Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Foto: Divulgação/Frederique Dumoulin

Informação está por todos os lados, mas poucos assuntos nos rodeiam 24 horas, sete dias por semana, quanto a moda. É possível encará-la com grau zero de pensamento ou como tema sensível que se aproxima da arte e também se concota profundamente com o mundo pós-moderno. Em tempos de metaverso, o savoir-faire da alta-costura virou tema e homenagem nas coleções verão 2022, ao lado de uma importante abordagem de inclusão de corpo e idades. Nada mais coerente para uma área que ganhou força dentro do movimento Arts & Crafts, que apoiava o feito à mão em plena Revolução Industrial e que, na última década tem vivido uma importanto valorização dentro do conceito de slow fashion.

Dior

Em vários momentos Maria-Grazia Chiuri falou de sua paixão tanto pelo prêt-à-porter quanto pela alta-costura. O primeiro, diz, reflete o agora, enquanto a couture é sobre atemporalidade, herança, tradição, artesanato, arte. É um trabalho minucioso que começa cerca de dois meses antes do desfile, dividido em dois andares do prédio da avenida Montaigne: vestidos e alfaiataria. Técnicas manuais especificas, como bordado, plissado e plumas, são enviadas para oficinas especializadas. Depois de prontos, esses detalhes voltam às oficinas principais para a montagem dos looks e ajustes. Para a Dior, o ateliê é onde a cabeça e as mãos trabalham em sintonia. Ainda que modos de fazer centenários sejam perpetuados a cada coleção, experimentações são sempre bem-vindas. A diretora criativa da Maison olha para esse universo como a união de uma linguagem mágica e científica. E tão precioso que virou tema desta coleção. A ideia é, ainda, prestar homenagem às relações humanas por meio do fazer manual. Assim, o bordado, por exemplo, torna-se um ato conceitual tridimensional que reinventa as técnicas do atelié e a excelência elementar, enquanto a pureza das linhas celebra a essência da alta-costura: vestir o corpo.

Chanel

Peças de alta-costura exigem o talento das costureiras mais experientes. Sob seus dedos ágeis, esboços ganham vida. Começa com um toile de algodão, a primeira interpretação de um desenho que materializa uma silhueta. Depois os looks da coleção são aprovados, montados, costurados e meticulosamente bordados. Quer seja cortado em "flou", tecidos etéreos destinados a vestidos e blusas, ou outros tecidos mais estruturados usados para "alfaiataria", cada um requer uma execução rigorosa. No início deste ano, a Chanel deu o ousado passo de reunir cerca de 600 artesãos no complexo 19M, localizado no 190 distrito preparado para preservar e valorizar ainda mais saberes variados. O apuro aparece na coleção, que a diretora criativa Virginie Viard definiu como um aceno à estética das Exposições Universais. A partir dessa temática, vieram os bordados finamente geométricos. Uma das peças-chave é um vestido inteiramente bordado pelo ateliè Lesage, com camélias construtivistas em contas pretas, brancas e coral, usado com uma jaqueta preta. Joias, calçados, tecidos e bolsas também passam pela expertise das oficinas.

Foto: Divulgação

Valentino

Os rituais de fazer roupas e acessórios de alta-costura estiveram em um diálogo íntimo com quem as usa, a mulher real. Foi assim que Pierpaolo Piccioli trocou a modelo com medidas perfeitas sob a ótica tradicional - alta, magra e jovem - por uma variedade de musas com corpos e idades diferentes. Levar este debate para a semana de moda mais luxuosa foi um passo importante para o fortalecimento da inclusão na moda. Com o corpo sendo o ponto inicial e final de todo o processo, a abordagem foi de acolhimento e democracia. Vem daí o título desta coleção: Anatomia da Alta-Costura. O domínio preciso da modelagem e as ótimas sacadas de finalização dos detalhes, reflexo da união de talentos entre artesãos e estilista, permitiram que os looks resultassem impecáveis, independentemente das medidas da modelo. Capturar a beleza de como o corpo se modifica à medida que a idade avança também estava no radar de Piccioli, que convocou Kristen McMenamy, Marie Sophie Wilson, Lara Stone, Violetta Sanchez, Lynn Koster, Jon Kortajarena para o show. A ideia que esteve por trás da coleção? A liberdade de ser você mesma.

Foto: Divulgação

Fendi

Os códigos históricos de Roma, os mármores esculturais e a estética eclesiástica convivem hoje com construções modernas. Foi essa percepção da cidade que Kim Jones levou para esta coleção. "Quando você anda pelas ruas de Roma, está constantemente indo e voltando no tempo" explica o diretor criativo. "Onde trabalhamos parece muito moderno, mas você passa por monumentos no caminho. Há uma atemporalidade total na cidade: uma veia histórica que a atravessa, mas também um movimento que se projeta para a frente.” 

Da arquitetura externa para os processos internos do ateliê, Jones uniu técnicas consagradas pelo tempo e artesanato contemporâneo em perfeita harmonia. Na prática, isso significou fotografia gerando impressão com bordados tradicionais, estátuas clássicas localizadas fora do Palazzo della Civiltà Italiana da Fendi inspiraram pinturas à mão em claro-escuro dramático, enquanto couros moldados a quente foram bordados com microlantejoulas. A proposta também foi enaltecer a construção, essência da roupa couture.

Foto: Divulgação/Aldo Castoldi

Jean Paul Gaultier 

Glenn Martens foi o segundo convidado de Jean Paul Gaultier a assumir as tesouras desde que o estilista francês anunciou seu afastamento da alta-costura. E foi como uma celebração do universo meio debochado de Gaultier que o diretor criativo belga aceitou de bom grado o desafio. Ele mesmo um irreverente à frente de sua marca própria, a Y/Project, Martens se viu numa espécie de Disneylândia diante das infinitas possibilidades dos ateliês da couture. Momentos icônicos da marca francesa voltaram à passarela revisitados, principalmente a paixão de Gaultier pela corseteria, cujas peças foram trabalhadas como underwear e outwear, em versão alfaiataria e boudoir, "pendurados" em saias ou decorados com flores 3D em metal. Esta não foi a primeira vez que os dois criadores estiveram na mesma página. Em 2008, Martens foi contratado como assistente, logo depois de ter se formado na Royal Academy of Fine Arts da Antuérpia.

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