Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
Por que quase sempre vemos lançamentos e propostas de roupas agênero (ou genderless), com uma série de túnicas, blusões, peças que não mostram o contorno do corpo e ainda, em tonalidades cruas de cinzas, brancos e nudes?
Bom, isso talvez aconteça porque a própria proposta de criar uma linha de roupas agênero parte do pressuposto de um referencial de gênero. A existência de roupas genderless parte da ideia de uma linha masculina e uma linha feminina bem definidas e, de alguma forma, uma terceira linha, sem muita definição, conceito ou ideia. O resultado disso são as roupas disformes e desinteressantes que frequentemente vemos como taxadas de genderless.
Roupas sem gênero ou para todos os gêneros, é menos sobre peças e mais sobre a mensagem que é passada e que construímos sobre as roupas, enquanto sociedade.
Por exemplo, mais simples do que desenvolver toda uma linha de roupas cruas e sem formatos, é uma diversidade de modelos e corpos vestindo as mais diversas modelagens (sejam elas tradicionalmente masculinas ou femininas)
As definições de gênero na moda não são exatamente recentes, por mais que às vezes escutamos que sim. O momento em que a moda começou a ser separada por gênero não é exatamente claro. Mas, historicamente, a indumentária sempre cumpriu o papel de criar separações sociais e emitir significados: de posições sociais, religião e, inclusive, gênero.
Ainda na Europa Pré-Medieval, as roupas começam a ter diferenças mais claras entre homens e mulheres, com homens usando calças e calções. Mais tarde, na Idade Média, com a religião e a ideia do pecado ligado à mulher, surge a ideia misógina de se esconder o corpo feminino através das roupas. Essas duas predefinições podem ser entendidas como um possível início da separação de gênero como a conhecemos na moda hoje. O desdobrar disso na pós-idade média e modernidade até os dias de hoje é papo para outro dia.
Apesar das separações de indumentária por gênero não serem novas, o entendimento de qual peça é designada para qual gênero é bem mais recente.
Ainda, quando tiramos nosso olhar da história eurocêntrica e cristã, em outras culturas, percebemos que as definições de gênero como as conhecemos (e até a quantidade de gêneros) é um aspecto trazido e forçado pelo colonialismo.
É claro que existem modelagens masculinas e femininas, que buscam criar padronagens de roupas adaptadas aos corpos biológicos femininos e/ou masculinos. Daí tiram-se largura de busto ou comprimentos de cós de calças, por exemplo.
Isso é uma herança do surgimento do Prêt-à-Porter (roupas prontas para vestir), quando as roupas deixam de ser feitas sob medida e começam a ocupar as araras das lojas de departamento.
Para isso, foi preciso a criação de padronagens de tamanhos e modelagens, que sejam adaptáveis a diferentes pessoas, os tais P, M, G e as diferenças entre modelagens femininas e masculinas.
Bem como para a criação de roupas “plus-size”, esse movimento de criar roupas agênero não costuma ser pensado a fundo, para além de uma fachada. A partir do momento que lidamos com uma diversidade de corpos que não tange apenas a binariedade, essas padronagens não precisam seguir os mesmos critérios tradicionais.
Dessa forma, faz muito mais sentido trabalhar uma comunicação plural, de uma forma a pensar que as roupas não tem gênero determinado, do que pensar em criar linhas genderless.
Efetivamente trabalhar para desconstruir o conceito de gênero das roupas, pode começar com uma simples divisão de categorias num site ou em uma loja, por exemplo. Afinal, não cabe a ninguém estabelecer gêneros às roupas, à medida que a moda, como a entendemos hoje, adquire sentido a partir da apropriação e interpretação das roupas pelos indivíduos.
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