Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

PETRÓPOLIS - A Rua Teresa se rendeu aos chineses. Pressionadas pela competição dos produtos importados e pelo surgimento de outros polos de moda, algumas confecções da tradicional rua do varejo de roupas de Petrópolis já estão importando da China até 20% do que vendem em suas lojas. As peças que vêm de fora são geralmente casacos sintéticos, bermudas e calças. Empresários afirmam que os itens podem ser comprados por até metade do custo que se teria para produzir aqui.

Ao mesmo tempo, a indústria investe em produtos mais incrementados para se diferenciar no mercado. Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Petrópolis (Sicomércio), a Rua Teresa movimenta cerca de R$ 840 milhões por ano e emprega cerca de 40 mil trabalhadores diretos e indiretos - ameaçados pela chegada dos importados.

- Entre 15% e 20% do que vendemos nas lojas importamos da China. Não dá para produzir aqui casacos sintéticos pelo preço que eles vendem, por exemplo. Um casaco chinês que sai por R$ 50, teríamos que vender por mais de R$ 100. Se o governo estivesse preocupado, reduziria impostos - afirma Mone Moussa, proprietário da confecção Eight Jeans, com três lojas em Petrópolis.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Confecções de Roupas e Chapéus de Senhoras de Petrópolis (Sindcon), Addison Freitas Meneses, explica que o empresário da região tem sido atingido pela forte concorrência dos produtos importados, além dos novos pólos de moda que surgiram nos últimos anos. Isso tanto em outras regiões do país - em São Paulo, Minas Gerais e Ceará, por exemplo - como no próprio caminho do consumidor que vai do Rio para Petrópolis - às margens da Rodovia Washington Luís, em Duque de Caxias. Na Via Dutra, em Nova Iguaçu, também surgiram lojas de roupas que concorrem com Petrópolis.

Desindustrialização ameaça setor têxtil

- Em produtos como calças, bermudas e casacos sintéticos, é difícil concorrer com a China. O importante é ter um produto que não é igual ao do vizinho e esse o empresário deve produzir. Mas há outros que é preciso oferecer na loja e acaba-se importando - diz Meneses.

A prática de importar uma parcela das peças que vende também é adotada pela confecção de moda feminina Gatto Blu. A grife importa até 20% dos produtos vendidos na rede de lojas. Mas tem uma preocupação especial em produzir itens de acordo com as pesquisas mais recentes de moda e bem ao gosto da mulher brasileira.

- Os produtos chineses entram em grande quantidade e sem qualquer proteção. E o custo Brasil é muito alto, os impostos são elevados. Decidimos diversificar com produtos mais elaborados e descentralizar. Abrimos lojas em Juiz de Fora e em Duque de Caxias - diz o sócio-proprietário da Gatto Blu, Aldo Marra.

Sua sócia, Andrea Lemos, lembra ainda que a moda feminina é muito rápida e que a brasileira gosta de estar antenada com as novas tendências. Os fornecedores chineses, diz, não têm nem capacidade nem velocidade para atender a este nicho de mercado.

Isso não impede, no entanto, que as prateleiras das lojas da Rua Teresa estejam repletas de roupas importadas do país asiático. Se as próprias confecções estão importando, a tendência é ainda maior entre os que são apenas varejistas. As etiquetas de "Fabricado no Brasil" disputam espaço com as de "Fabricado na China". Algumas indústrias, no entanto, admitem até mesmo a prática de trocar etiquetas chinesas por aquelas da marca própria.

- O comércio acaba se adaptando e comprando de outros fornecedores, mas sabemos a importância de se manter produção local forte e por isso é importante um esforço para manter a competitividade - diz o presidente do Sicomércio, Marcelo Fiorini.

Há quem esteja apenas usando insumos importados para reduzir o custo de suas peças. A marca feminina Cola Colorida, por exemplo, tem comprado acessórios como palas bordadas e flores para incrementar suas peças sem gastar tanto.

- Fazemos muitos trabalhos manuais, mas, às vezes, uma peça importada como uma flor ou um aplique sai pela metade do preço do que se fôssemos pedir a uma bordadeira. Isso já me ajuda a reduzir o custo da roupa pronta - explica a proprietária da marca, Simone Gouveia Silveira.

O processo de desindustrialização descrito pelas confecções de Petrópolis tem ocorrido em todo o país, alerta o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e conselheiro da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Antonio Berenguer.

- Os produtos da China e o câmbio atrapalham demais o mercado. As indústrias estão se desindustrializando para poder competir melhor. As empresas aumentam suas importações para trazer o custo China para dentro da empresa - diz o empresário.

Berenguer cita dados da Abit para apontar o impacto negativo do processo de desindustrialização. Em 2010, a indústria têxtil e de confecção teve saldo (admissões menos demissões) de 63.165 vagas. Ano passado, o saldo foi negativo em 12.105 vagas. As importações do setor triplicaram desde 2007.

Além da importação de peças prontas para vender nas lojas ao lado dos produtos produzidos aqui, as confecções investem em máquinas mais modernas para reduzir custos e aumentar a produtividade. Olindo Diniz da Silva Filho, dono da grife Diniz, gastou quase R$ 1 milhão nos últimos anos em máquinas, e busca se especializar em camisas diferenciadas.

- É triste porque eu comprava o tecido e produzia bermudas e calças aqui, mas o preço saía quase o mesmo do que eu posso importar. Agora, 10% do que vendemos nas lojas são produtos importados, como calças, bermudas e bonés. Decidimos focar na produção de camisas diferentes e com qualidade. Busco o melhor produto com um bom custo - afirma Diniz.

A despeito do esforço dos empresários, a perda de empregos é uma realidade em Petrópolis, segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Petrópolis, Teresópolis e Guapimirim, Jorge Mussel.

- As demissões têm aumentado. A cada dez vagas cortadas no setor, apenas oito são criadas - afirma.

O sindicalista critica ainda a informalidade. Cada vez mais confecções terceirizam serviços de costura, repassando as peças a pessoas que trabalham de casa, subcontratando costureiras. A prática é chamada de facção. Empresários admitem o hábito, alegando que tentam reduzir custos.

Fonte:|http://br.noticias.yahoo.com/rua-teresa-made-in-china-115315631.html

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