Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Saiba o que é o ‘recommerce’, nova tendência da moda que deve dobrar de tamanho e atingir R$ 360 bilhões até 2024

A consultora de estilo Leti Marsola: brasileira só usa roupas de segunda mão e ajuda clientes inglesas a garimpar Foto: Arquivo pessoal / Agência O GloboA consultora de estilo Leti Marsola: brasileira só usa roupas de segunda mão e ajuda clientes inglesas a garimpar Foto: Arquivo pessoal / Agência O Globo

Roupa de segunda mão cai no gosto de celebridades e vira oportunidade para novas empresas. Grifes como H&M e Levi's entram no nicho

LONDRES - O mundo dos aplicativos tem uma nova estrela nas Bolsas de valores. A plataforma ThredUp viu seu valor subir 43% em sua estreia no mercado financeiro dos EUA, após uma oferta pública de US$ 168 milhões em ações.

A empresa californiana é uma das mais populares entre consumidores globais de roupas de segunda mão, valendo agora mais de US$ 1,3 bilhão, cerca de R$ 7,3 bilhões.

As cifras infladas pelo interesse dos investidores atestam a força do chamado recommerce, o comércio reverso, para a indústria da moda no mundo.

A compra e venda on-line de produtos usados já vinha crescendo nos últimos anos, mas foi impulsionada pela pandemia — que mantém o comércio fechado em vários países — sendo abraçada por grifes que antes não enxergavam potencial no que não é novo.

A consultoria GlobalData calcula que esse mercado vai dobrar até 2024, atingindo US$ 64 bilhões (R$ 360 bilhões). Os principais responsáveis pela explosão são os jovens da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) e da anterior, dos millennials, mais preocupados com o consumo sustentável.

Para eles, guarda-roupa usado — comprado, alugado ou reciclado — não tem o estigma que tinha para seus pais. Pelo contrário: pensar na longevidade das peças é sinônimo de autenticidade.

Reino Unido à frente

Os britânicos estão entre os líderes do recommerce. Segundo pesquisa do eBay, 81% dos usuários no Reino Unido compraram roupas de segunda mão em 2020. É uma questão de preço mais baixo, mas também de conscientização sobre o impacto ambiental da indústria têxtil, que está entre as mais poluentes do planeta.

Essa mudança de atitude não passa desapercebida pelos gigantes da moda. Em Londres, as vitrines da loja de departamentos Selfridges, uma das mais luxuosas do país, reservam agora espaço para roupas de coleções antigas, reformadas.

O prédio histórico na Oxford Street está fechado por causa do lockdown nacional, mas o site da loja oferece produtos de segunda mão — uma mudança significativa para um templo de consumo inacessível para a maioria.

— De uma forma que nunca poderíamos imaginar, o ciclo de consumo foi rompido pela pandemia, marcando um momento de mudança para nossos clientes em direção a uma mentalidade mais ponderada. Isso nos obriga a definir novas expectativas para o varejo — reconhece Anne Pitcher, diretora geral da Selfridges.

Do alto luxo às marcas mais populares, a revolução do recommerce deixou de ser um assunto para frequentadores de brechós. A Farfetch, plataforma britânica que reúne mais de 700 designers, já permite que seus usuários revendam bolsas de grife em troca de crédito na loja. A Levi’s criou um programa de roupas usadas on-line.

A rede sueca H&M, uma das primeiras marcas internacionais a espalhar caixas de reciclagem para que os clientes descartem peças antigas, montou na sua loja de Estocolmo uma máquina que permite ao público ver como tecidos velhos são reaproveitados, ao invés de serem despejados em aterros sanitários.

Varejo ainda se adapta

Celebridades também vêm aderindo em peso nas redes sociais a uma campanha lançada pela Oxfam, ONG britânica que combate a pobreza e tem 650 lojas de objetos usados no Reino Unido. Todo ano a organização pede que o público compre apenas roupas de segunda mão por um mês. A Oxfam abriu, pela primeira vez, uma pop-up dentro da Selfridges.

Para a brasileira Leti Marsola, consultora de estilo sustentável baseada em York, no nordeste da Inglaterra, garimpar peças antigas não é uma tendência, mas um caminho sem volta. Há três anos ela só compra o que já foi de outras pessoas, em lojas e aplicativos especializados ou grupos on-line de trocas.

Na pandemia, viu sua clientela aumentar. São mulheres que buscam dicas sobre como se vestir, mas não querem mais o consumo desenfreado. A consultora as ajuda a reaproveitar o que já têm e a fazer escolhas conscientes.

— Eu foco no reuso — diz Leti. — Tenho clientes que resistiam a comprar roupas usadas, mas aprenderam a gostar desse processo. Costumo dizer que eu resgato roupas. Os consumidores mais jovens têm mais facilidade em entender esse tipo de comércio. Eles valorizam a autenticidade — explica a consultora.

O varejo, no entanto, não domina a tecnologia do reaproveitamento e foi assim que a Renewal Workshop, que tem oficinas em Amsterdã, na Holanda, e no Oregon, nos EUA, viu seus negócios crescerem entre europeus e americanos. A empresa oferece soluções para grifes que desejam investir em reparos e reciclagem.

Começou em 2015, atendendo marcas para esporte ao ar livre, mas com o tempo foi atraindo outros tipos de grifes, que viram oportunidades na economia circular. A pandemia reforçou esse entendimento, acredita Nicole Basset, co-fundadora da Renewal Workshop:

— Foi um golpe para a cadeia de abastecimento da moda. Algumas marcas produziram demais, outras de menos, sem que conseguissem achar uma resposta para o reaproveitamento.

Claudia Sarmento

https://oglobo.globo.com/economia/saiba-que-o-recommerce-nova-tende...

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