Reino Unido reforça planos para os resíduos têxteis

[Romildo de Paula Leite]

Sob a designação “Maximizar recursos, minimizar o desperdício”, o novo programa do governo britânico prevê investimentos para melhorar a recolha e seleção de resíduos têxteis e evitar a sua exportação.

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O programa abrange sete sectores, entre os quais o têxtil, onde o objetivo, refere o documento publicado pelo governo do país, é «apoiar os objetivos de redução de resíduos e o compromisso de zero emissões líquidas», o que significa «aumentar a utilização dos produtos, desviar produtos e materiais do lixo e estimular uma indústria rentável de reciclagem têxtil».

Um estudo de 2017 concluiu que, só em Inglaterra, mais de um milhão de toneladas de têxteis eram deitados ao lixo, quer nos fluxos de lixo doméstico, quer comercial, com o vestuário a representar quase 400 mil toneladas. «É o equivalente a 4,2% de todo o lixo recolhido pelos municípios (em peso) e este material acaba em aterros ou incinerado, contribuindo para as emissões», indica o governo britânico.

«Embora tenhamos um forte sistema de recolha no Reino Unido, com 620 mil toneladas de têxteis usados recolhidos separadamente todos os anos para reutilização e reciclagem, dados da associação sem fins lucrativos Waste and Resources Action Programme mostram que 60% é exportado. Temos de aumentar a separação e o reprocessamento doméstico de têxteis não adequados para reutilização para capitalizar a crescente procura por conteúdos reciclados e extrair o máximo valor dos fluxos de materiais», sublinha o documento.

Em 2021, o governo criou o Textiles 2030, um plano de ação para têxteis sustentáveis no Reino Unido, com um programa voluntário que reuniu signatários que representavam mais de 62% do vestuário que era colocado no mercado. Estes signatários comprometeram-se com objetivos baseados na ciência até 2030, incluindo uma redução de 50% na pegada carbónica de novos produtos e de 30% na pegada hídrica.

Para isso, apontaram três áreas de intervenção: design para a circularidade, modelos de negócio circulares e fechar o ciclo nos materiais, o que implica a reciclagem de vestuário para produzir novo vestuário.

As metas estão agora a ser reforçadas com novos apoios governamentais para que «a indústria têxtil e de moda do Reino Unido seja líder na circularidade através da adoção de modelos de negócio circulares como a revenda, aluguer e reparação, e do investimento no reprocessamento e reciclagem de têxteis», sublinha o governo.

Milhões para apoiar a transição

Entre as medidas estão um fundo de 2,5 milhões de libras (cerca de 2,9 milhões de euros) para inovação na economia circular, que irá apoiar projetos alinhados com o programa, como é o caso de um projeto piloto promovido pela indústria para desenvolver um programa de responsabilidade alargada do produtor, que recebeu um financiamento de 150 mil libras. «Este projeto-piloto será desenvolvido em colaboração com associações como a UK Fashion and Textiles Association, o British Fashion Council e o British Retail Consortium. Vamos trabalhar para facilitar uma abordagem liderada pela indústria para responsabilizar os produtores por todos os custos líquidos de gerir os resíduos têxteis que geram e vamos avaliar os custos e benefícios desta abordagem como parte do desenvolvimento de uma política a longo prazo», explica o governo.

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O governo está ainda a financiar o Interdisciplinary Textiles Circularity Centre, um projeto de investigação de quatro anos com um valor de 5,4 milhões de libras, para juntar o conhecimento de académicos e da indústria para impulsionar o desenvolvimento de materiais têxteis renováveis produzidos a partir de têxteis pós-consumo e resíduos dos consumidores.

Através do Circular Fashion Programme, do UK Research and Innovation, o governo vai igualmente providenciar um financiamento de 15 milhões de libras para responder a alguns dos principais desafios da indústria na adoção de modelos de negócio circulares, aponta. Este valor inclui 4 milhões de libras para um projeto demonstrador de separação e reciclagem têxtil, 6 milhões de libras para investigação e 3 milhões de libras para projetos conjuntos entre empresas de moda e universidades britânicas. «O programa vai funcionar como uma base para iniciar uma visão a 10 anos de transformar os sectores têxtil e de moda, apoiando a adoção de modelos circulares viáveis e escaláveis até 2032», destaca o documento do governo.

Para além do financiamento nestas áreas, o governo britânico irá aplicar outras medidas, como o desenvolvimento de uma hierarquia de resíduos têxteis para servir de guia aos negócios de produtos têxteis e de moda e a avaliação do potencial de aplicação de regras para entidades que não os consumidores finais como a obrigatoriedade de, acima de um determinado tamanho, fornecer sistemas de devolução de têxteis usados, abrangendo, inclusivamente, empresas que operam apenas online.

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