Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Savoir-Faire em essência: estratégias dos grandes grupos de luxo

Lançadas nos anos 2000, as estratégias dos grandes grupos de luxo para preservar e transmitir seu know-how de excelência trazem hoje seus frutos.

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Ateliês Dior Couture, coleção S/S 2023.

Lançadas nos anos 2000, as estratégias dos grandes grupos de luxo para preservar e transmitir seu know-how de excelência trazem hoje seus frutos, em tempos de relocalização industrial, de compromissos de Responsabilidade Social Empresarial, de mudanças dos padrões de consumo e das aspirações da nova geração. Várias razões para reforçá-las e torná-las um ativo de comunicação. Confira entrevistas!

LVMH E SEUS NEGÓCIOS DE EXCELÊNCIA

Com a criação do Instituto dos Negócios de Excelência em 2014, o grupo LVMH impactou. Primeiro programa de estudo e trabalho em luxo, oferecendo formações em negócios de artesanato, de criação e de experiência do cliente, ele é hoje, incontestavelmente, o líder na transmissão de know-how excepcional não somente para a nova geração, mas também para os adultos em reciclagem. Uma iniciativa interna e externamente ambiciosa, unindo todas as marcas do grupo, fomentando vocações, explorando novos territórios temáticos e geográficos, e adicionando regularmente novas ferramentas (“Excelente!”, “Você e EU”, “Mostre-ME”, Instituto e Academia dos Negócios de Excelência…). Alexandre Boquel, diretor de excelência empresarial do grupo LVMH, faz um balanço. 

L’OFFICIEL Desde fevereiro de 2020, o senhor é o diretor de excelência empresarial do grupo LVMH. Como resumir sua missão e sua evolução ao longo do tempo? 

ALEXANDRE BOQUEL Esses três anos passaram tão depressa porque foram decisivos. Eu diria que passei de guardião do templo a incubador de talentos em pouco tempo! Da sustentabilidade à inovação, nós devemos garantir que os know-hows de amanhã sejam ao menos tão vivos quanto seus antecessores. E é um verdadeiro desafio. Colocar um know-how em uma redoma é garantir sua morte. É preciso ventilá-lo para que ele possa respirar. A essência de um patrimônio é estar em contínuo movimento, como um território de expansão e de futuro.

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Ateliês de artigos de couro da Prada e da Miu Miu na sede industrial de Valvigna, na Toscana.

L’O O senhor disse “ninguém imagina que tais marcas possam ter dificuldade para contratar e no entanto é a realidade”. Como o senhor explica esse desencanto pelos negócios de excelência? 

AB O motivo principal é sistêmico. Induzido desde o fim do século 18 por uma Revolução Industrial que separou pela primeira vez na história as noções de artesão e de engenheiro. Uma divisão que se reforçou ao longo de todo o século 20, promovendo a formação generalista, favorecendo as profissões do abstrato em detrimento das manuais e resultando de fato em uma escassez de talentos e em erros terríveis. Mas observamos agora pela primeira vez um declínio nessa tendência.

L’O O ano de 2021 marcou para a LVMH um impulso no tema, com a assinatura de mais de 75 maisons do grupo no Pacto dos negócios de excelência (um ato fundador e unificador em 10 pontos especificando o propósito dos knowhows e os deveres e responsabilidades das maisons). Este pacto é permanente? 

AB Mesmo que ainda seja jovem, este pacto deve evoluir. Não se trata aqui tampouco de se congelar demais a fórmula. Estamos constantemente pensando em como podemos adaptá-la a cada época. E o seu aniversário de 10 anos, por que não? É uma boa ideia!

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Ateliês da École de l’Amour Gucci na Art Lab em Florença.

L’O O fato de o Instituto de Negócios de Excelência manter sozinho todo um ecossistema pode torná-lo autárquico?

AB Absolutamente não. Pessoalmente, eu não sei fazer nada sozinho! É um ecossistema que se nutre constantemente de parcerias externas em sete países e que tem como primeira virtude saber federar em sintonia com o funcionamento do grupo LVMH. Se este não fosse o caso, ele se asfixiaria.

L’O Criado em 2014, o Instituto de Negócios de Excelência vai comemorar no próximo ano seus 10 anos. Como o senhor encara esse aniversário e que mensagem ele deverá passar? 

AB Temos que enfrentar a modernidade. Estar no concreto. Estabelecer um diálogo de proximidade através das redes sociais, investir em novos territórios internacionalmente, não ter medo de tratar esses negócios de excelência de forma menos cautelosa. Em 10 anos passamos de 3 a 280 negócios, em 6 setores de atividade e de 28 aprendizes para 500. O começo já parece distante e o ano de 2023 promete ser um recorde. Precisamos transmitir essa energia aos que precisam dela.

PRADA E SUA ACADEMIA

Prada, Miu Miu, Church’s, Car Shoe, Pasticceria Marchesi, Luna Rossa. O Grupo Prada é uma entidade industrial cuja diversidade de marcas é igualada apenas por sua reputação. Quando chegou o momento de fortalecer sua espinha dorsal, o grupo implementou um importante plano de financiamento para desenvolver sua infraestrutura de produções locais, por meio da Prada Group Academy, seu cavalo de Troia. Massimo Vian, diretor industrial do grupo, justifica essa escolha.

L’OFFICIEL Desde 2020 o senhor é o diretor industrial do grupo Prada. Que estratégia o senhor segue nessa função em termos de know-how? 

MASSIMO VIAN O Grupo Prada tem uma longa tradição em matéria de preservação e de transmissão de seus know-hows, apoiada pela Prada Group Academy. Fundada no início dos anos 2000, essa escola profissional forma os novos talentos, encarregados de perpetuar o artesanato de excelência das nossas marcas e a estratégia atual é a de acelerar o seu desenvolvimento. Acabamos de inaugurar um novo ramo (dedicado ao know-how de artigos em couro) em nossa unidade de produção de Scandicci, perto de Florença.

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Ateliês Dior Couture, coleção S/S 2023.

L’O O desenvolvimento de capacidades industriais próprias, tais como suas manufaturas artesanais, sempre foi uma prioridade para o grupo? 

MV Sim, o grupo Prada sempre investiu nesse sentido sob a liderança de Patrizio Bertelli desde a década de 1990, em uma época em que isso estava longe de estar em sintonia com os tempos. Ele é certamente um dos que abriram o caminho.

L’O O senhor declarou que a Prada Academy seria decisiva para a preservação de seu know-how, mas também para a do setor. O código aberto é importante para o senhor? 

MV A indústria do luxo como um todo sofre de uma falta de artesãos e com uma concorrência feroz para contratá-los. Cabe às empresas e ao poder público se preocuparem com isso. O treinamento interno de novos talentos valerá a pena a médio e longo prazo, é nisso que estamos apostando. Nós não trabalhamos com código aberto, mas certamente trazemos novos talentos para o setor. A situação mudou: os artesãos que formamos hoje não são mais necessariamente filhos de artesãos, como antigamente. Muitas vezes para eles esta é uma carreira como qualquer outra e é importante estabelecer uma conversa com eles para despertar interesse e paixão. Nosso setor precisa permanecer atrativo, ou perderá seus ativos acumulados por décadas, aqueles que fizeram a reputação mundial de excelência do nosso país.

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Desfile Chanel Métiers d’art 2022/23, no antigo palácio da justiça de Dakar, no Senegal.

L’O A diversificação das categorias, dos produtos e das marcas do grupo pode ser um obstáculo à preservação de seu patrimônio artesanal? 

MV Acredito que não. Pelo contrário, expandir o escopo de possibilidades permite não somente experimentar mais conhecimentos técnicos, mas também inovar. A cadeia produtiva sem dúvida está se tornando mais complexa, mas o Grupo Prada está bem preparado para isso.

CHANEL E SUAS PROFISSÕES ARTÍSTICAS

As profissões artísticas já existiam na época de Coco Chanel, que prestava especial atenção à excelência de suas criações. Se a Maison Chanel sempre teve o cuidado de perpetuar a tradição, foi preciso esperar por 1985 para que essa cultura da empresa se transformasse em um projeto virtuoso. O grupo francês comprou um por um os ateliês fragilizados pela época a fim de garantir sua sustentabilidade, respeitando, ao mesmo tempo, a independência de seu modelo econômico. Uma singular estratégia de confiança mútua que não existe em nenhum outro lugar do mundo. E uma rede autossuficiente de subcontratados que suporta hoje uma dúzia de profissões de know-how e várias centenas de artesãos na Europa. Para esclarecer e transmitir esse legado, nasceram duas iniciativas notáveis: a coleção das Profissões artísticas da Chanel que, desde 2002 homenageia todos os anos criações de excelência, como durante o último desfile em Dakar, no Senegal; e o 19M, inaugurado em 2022 em Porte d’Aubervilliers, um espaço de 25.500 m2 inteiramente dedicado às profissões artísticas, a um tempo profissional, educativo e cultural, e em parte aberto ao público.

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Ateliês Hermès na fábrica de artigos de couro em Sormonne, Ardenas.

KERING E SUA MENTORIA

Acima de tudo reconhecida por suas prestigiadas parcerias acadêmicas que assina regularmente há mais de dez anos com grandes escolas e universidades, inclusive internacionalmente por meio de programas de gestão (HEC Paris, Bocconi Milan, London College of Fashion, Institut Français de la Mode, Tsinghua Pékin…), o grupo Kering desenvolve paralelamente um importante networking em termos de formação em artesanato e know-how de excelência por meio de escolas vocacionais, mas desta vez através das diferentes marcas do grupo. Uma dezena desses programas (beneficiando 1.300 pessoas) funcionam atualmente a todo vapor. Recordemos: a École de l’ Amour Gucci (2018) dentro de seu Artlab perto de Florença, um espaço dedicado ao artesanato e à inovação para artigos de couro e sapatos da marca, onde são oferecidas várias formações para os estudantes. Um programa expandido para o prêt-à-porter (2022) com o estabelecimento de uma colaboração com o Istituto Secoli, para uma formação em prototipagem “made in Italy”. A Scuola dei Maestri Pellettieri de Bottega Veneta (2006), aberta tanto para os trabalhadores da marca quanto para os aprendizes, que forma, no coração do ateliê de Montebello Vicentino, as novas gerações de artesãos que trabalham com couro, garantindo a transmissão do know-how da Maison. A Promotion Boucheron 2022-2025 da Haute École de joalheria, com a qual o joalheiro está em parceria para abrir seus ateliês de alta joalheria ao aprendizado. E por fim, os programas de formação financiados por Pomellato (2017 e 2023) em três instituições de ourivesaria, a Galdus Goldsmith Academy, o Galdus Institute e a Goldsmith School of Gallarate.

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Reunião pedagógica durante a última turnê "Você e EU" da LVMH.

HERMÈS E SUA CAIXA DE FERRAMENTAS

Desde 1837, toda a singularidade da Hermès, maison familiar e independente “de objetos feitos para durar”, apoia-se em seu compromisso com a preservação e na transmissão de seu know-how de excelência, principalmente na França: em apenas 15 anos, o grupo abriu 54 locais de produção, dos quais 9 são abertos à formação em artigos de couro e 4 novos projetos estão em andamento. Para sustentar as iniciativas que os alimentam, várias ferramentas surgiram: a Fundação Empresarial Hermès em 2008, a Escola Hermès de know-how em 2021, a Academia do know-how em 2014, e vários programas educativos, entre eles Manufacto, em 2016. Sobre a primeira: “A Fundação Empresarial Hermès é mais uma operadora que uma distribuidora: desenvolvemos programas e os apoiamos a longo prazo. Se queremos ser ‘transformadores’, temos que fazer parte do longo prazo”, declara Olivier Fournier, diretor-geral, responsável pela governança e desenvolvimento das organizações. Na Escola Hermès de know-how, mais de 150 artesãos são também formadores e avaliadores e acompanham 700 aprendizes durante 18 meses de formação, como parte de programas aprovados pela Educação nacional, um modelo único em seu gênero. No final, todos os polos de manufatura do grupo terão sua própria escola. Já a Academia de know-hows, programa da Fundação, reúne profissionais a cada dois anos (artesãos, designers e engenheiros) como parte de um programa de trabalho de 11 meses para pesquisa prospectiva, exploração e inovação referente a um material. A 6a edição é atualmente dedicada à pedra, sob a direção pedagógica da arquiteta Lina Ghotmeh. Quanto ao programa Manufacto, “a fábrica do know-how” cuja ação deste ano abrange 1.975 alunos em nível nacional, tem como proposta sensibilizar a geração jovem quanto aos trabalhos manuais, fazendo com que cada um deles produza um objeto durante os ateliês de práticas técnicas, supervisionados por especialistas.

© FOTO SOPHIE CARRE/ CORTESIA PRADA, KERING, LVHM, CHANEL, MAXIME 

VERRET/CORTESIA HERMÈS, LVMH.

https://www.revistalofficiel.com.br/moda/savoir-faire-em-essencia-e...

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