.

O Inova+ é uma parceria entre a Embrapii e o BNDES com o intuito de apoiar o desenvolvimento de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). O programa investe em soluções de transformação digital, defesa, materiais avançados, e em mais quatro áreas relacionadas à sustentabilidade: bioeconomia florestal, novos biocombustíveis, economia circular e tecnologias estratégicas para o Sistema Único de Saúde (SUS). Ao todo, o BNDES destinou R$170 milhões oriundos do Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico (Funtec) para projetos nas áreas destacadas.

A competitividade da indústria brasileira foi impactada ao longo do tempo por fatores externos e internos, afirmou Pedro Wongtschowski, presidente do Conic da Fiesp. Fotos: Ayrton Vignola/Fiesp

A competitividade da indústria brasileira foi impactada ao longo do tempo por fatores externos e internos, afirmou Pedro Wongtschowski, presidente do Conic da Fiesp. Fotos: Ayrton Vignola/Fiesp

A competitividade da indústria brasileira foi impactada por fatores externos e internos, como um sistema tributário ‘bizantino’ e complicado de operar, atraso tecnológico e insegurança jurídica. A opinião de Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho de Inovação e Competitividade (Conic) da Fiesp, segue em linha com o cenário desigual da indústria: algumas empresas contam com alta tecnologia e outras com lacuna em sua capacidade produtiva.

Igor Manhães Nazareth, diretor presidente interino da Embrapii, frisou que é central apoiar as empresas para concretizar a atualização. Em quase dez anos de atuação, foram apoiados mais de 1.970 projetos de 1.400 empresas, e R$ 2,8 bilhões foram destinados para projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação a fim de atender o gargalo existente no setor privado, informou ele. No Inova + a Embrapii se junta ao BNDES e as duas instituições têm à disposição R$ 145 milhões de reais para apoiar a inovação, complementou o expositor.

Antonio Carlos Teixeira Álvares, diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp, pontuou que o universo industrial está baseado em micro e pequenas empresas e que as médias contam com pouco apoio e precisam atuar no quesito produtividade também. Álvares reforçou, no entanto, que o tema inovação é obrigação de todos.

“Há uma retomada do papel do BNDES com a participação da indústria no desembolso” da entidade, afirmou João Pieroni, superintendente da área de indústria do banco. Para ele, deve-se olhar para as oportunidades existentes, com foco em uma indústria mais verde, inclusiva e digital, ou seja, a reindustrialização ancorada em novas bases. Nesse sentido, tendo o BNDES um papel catalisador, deve-se discutir a oferta de condições adequadas frente às elevadas taxas de juros, sinalizou o expositor.

Em relação ao PIB, a participação do BNDES é de 0,7%, bem acanhado, avaliou Pieroni, e, por isso, a entidade deve retomar seu papel histórico de apoio à indústria e à infraestrutura nacional, cujo desafio é chegar a 2% ou 2,5% de participação no PIB. A indústria, cujo desembolso, no início da década de 2000, era de 50% nos últimos anos é de 20%, algo em torno de R$ 18 a 20 bilhões anuais, valores aquém da necessidade da indústria por conta da sua relevância, disse ele.

O BNDES voltará a atuar sobre gargalos regulatórios e tecnológicos, informou, e deve se atentar a novas estratégias, como a retomada no comércio exterior, especialmente de bens manufaturados, na política de reindustrialização, e apoio à inovação tecnológica com novos instrumenos e custos diferenciados. Pela primeira vez o BNDES está criando uma infraestrutura dedicada à inovação, revelou João Pieroni.

Debatedores avaliam gargalos e janelas de oportunidade para processo de reindustrialização. Fotos: Ayrton Vignola/Fiesp

Debatedores avaliam gargalos e janelas de oportunidade para processo de reindustrialização. Fotos: Ayrton Vignola/Fiesp

Para acessar a apresentação de João Pieroni, clique aqui

Para Uallace Moreira Lima, secretário da Indústria, Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), otimizar atividades e processos produtivos é essencial a fim de garantir a competitividade. “Não se pode pensar em agenda de política industrial sem inovação”, disse, mas mesmo diante de desafios, ele vê janelas de oportunidades extraordinárias para acreditar na reindustrialização. Oportunidades oferecidas pelo complexo da saúde, pelo setor de defesa e especialmente pela pauta da sustentabilidade, em evidência, com temas como a descarbonização e os biocombustíveis e fertilizantes, por exemplo.

“Tudo o que envolve a indústria 4.0 [no mundo] já movimentou, em 2018, U$350 bilhões e a previsão para 2025 é de US$ 3.2 trilhões (Fonte: Unctad). E o Brasil pode explora isso visto que o mundo vem passando por uma profunda transformação e por nova estrutura de governança”, sinalizou Lima.

Ele ainda abordou a reorganização das cadeias globais de valor, com sua fragmentação produtiva, e como se encontram, no plano real, regionalizadas, na verdade. Para ele, a América Latina está fora das cadeias globais e quando participa é com produtos de baixa intensidade tecnólogica. O Brasil, por exemplo, tem, em sua pauta exportadora, quase 80% de produtos que não têm classificação ou são de baixa e média intensidade tecnológica, produtos com alta vulnerabilidade de preços e perda de market share (segundo estudos da OCDE e Unctad citados), o que é preocupante para o especialista. Em compensação, os países asiáticos passaram ao largo das teorias de cadeias globais de valor, têm alta intensidade tecnológica e enfatizam políticas industriais e de inovação.

O secretário do MDIC detalhou esse cenário: as cadeias globais de valor nunca foram globais, mas, sim, interregionais. E exemplificou: na União Europeia (UE), 60% do comércio se dá entre os países integrantes; na Ásia, 69%; no Nafta, 50%, na América Latina, 26% apenas. Ou seja, o Mercosul passa por uma desindustrialização, disse, ao citar estudos da Unctad. E os Estados Unidos têm feito uma política de conteúdo ‘pesada’, em sua avaliação. Sinal de alerta.

No índice de inovação, o Brasil, em 2011, ocupava a 47ª posição no Global Innovation Index rankings, o país do BRIC [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] mais bem posicionado, e, em 2020, cai para a 62ª posição, a pior colocação, atrás da África.

Quanto aos empregos no Brasil, 7 em cada 10 estão em setores de baixo conteúdo tecnológico e têm salário 40% inferior à média nacional, de até 2 salários-mínimos, um ponto de atenção que sinaliza a perda de densidade na cadeia produtiva com impacto no cenário internacional, inclusive, na avaliação de Uallace Moreira Lima.

Por outro lado, se toda revolução tecnológica disruptiva cria barreiras, por outro lado abre janelas, mas a questão é como aproveitá-las e articular os diversos atores, além de se fortalecer as cadeias produtivas internas já constituídas e posteriormente diversificá-las rumo à reindustrialização do Brasil. Para ele, a tendência global é o fortalecimento da política em prol das cadeias produtivas internas, uma lição aprendida pós-pandemia de Covid-19.

Um ponto interessante abordado pelo secretário se refere ao regime tecnológico cuja gênese é de curto prazo, o que significa que há transformações constantes que ao mesmo tempo criam barreiras mas ofertam possibilidades. E cita programas já instituídos, como o Rota 2030, o Brasil Mais Produtivo e o InovAtiva.

Acesse a apresentação de Uallace Moreira Lima.

O presidente da Embrapii, José Luis Gordon, membro da diretoria do BNDES, disse que já há alguns cases de sucesso de empresas que produzem medicamentos e cosméticos tendo como base a flora da Amazônia. “Esse é apenas um início. Vamos fazer parcerias maiores para trazer mais recursos para projetos estruturantes, disruptivos, usando novos modelos de apoio e centros de competência”, disse ele.

Durante o evento, empresas que já contrataram projetos com recursos da parceria compartilharam suas experiências com o público presente. Acesse a apresentação aqui no link.

Solange Sólon Borges, Agência Indusnet Fiesp

https://www.fiesp.com.br/noticias/reindustrializacao-inova-apresent...

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