Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A indústria ancestral da seda no Camboja está perto da extinção, apesar dos diversos programas internacionais que procuram manter a produção desta matéria-prima num dos países mais pobres do mundo. A solução pode passar por bichos-da-seda híbridos, alimentados a mandioca em vez das folhas de moreira.

Seda por um fio

 Num pequeno atelier no centro de Phnom Penh, técnicos de laboratório mostram-se ocupados em volta de uma miríade de pequenos insetos brancos. Sobre estes adeptos de moreira tão brincalhões como frágeis está o futuro da seda cambojana, atualmente em perigo.

O país asiático, rodeado de grandes especialistas na matéria – China e Índia, mas também Tailândia e Vietname – tenta não deixar morrer completamente a sua produção de seda, nomeadamente através da assistência à reprodução dos insetos e à prevenção de doenças.

Nos anos 70, o regime marxista totalitário dos Kmers Vermelhos riscou esta indústria tradicional, que luta hoje por recuperar este grande sector secular face a concorrentes equipados com as técnicas mais modernas.

«A doença mata mais de 50% dos bichos-da-seda», explica Mey Kalyan, diretor do programa da seda no Camboja da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). «Os que sobrevivem fazem um terço da quantidade dos outros produtores regionais», acrescenta. «Em resumo, os produtores já não trabalham, os tecelões não fazem mais tecido e as plantações deixaram de cultivar» as moreiras que alimentam os insetos.

As superfícies reservadas à baga negra caíram, passando de 6.000 hectares nos anos 40 para cerca de 40 hoje em dia, segundo este especialista.

A última esperança é o centro de produção de Phnom Penh criado pela FAO que faz parte de um programa de reconstrução da indústria posto em prática em setembro de 2009 com um orçamento de 475 mil dólares (372 mil euros).

Os insetos são examinados pelos técnicos equipados com luvas de latex, que os associam dois a dois para os incentivar a reproduzir-se. Depois, entre quatro a seis dias, a fémea é isolada para poder pôr os seus ovos que serão de seguida esterilizados e incubados.

Foram abertas sete quintas no país e foi dada formação. Mas três anos após o início do programa, os fundos acabaram e os investidores tardam em se manifestar.

Os volumes caem a um ritmo inquietante. Cinco toneladas produzidas em 2009, apenas quatro toneladas hoje. O preço do fio da seda local aumenta a toda a velocidade e o Camboja importa agora 400 toneladas por ano, por cerca de 10 milhões de dólares.

Ven On, uma tecelã de 60 anos fiel à seda local, ganha apenas 50 dólares por mês com os sarongs e écharpes demasiado caros para a maior parte dos clientes. Embora os seus sarongs sejam vendidos entre 120 e 150 dólares, ela lucra apenas 10% do preço. «Não consigo sustentar a minha família», lamenta-se.

O futuro é ainda mais sombrio porque a seda do Camboja é de qualidade média em comparação com a dos seus concorrentes, devido a um processamento manual que produz um tecido demasiado grosso para o mercado do luxo.

Na Índia e China, onde é produzida 90% da seda mundial, as bobines modernas produzem um fio de melhor qualidade em bastante menos tempo.

«A indústria de seda do Camboja está em dificuldades», admite Eric Raisina, um criador de pronto-a-vestir de Madagáscar que abriu lojas em Phnom Penh e Siem Reap (no norte), mas utiliza sobretudo seda importada da Tailândia e da China.

«É pena para um país que tinha antigamente uma grande reputação com um casulo único de seda amarela, a que chamávamos a “seda de ouro”», acrescenta.

Na FAO, contudo, nasceu uma esperança há alguns dias. A esperança de manter viva uma tradição do século XIII está na obtenção por parte dos investigadores, depois de três anos de trabalho, de uma espécie híbrida de alto rendimento que se alimenta de mandioca, uma planta presente em todo o lado no Camboja, ao contrário da moreira.

«É ainda muito cedo para dizer, mas os benefícios podem ser enormes», acredita Mey Kalian.

http://www.portugaltextil.com/tabid/63/xmmid/407/xmid/42225/xmview/...

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