“Assim eu até saio de casa”, foi o que disse Rita Wainer quando viu os looks que vestiria para nosso ensaio.
Artista independente, Rita Wainer apostou em trilhar o próprio caminho – e fica claro que o movimento foi certeiro. Em uma relação de amor e ódio com as redes sociais, toda vez que posta um trabalho à venda, é um fuzuê. Mérito de amadurecimento e de ter encontrado e construído uma comunidade consistente e apaixonada. Ela, que já passou pela moda, pelas artes plásticas, pelo muralismo e pela escrita, conta que deixar o mundo da moda foi libertador – ela foi estilista nos anos 1990. A seguir, Rita conta como procura tornar sua arte acessível e o que vê para o futuro.
L’OFFICIEL Como é a vida e quais os desafios de uma mulher artista com mais de 20 anos de carreira, empreendedora à frente de todos os processos que envolvem seu estúdio, e trabalhando sem galeria?
RITA WAINER A experiência me trouxe clareza. No começo é tudo muito incerto, cheio de decisões que moldam a sua trajetória. Apostar na minha independência foi coisa da Rita do passado – podia dar muito errado (rs), mas não deu.
L’O Qual a importância da arte na sua vida? Ela move e salva?
RW Para mim, arte é tão importante quanto o amor. É o que move, mas também é trabalho duro. Por dentro e por fora.
L’O Você foi uma estilista revelação… Como lida com a moda, hoje? Como transitou da moda para a arte?
RW Sair do mundo da moda foi libertador. Hoje tenho um estilo que é meu, uma identidade que guia minhas escolhas. A indústria me deixou traumatizada por um tempo, mas aprendi a me reconstruir fora dela. Acho que tem muita coisa para evoluir, mas isso passa por recortes políticos, de privilégios, questões de gênero e raça, diversidade de corpos, a idealização da juventude eterna, tem coisa para olhar aí… mas, claro, amo uma roupa boa.
L’O Como você vê o impacto de obras icônicas como as do Baixo Augusta e Parque Olímpico e como foi ser uma das peças-chave para abrir caminhos para outras mulheres nesse formato aqui no Brasil?
RW A rua é lugar de arte, sim. Amo que meu trabalho esteja acessível para quem passa. E o espaço da mulher a gente conquista no facão. Não espero que me deem: eu tomo.
L’O Você levou algumas criações para murais indoor, na casa das pessoas que optaram por ter uma obra pintada ao vivo em vez de um quadro tradicional. A seu ver, mudou o jeito de consumir arte em 2025?
RW Acho que vivemos uma era supernichada. Muitos mundos dentro de um mundo. Pintar indoor na casa das pessoas é criar memória viva. Eu amo. É como criar a trilha sonora para um filme particular. Saber que aquilo vai marcar para sempre alguém.
L’O Você é uma artista que faz o próprio rolê, fica à parte das galerias… Acredita que esse é um caminho para democratizar a arte?
RW Esse é o meu caminho. E é coerente com tudo o que acredito. Gosto de saber quem ama o que eu crio. E trabalho para que a arte seja mais acessível a todos.
L’O Qual sua relação com as redes sociais?
RW Amor e ódio. É lindo estar conectada com o mundo inteiro, mas assustador quanto isso nos desconecta das relações reais. Quero me comunicar mais com minha comunidade, mas com menos barulho digital. Estou trabalhando para isso.
L’O Você criou uma espécie de universo como artista. Sempre que posta algo para vender, causa um alvoroço, criou uma comunidade… É um novo caminho para artistas, a seu ver, mais saudável e autônomo?
RW Criei uma comunidade que se conecta com meu trabalho. Mas agora quero mais entrega real. Voltar para o mundo off-line é o próximo passo.
L’O Como a história e o legado da família – Samuel, Danuza, Pink – atravessa você? E quem são suas inspirações femininas?
RW Minha família materna me atravessa de forma linda e intensa. Tive o privilégio da cultura desde cedo, e isso adiantou meu lado. Mas talento não é genético. Conquistar é uma coisa, manter é outra. Eu posso dizer que para mim se for mulher nesse 2025 já é uma inspiração (quem é sabe).
L’O Vivemos um baita momento de policrise, com ansiedade vindo de todos os lados: mudanças climáticas, guerras, IA… Como essa realidade afeta você?
RW Afeta todos os dias. São anos bem difíceis pra saúde mental. Façam terapia. Liberem endorfina. Sério.
L’O Quais projetos você destaca nos últimos dez anos? Como foi criar para a Madonna? E o que vem por aí?
RW Meu projeto favorito é sempre o próximo. É o que ainda não inventei que me move. É muito importante para o artista saber fazer, entregar, soltar e olhar para a frente. Falar do futuro e do agora. Que as pessoas sejam apegadas com o que eu já fiz, acho lindo. Mas eu não posso ser.
Guest: @ritawainer
Filme: @raphaellpacheco
Direção de moda: @marciobanfi
Beleza: @julianaboeno (@capamgt)
Produção de moda: @taiwollmer
Nails: @soninhalimanails
Camareira: @danielagomees
Agradecimento: @tino.estudios
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