A Prefeitura de São Paulo vai construir uma usina para reciclar pedaços de tecido descartados na cidade. Somente as tecelagens do Bom Retiro e do Brás, tradicionais redutos de confecções na região central, são responsáveis por despejar 30 toneladas de pano diariamente nos aterros da Região Metropolitana.
Hoje, os retalhos são descartados de maneira irregular, geralmente em sacos plásticos deixados sobre a calçada. Além de contribuir para entupir bueiros, o lixo oriundo das confecções também prejudica a circulação de pedestres.
"Aqui é comum alagar quando chove", conta Teresinha Maziero, de 56 anos, dona de uma banca na Rua Ribeiro Lima, no Bom Retiro. Para ela, a ideia de dar um novo destino a esse material que hoje fica na rua é boa. "Mas só vai dar certo se vierem retirá-lo dentro das lojas."
Só nos distritos vizinhos do Brás e do Bom Retiro existem 5,4 mil confecções, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo (Sinditêxtil-SP). Na região, o órgão informou que menos de 15% dos panos descartados são recolhidos por catadores informais. Todo o resto segue para os aterros.
"Estamos jogando no lixo uma matéria-prima que pode gerar renda", afirma o secretário municipal de Serviços, Simão Pedro. A demanda por esse tipo de material é grande, uma vez que os retalhos podem virar desde novos fios para outros tecidos até fibras utilizadas pela indústria automobilística para produzir forração de carro.
A decisão de criar a usina de reciclagem surgiu de conversas entre o secretário e o Sinditêxtil-SP. Para viabilizá-la, o governo municipal entrará com o terreno - uma área entre a Estação da Luz e a Feira da Madrugada - e o setor privado bancará a construção do prédio.
Ainda não há estimativa de quanto deve ser gasto com a construção da usina, mas as obras estão previstas para começar ainda este ano, segundo o secretário. Uma reunião entre a gestão Fernando Haddad (PT) e o setor têxtil está prevista para ocorrer nesta semana.
Descarte irregular. Em visita aos bairros, a reportagem do Estado encontrou sacolas de retalho abertas no meio da calçada. O ambulante José Feliciano da Silva, de 65 anos, que trabalha há cerca de 40 na região, diz que o problema é recorrente. "Tem gente que revira tudo, e os trapos ficam espalhados por aí."
Compradora frequente das lojas de roupas das redondezas, a dona de casa Renata Lima, de 39 anos, afirma que logo de manhã os picotes de tecido sujam as vias. "A quantidade é tamanha que às vezes atrapalha até para andar."
Fonte: O Estado de S. Paulo