Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Segmento de têxtil, confecções e calçados se beneficia da demanda doméstica robusta, mas a indústria sofre os efeitos do câmbio apreciado e da concorrência asiática

A exemplo do que ocorre com outros segmentos ligados à renda e ao emprego, o setor têxtil, de confecções e de calçados deve continuar se beneficiando da demanda doméstica robusta, reforçada por um cenário de expansão da renda real da população e de um mercado de trabalho aquecido, com forte formalização. De fato, o rendimento médio real dos ocupados vem crescendo ao ritmo médio de 3% nos últimos 10 anos, devendo continuar se expandindo em torno de 2% neste e no próximo ano. No mesmo sentido, o mercado de trabalho deverá gerar 1,75 milhão de vagas formais em 2011 e mais 1,81 milhão em 2012, acima da média gerada nos últimos oito anos, de 1,4 milhão de novas vagas.

 

Além dos ganhos de renda real e de emprego, as mudanças sociais no Brasil, como o bônus demográfico, a intensa mobilidade social - nos últimos 10 anos, 40 milhões de pessoas ingressaram na classe C e ao longo desta década mais 10 milhões deverão ingressar - e a maior participação da mulher no mercado de trabalho são fatores que permitiram à população agregar produtos ao consumo.

 

Na análise dos fatores de impulso para a demanda por produtos têxteis, confecções e calçados, cabe destacar, de modo particular, a forte expansão de renda e de emprego nas regiões Norte e Nordeste. Claramente, desde 2004, as vendas do comércio varejista cresceram em média 8,1% no Brasil, sendo que essas regiões apresentaram taxas de elevação, respectivamente, de 10,6% e 10,1%. Esse processo tem sido favorecido pelo bom desempenho do mercado de trabalho nas duas regiões, que passam por um processo de formalização mais importante do que no Brasil como um todo. Entre 2003 e 2010, o Nordeste ampliou a participação do emprego formal em 8,2 p.p., enquanto o País teve incremento pouco menor, de 7,6 p.p.. No caso das vagas sem carteira assinada, o Nordeste também obteve melhor desempenho, com queda de 4,6 p.p., enquanto a média nacional recuou 4,5 p.p. Ademais, o processo de bancarização, as melhores condições de crédito e os programas sociais têm sido importantes para ampliar o poder de consumo das famílias que vivem nessas regiões.

Avaliamos que os ganhos descritos no mercado de trabalho são estruturais e continuarão em curso, ainda que com sinais de moderação na geração de vagas nos próximos trimestres, em linha com o processo de desaceleração da economia brasileira. Diante desse quadro, projetamos expansão das vendas do comércio varejista de têxtil, confecções e calçados com crescimento de 7% neste ano e de 5,4% em 2012. É relevante destacar que o forte crescimento do comércio varejista nas regiões Norte e Nordeste deverá impulsionar o desenvolvimento de centros de distribuição de grandes redes e, complementarmente, do sistema de logística nestas regiões.

 

Em que pese a expansão do comércio varejista, a produção industrial dos produtos aqui analisados vem apresentando dinâmica diferenciada, inferior ao desempenho das vendas ao consumidor final. O descompasso entre comércio e indústria coincide com a intensificação, a partir de 2009, da apreciação do câmbio, que já vinha ocorrendo de forma estrutural. Assim, o coeficiente de importação nesses setores registrou alta, enquanto o coeficiente de exportação apresentou recuo, intensificado pelo ajuste baixista nos principais mercados consumidores depois da crise global de 2008. Ao mesmo tempo, a concorrência chinesa, bastante acirrada nos nossos mercados de destino, bem como no mercado local, também afetou negativamente a indústria.

É bem verdade que temos visto, nas últimas semanas, uma intensificação da volatilidade do cenário global, por conta de preocupações com a crise fiscal européia e o crescimento mundial como um todo. Nesse contexto, o real apresentou uma depreciação não desprezível, chegando a alcançar o patamar de R$ 1,90/US$. Vislumbramos que esse patamar não é o de equilíbrio, motivo pelo qual avaliamos que haverá uma volta, para um nível mais próximo a R$ 1,70/US$ a R$ 1,75/US$,conforme argumentamos no Destaque Depec-Bradesco 18, do último dia 21. Contudo, mesmo não voltando para o nível vigente antes da intensificação da crise recente (algo como R$ 1,55/US$), o real continuará apreciado, diante dos fundamentos e da conjuntura caracterizada por baixo crescimento das economias mais desenvolvidas (contrapondo-se à expansão brasileira mais robusta) e pela liquidez internacional abundante. Ao mesmo tempo vislumbramos que a China continuará sendo relativamente competitiva em segmentos intensivos em mão de obra. Em suma, os setores analisados têm, como característica comum: (i) a intensividade em mão de obra; (ii) são exportadores notadamente para países desenvolvidos; e (iii) menor exigência tecnológica no processo produtivo, comparativamente a setores mais intensivos em bens de capital.

Diante do exposto, embora nossas estimativas para as vendas do comércio varejista de têxteis, confecções e calçados apontem taxas de expansão de 7% e de 5,4%, respectivamente, em 2011 e 2012, esperamos que a indústria ainda continue apresentando sinais de baixo dinamismo, a exemplo do que tem ocorrido com o setor manufatureiro como um todo. Nossas projeções para 2012 são de leve crescimento das indústrias de calçados, em torno de 0,6%, de confecções, de 1,0%, e de têxteis, de 2,3%, porém ainda sem recuperar o nível de produção registrado no período pré crise.


Retrato do setor:

 

- O faturamento da cadeia têxtil tem a seguinte composição: 67% confecções, 31% têxtil e 2% fiação;

- As variáveis determinantes para o consumo do setor são: renda, emprego, crédito ao consumo - com destaque para cartões Private Label de grandes magazines - câmbio e demanda externa;

- Sazonalidade do comércio: as vendas de artigos têxteis, de confecções e calçados são mais concentradas nos meses de maio (Dia das Mães) e Dezembro (Natal). Estas datas respondem por 9% e 16% respectivamente das vendas totais do ano.

- Sazonalidade: a produção da indústria é direcionada de acordo com as tendências da moda e com a época de consumo sazonal, que se divide em duas estações: novembro-abril - primavera/verão e maio-outubro - outono/inverno

Balança comercial

 

Fios e fibras têxteis - o Brasil importa fios e fibras têxteis de origem química, como poliéster, náilon e viscose, e exporta fios e fibras naturais, como algodão, linho, rami e seda. As importações respondem por pouco mais de 30% do consumo doméstico e as exportações por 36% da produção nacional;

Tecidos - as importações representam 10% do consumo e as exportações, 3,5% da produção doméstica;

 

Vestuário - as exportações como um todo são pouco representativas, chegando a 1% do total produzido internamente. Do total exportado, 30% se referem à moda praia e lingerie, e 22% a camisetas. Os principais destinos das exportações de vestuário brasileiro são a Argentina (15%) e os EUA (15%). As importações respondem por 3% do consumo doméstico, sendo 30% casacos, jaquetas e camisas e 25% calças e bermudas. Os desembarques da China respondem por 55% dos artigos de vestuário importados pelo Brasil;

 

Linha Lar - as exportações respondem por 14% da produção nacional, sendo que 80% se referem à roupa de banho e lençóis. Os principais destinos das exportações da linha lar do Brasil são os EUA (47%) e a Argentina (24%). As importações respondem por 10% do consumo doméstico, sendo 31% tapetes e 25% lençóis. As importações da China representam 43% dos artigos de vestuário importados pelo Brasil, seguido pela Índia, com 13%.

 

Regionalização

 

Sudeste - se destacam: o Pólo de Americana-SP, que produz tecidos planos e sintéticos, Nova Friburgo-RJ, com a produção de moda praia e de lingerie; e Monte Sião-MG, com malhas de tricô;

Sul - Vale do Itajaí-SC, se destaca na produção de Linha Lar e confecções de malha;

Nordeste - se destaca na produção de camisetas e jeans.



Octavio de Barros , diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos - Bradesco

Fonte:|http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=101790

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