Mesmo antes de estourar a guerra entre Rússia e Ucrânia, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) esperava uma forte desaceleração da produção e das vendas no setor, que deve seguir neste ano abaixo dos patamares pré-pandemia. O prognóstico da entidade era de um avanço de 1,2% da produção no ano (10 pontos percentuais abaixo do ritmo em 2021), e um tímido aumento de 1% das vendas no mercado interno – tecnicamente, uma estagnação. Os efeitos da escalada das tensões econômicas respingam nessa indústria com a elevação dos preços das matérias-primas, aumento dos custos de produção e enfraquecimento do consumo. Isso porque, além do risco de comprometer a cadeia do algodão, a alta do petróleo deve afetar ainda os preços do poliéster e de outras fibras derivadas. À medida que o valor desses materiais sintéticos aumentam e conforme o setor precisa buscar alternativas, como as fibras naturais, a tendência é que todos os preços do mercado subam.
A cadeia de matérias-primas já é um ponto de atenção para o setor têxtil desde o ano passado, quando a safra brasileira do algodão foi 20% menor que a de 19-20. À época, com o consumo interno ainda não normalizado, não havia risco de desabastecimento na indústria nacional. Para as próximas safras, no entanto, o cenário é incerto. A falta de fertilizantes pode impactar o volume das próximas colheitas do algodão, refletir-se nas altas dos custos de produção e até, dependendo do cenário global, tornar a matéria brasileira alvo para exportação. Há poucas saídas para esses cenários e, portanto, muitas chances de que esses aumentos precisem ser repassados (ao menos em parte) para os consumidores.
Se 2022 já prometia ser um ano de instabilidades no mercado, esse horizonte ganhou mais ruídos nas últimas semanas. No caso da indústria têxtil, o preço da desordem na cadeia global deve ser pago mais para frente e mais pesado para o consumidor, que já vem sofrendo para garantir o abastecimento dos itens cotidianos.
Beatriz Pacheco
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