Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Este foi o ano em que depois de muita conversa sobre diversidade, sustentabilidade e feminismo, as regras do jogo realmente começaram a mudar. Recuperamos aqui alguns momentos chave dessa nova era mais inclusiva e verdadeira da moda.


Levantando a voz

Agora, as modelos não só são admiradas por sua personalidade como também usam a sua visibilidade para batalhar por causas importantes



Os escândalos ligados ao produtor hollywoodiano Harvey Weinstein desencadearam uma série de outras denúncias. Encorajadas pelas mulheres que se posicionaram e contaram suas histórias de assédio, várias modelos também tiveram a força de revelar incidentes pelos quais passaram. O veículo que levou essas mensagens para o mundo foi o perfil da top Cameron Russell no Instagram. A iniciativa está dando visibilidade a problemas do mercado profissional que por muitos anos foram absurdamente encarados como “partes do processo”. Nessa linha, declarações de Edie Campbell e Christy Turlington também têm ajudado a causar um rebuliço no círculo da moda.

Cara Delevingne é outro exemplo de alguém que está aproveitando o alcance que tem para tentar mudar o mundo. Seus esforços se juntam aos da também britânica Adwoa Aboah, que falam sobre saúde mental e autoestima. A depressão, entre outras doenças, é uma realidade entre essas meninas, e colocar tudo sob a luz do sol é o primeiro passo para resolver a questão. Essa é a mensagem que ambas desejam passar em seus vídeos, textos, posts, discursos, palestras e projetos. Vocês já conhecem o Gurls Talk?

<span>–</span>

(Lívia Furlan/ELLE)

Já quando o assunto é política corporal, pode contar com Ashley Graham e Candice Huffine, as modelos que estão, cada vez mais, marcando seu espaço no mundo fashion sem deixar de questioná-lo. Contra a ditadura da magreza, as duas espalham a mensagem de que os ideais de beleza padronizados são doentios. Considerando que esse molde, além de tudo, também é branco, agradecemos a meninas como Maria Borges (modelo da Victoria’s Secret que assumiu o cabelo natural na passarela e abriu caminho para mais seis garotas negras encontrarem uma vaga no casting), Halima Aden (que desfilou orgulhosamente com seu hijab para marcas grandes durante a Semana de Moda de Nova York) e Duckie Thot (personagem principal do calendário Pirelli de Tim Walker) pela coragem e talento ao se posicionar.


Elas por elas

Para desconstruir a objetificação de seus corpos, as mulheres estão mais unidas do que nunca e propõem uma nova imagem para si.



<span>–</span>

(Lívia Furlan/ELLE)

Nos Estados Unidos, chama-se de “male gaze” o que se entende pelo “olhar masculinizado”, uma maneira estereotipada de entender o que é uma mulher e qual é a sua imagem. Em geral, o male gaze está associado a uma figura feminina objetificada e submissa. Pense nas capas de revistas adultas que povoaram as bancas do século passado. Na contramão exata dessa visão antiga, meninas ao redor do mundo estão colaborando para criar o “female gaze”, uma versão desse olhar que humaniza as mulheres e insere o conceito de liberdade nos retratos de seus corpos.

Na linha de frente dessa briga está a fotógrafa canadense Petra Collins. Seu trabalho extremamente delicado, colorido e centrado em meninas ganha cada vez mais espaço no circuito da arte e no mundo da moda. Não à toa, ela se tornou uma das embaixadoras da Gucci e virou o rosto do primeiro perfume da etiqueta com Alessandro Michele na direção criativa neste ano. Aqui no Brasil, fizemos uma lista de garotas que também têm uma ideologia de trabalho parecida.

Nas passarelas, quem representa o debate é a britânica Molly Goddard. Nas mãos dela, elementos como cor-de-rosa, tule e as delicadezas, tão atribuídos às mulheres e, por isso, símbolos de uma vida supérflua, ganham status cool e intelectual. Depois de sua explosão – vale lembrar que ela ficou em segundo lugar no prêmio LVMH deste ano –, uma série de marcas grandes também começou a subverter esses ingredientes.


Indo além, quando se fala do corpo feminino e de desmitifica-lo, não podemos parar só na feminilidade do batom, das camisolas e dos laçarotes. É preciso falar de pelos, de vagina, de útero, de mamilos, de celulite, de estrias e por aí vai. Depois de vestir a camiseta “We Should All Be Feminists”, o que acontece? É isso que marcas como Rachel Antonoff e Pansy representam. Com detalhes que remontam o corpo da mulher ou repensando a lingerie, novas labels estão mostrando que há espaço, sim, para quem não está nem um pouco a fim de agradar aos homens na hora de se vestir. A briga não é simples, mas vale a pena.




De dentro para fora

Neste ano, a maquiagem começou a ganhar novos significados, tornando-se mais inclusiva e divertida.



Se você passou 2017 todo sem saber o que é maquiagem não-impositiva, essa é a sua última chance de entrar no espírito do tempo. Aqui no Brasil, uma trupe de maquiadoras como Amanda Schön e Camila de Alexandre é apoiadora do movimento. A proposta é deixar de lado a antiga ideia de que a maquiagem tem como missão prioritária afinar o rosto, esconder manchas, deixar as pessoas mais jovens ou qualquer coisa do gênero. E se a gente só brincasse de se pintar? Cores fortes, borrões, linhas geométricas e todo o universo de possibilidades que passam longe do contorno estão à sua disposição. Tudo bem usar o contorno, arrasar no iluminador e passar bases de alta cobertura, mas sem nunca deixar de lado o questionamento do por que estamos fazendo isso. Como seria a vida (e o nécessaire) se a gente não se preocupasse tanto com padrões?

Leia mais: Beleza orgânica: por que você deve entrar nessa?

Como consequência, os cuidados com a pele ficaram muito mais em evidência. No lugar de cobri-la com um monte de pigmentos, a geração millennial e seus subsequentes passaram a limpar os poros, a hidratar, tratar com séruns e máscaras faciais que – assim como as águas de beleza – viraram hit absoluto neste ano. A internacionalização da marca de cosméticos estadunidense Glossier também vem dando mais força ao coro.

Tem até gente que topa fazer os 10 passos da rotina coreana: duas etapas de limpeza, tonificação, exfoliação, tratamento, máscaras, duas etapas de hidratação e proteção solar. Aliás, mesmo alguns dos componentes dessa tarefa estão se transformando. Por exemplo, o anti-aging é um termo que está combatido. Por que devemos combater a idade que é um processo natural e lindo? A ideia é chegar lá saudável e se sentindo bem a respeito de si.

<span>–</span>

(Lívia Furlan/ELLE)

Em 2018, que tal mergulhar de cabeça nessa onda? Deixe de lado algumas inseguranças e encare com coragem o desafio de ser quem você é: usando muita maquiagem, usando pouca maquiagem ou nenhuma maquiagem. Esse é o apelo de Alicia Keys, cantora que veio ao Brasil e foi nossa capa de setembro. Para a ocasião, ela não abandonou o blush (que ama), mas bases e corretivos não saíram da nécessaire da maquiadora responsável pela beleza do shooting. Só massagens com gelo e muito hidratante.




Corpo político

Uma das barreiras mais antigas e preconceituosas da história da moda começa a ter rachaduras: será que o fim da obsessão pela magreza está chegando?



Quando foi que instituímos que as modelos devem ser um cabide para a roupa que vestem? Segundo Astrid Façanha, coordenadora do curso de moda do Senac Santo Amaro e professora da Faculdade Santa Marcelina, tudo começa com Marie Vernet, a mulher de Charles Worth, a quem atribui-se a criação do modelo de negócios Alta-Costura. Ela funcionava como uma sósia das clientes do couturier que, na época, eram todas mulheres da alta sociedade que faziam parte do padrão de beleza vigente: alta, magra, branca…

Acontece que a moda é, hoje, uma linguagem global, e como tal, não cabe mais a ela repetir modelos tão arcaicos quanto esse. Na linha de frente dessa briga está Ashley Graham, a primeira modelo representante do mercado plus size a estar na lista da Forbes das mais bem pegas profissionais de sua área. A norte-americana usa as suas redes sociais para provar que celulite não é problema e que estrias são absolutamente normais. Ao lado de Candice Huffine – top que foi a nossa capa de novembro (que veio também recheada com um fortíssimo Especial Corpo) –, ela se tornou um dos nomes mais importantes quando se fala de Body Positivity.

<span>–</span>

(Lívia Furlan/ELLE)

A mais recente Semana de Moda de Nova York também mostrou algumas mudança neste ano. Comparando com os eventos europeus, é lá que a mobilização parece acontecer com mais força quando o assunto é corpo. Prabal Gurung passou a colocar mais diversidade na passarela e fez declarações potentes, apontando para companheiros de indústria, como quando atestou que não teremos um mundo fashion justo enquanto marcas de luxo como a Prada só escalarem meninas magérrimas para suas apresentações. Ele está certo, e Christian Siriano concorda 100%. Não é de hoje que o jovem vencedor da quarta temporada do reality show Project Runway vem tentando mudar essa realidade.

Segundo ele, seria arriscado fazer tamanhos maiores do que a grade convencional porque as peças poderiam encalhar nas araras representando, assim, um grande déficit nas próximas temporadas. Ele, no entanto, decidiu se arriscar. O resultado? O designer está abrindo cada vez mais lojas em bairros de prestígio fashion como Manhattan, em Nova York. #AturaOuSurta!


Por aqui, uma reportagem especial contou tudo sobre o movimento Body Neutrality, uma nova ideia que foi representada a partir da relação de oito meninas com seus corpos. Considerando que amar tudo o que o mundo inteiro disse que está errado em você pode ser uma cobrança insustentável para algumas garotas, o movimento chega na tentativa de relativizar a proporção que damos à nossa imagem corporal em prol da saúde mental. Conheça as histórias de Mirian, Kiyomi, Bia, Amanda, Fernanda, Jussara, Nina e Ana e dê o start em uma nova (e menos estressante) relação com o espelho.




A pele que resiste

Finalmente, o nude não é mais um cor-de-rosa clarinho. A moda está começando a entender que precisa pagar a conta de seu próprio racismo.



<span>–</span>

(Lívia Furlan/ELLE)

A falta de representatividade é um problema estrutural que a moda ignorou por muito tempo. Vozes como as da supermodel Naomi Campbell e do editor de moda Edward Enninful sempre existiram, mas hoje ganharam outras proporções e aliadas. Uma das mudanças mais interessantes que aconteceu durante o ano foi, finalmente, o entendimento do real significado da palavra “nude”. O termo que já foi definido por dicionários como um cor-de-rosa clarinho com um fundo avermelhado fala, de fato, sobre um efeito de nudez.

Prova disso são os 40 tons de base da Fenty Beauty de Rihanna, marca que deu um show de representatividade no mercado de beleza desde que foi lançada, e marcou uma revolução da indústria. A cantora, além de arrasar nos palcos, também conquistou o seu espaço na moda por meio da Fenty X Puma, que voltou a Nova York na última temporada. Já reparou no casting? Em geral, a popstar aposta em maioria negra, obviamente.

A NYFW, inclusive, parece estar aprendendo a lição. Nesta última temporada, todos os desfiles tinham modelos não-brancas na passarela, um passo necessário, mas ainda muito pequeno. Por aqui, apresentações-manifesto marcaram a Casa de Criadores, como a da Cemfreio, no começo do ano, pedindo liberdade a Rafael Braga. Isaac Silva, por sua vez, convidou vozes do movimento negro para estrelar em sua passarela, além de uma coleção que recuperava tramas e cores ligadas à sua ancestralidade. Já o Brechó Replay, por meio de um musical de três atos, deixou claro a que veio: passar a mensagem de que, se unidas, as minorias são mais fortes e precisam ter suas demandas atendidas.

No São Paulo Fashion Week, quem dá a letra há três temporadas é Emicida e seu irmão Evandro Fióti ao continuar desenvolvendo a história que começaram em sua estreia no maior evento de moda do Brasil. Desta vez, a LAB falou sobre alçar vôo depois de já ter conquistado o seu espaço no SPFW, e Victor Apolinário fechou o evento com uma coleção construída de forma colaborativa.




A dança das cadeiras

Como 2017 continuou a chacoalhar os cargos mais altos do mundo fashion.



Os últimos anos têm sido marcados por fortes mudanças de posicionamento de grandes marcas. Em 2017, a dança das cadeiras continua com sustos cada vez mais radicais. Quem diria que, um dia, Riccardo Tisci sairia da Givenchy? Apesar da marca não estar mais na mira dos holofotes, o italiano tinha um trabalho extremamente consistente lá dentro e, querendo ou não, foi o responsável por torna-la sinônimo de desejo entre sua gangue de amigos fashionistas e influencers ao redor do globo. Tudo isso, aparentemente, não foi o suficiente para mantê-lo por mais alguns anos à frente da etiqueta.

Deixando tudo ainda mais confuso, a sua substituta foi ninguém menos do que Claire Waight Keller – ex-estilista da Chloé que, assim como Tisci, vinha sendo muito aplaudida por suas coleções. Como não se apaixonar pelos vestidinhos delicados e inteligentes da estilista que não se amedrontava na hora de investir metros e metros de tecido em cada uma de suas peças. No entanto, o que à princípio animou o mundo fashion por ser mais uma mulher em uma posição de chefia dentro de um mercado de liderança predominantemente masculina, logo se mostrou uma decepção. A primeira coleção não convenceu a crítica, mas ainda esperamos os próximos capítulos dessa história.


A casa que deixou para trás, no entanto, seguiu com fôlego renovado nas mãos de Natacha Ramsey-Levi. A jovem designer deixou um pouco do romantismo de lado para fazer uma Chloé mais moderna e fashionista. O resultado puxa um pouco para o famoso “estilo parisiense”, desencanado, levemente andrógino e superchic.

<span>–</span>

(Lívia Furlan/ELLE)

Além disso, Christopher Bailey que, por um tempo, até foi CEO da Burberry, também deu adeus à direção criativa da marca. Por lá, ele reinventou o trench coat de mil maneiras, ao mesmo tempo em que, na medida do possível catapultou talentos britânicos em suas campanhas. Na última temporada, uma colaboração com o russo Gosha Rubchinskiy já deu uma ideia do que vem por aí. Pelo visto, uma bela guinada ao esportivo e ao urbano.

O mesmo aconteceu com o italiano Massimo Giorgetti na Pucci. Em pouco tempo no comando da histórica casa que ficou conhecida por suas estampas e pelo lifestyle luxuoso, sua visão modernista não foi tão bem compreendida e ele acabou saindo de lá. Ainda em solo milanês, temos o caso Ferragamo que contratou um designer para cada setor da grife no começo do ano e depois desistiu de tudo para apostar todas as suas fichas em Paul Andrew – vencedor do CFDA de melhor sapateiro que já nos deu uma entrevista antes de entrar para o time.... Por fim, temos a nova Marni que, sem as talentosas mãos de Consuelo Castiglioni, segue tentando encontrar uma nova personalidade.

Em meio ao cenário de crise, algumas marcas andam na contramão. É o caso da Louis Vuitton de Nicolas Ghesquière que apresentou, neste verão 2018, uma de suas melhores coleções para a marca desde que entrou lá. O esportivo millennial encontra os fraques da monarquia num mix de passado e futuro que fez as editoras de moda do mundo todo aplaudirem. Vale também destacar o modelo da Calvin Klein de Raf Simons que aposta na arte e no pensamento crítico como saída para esse tempos obscuros.Trabalhando ao lado do artista plástico norte-americano Sterling Ruby e em colaboração com o arquivo de diversos criativos que moldaram a cultura dos Estados Unidos, o designer consegue repensar o “American Way of Life” ao mesmo tempo em que cria objetos de desejo.

A experiência do desfile também está mudando. Exemplo disso foi a performance proposta pelo francês Jacquemus, em Marselha. O local também fala e, não à toa, os cenários estão cada vez mais importantes. Traçar uma conversa entre a roupa que está na passarela e o que está a sua volta é uma estratégia que as etiquetas de luxo adotam com muita ênfase, principalmente nas coleções Resort. Quem lembra de Vuitton no Japão, Gucci em Florença, e por aí vai…

Por aqui, a Casa de Criadores prova que alcançou a sua maturidade e, ao comemorar 20 anos, renovou seu calendário com nomes talentosos. É o caso de Martins.Tom, Another Place e Cartel 011 que fizeram bonito na passarela do evento. Já no SPFW, a diversidade continua em pauta. Prova disso são os desfiles inclusivos de Ronaldo Fraga e da LAB, de Emicida e Evandro Fióti.




Ponto de Impacto

Depois de previsões assustadoras, iniciativas transformadoras começam a surgir e os consumidores entendem que a responsabilidade também está em suas mãos



O ano de 2017 foi muito importante para a sustentabilidade. Não que ele tenha sido um dos melhores — já que as previsões de alguns dos órgãos de pesquisa sobre moda e consumo foram bem pessimistas —, mas tudo indica que finalmente estamos despertando a consciência para a tríade de saberes que mais importa quando se fala no assunto: as empresas precisam ser responsáveis pelos seus fornecedores, os designers têm que produzir com transparência e, por fim, o consumidor também precisa fazer melhores escolhas.

<span>–</span>

(Lívia Furlan/ELLE)

A importância do nosso poder de consumo ficou evidente em 2017 porque ele pode definir a postura de algumas marcas em relação ao que é produzido. Nesse sentido, pudemos ver a confirmação de uma tendência que já vinha caminhando desde janeiro, quando a preocupação com a sustentabilidade causou queda no lucro de empresas como a H&M. Há uma semana, descobrimos que a mesma marca teve queda de 35% nos ganhos, e a Zara, que antes parecia blindada da crise mundial, também declinou em 4.5%, sua menor margem de lucro desde 2008. Outra prova disso é o crescimento da tecnologia de tecidos. Pressionadas, as marcas descobriram como criar melhores peles fake e até uma versão mais sustentável da imitação do couro.

A postura de alguns designers também foi importante nesse sentido, mostrando que o problema não depende apenas das gigantes do fast fashion. Stella McCartney, usando plástico dos oceanos, clicando sua campanha em um aterro sanitário e Vivienne Westwood com seu apelo para que a gente não compre nada definitivamente lideraram essa conversa na moda internacional.

Outras empresas que são conhecidas por não serem muito sustentáveis estão buscando formas de mudar de postura já que o assunto é uma tendência mundial. Neste ano, a Victoria’s Secret criou uma política sustentável para seus tecidos e a própria H&M apresentou uma coleção de festa 100% reciclada. Vale lembrar, no entanto, que não existem iniciativas solitárias que anulem de modo suficiente o impacto da produção esperada de bilhões e bilhões de camisetas (como contou a primeira previsão). Em suma, ainda vivemos em um modo de consumo no qual a produção desenfreada termina com roupas no lixo.

Numa tentativa de elucidar essa questão, a C&A criou uma linha de camisetas recicláveis baseadas na economia circular que, caso devidamente descartadas, se decompõe sem deixar resíduos. Mas é preciso lembrar que qualquer atitude sobre descarte precisa ter boa explicação para o consumidor, já que a decomposição não acontece em meio aos lixões, mas sim com uma técnica específica. No mundo da maquiagem e dos cosméticos, a Lush recriou seus produtos queridinhos sem embalagem.

Dois mil e dezessete também foi o ano em que pensamos na cadeia de moda como um todo. Fizemos uma pergunta essencial: afinal, a moda é responsável por sua cadeia de fornecedores? Essa questão dá a abertura para que entendamos o que realmente acontece quando lemos notícias que explicitam que alguma empresa tem relação com fornecedores que lucram com pessoas trabalhando em condições análogas à escravidão. A resposta é a seguinte: a empresa pode não saber de tudo o que acontece (já que seus fornecedores chegam aos milhares, oferecendo desde ilhoses das roupas até peças inteiras), mas mesmo que ela não consiga rastrear toda sua cadeia, deve fazer o máximo para pressionar seus fornecedores e agir de forma adequada quando um desses episódios é descoberto, em geral, pela mídia. Sem essa pressão e essa responsabilidade (que pode acontecer inclusive junto com o governo de cada país), é difícil acreditar que as coisas vão mudar, pois esse infeliz e indigno esquema de trabalho possibilita uma maior margem de lucro.

No Brasil, a discussão tem ficado cada vez mais presente com semanas e datas dedicadas a repensar tudo isso — como a Fashion Revolution Week, o Projeto Gaveta, e a Brasil Eco Fashion Week, a primeira semana de moda nacional dedicada à moda sustentável.

Para 2018, além de muitas perguntas a serem respondidas, fica principalmente a necessidade da disseminação de um dos pensamento mais importante de toda essa discussão: as roupas não surgem magicamente nas prateleirsa das lojas — e isso também vale para marcas de luxo. Existem muitas pessoas e recursos por trás do que levamos para casa. O esquema fast fashion teve um ponto de partida — mas ele não foi o primeiro sistema de consumo da moda e não precisa ser o último, esgotando todos os recursos naturais não-renováveis. Este ano mostrou que sim, vale se perguntar se é possível ser feliz com seis peças de roupas.

Por Pedro CamargoJulia Mello

https://elle.abril.com.br/especiais/retrospectiva-2017/

Para participar de nossa Rede Têxtil e do Vestuário - CLIQUE AQUI






Exibições: 414

Responder esta

Respostas a este tópico

  O esquema fast fashion teve um ponto de partida — mas ele não foi o primeiro sistema de consumo da moda e não precisa ser o último, esgotando todos os recursos naturais não-renováveis.

Responder à discussão

RSS

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço