Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Por Rosanna Naccarato, Professora de Projetos em Design de Moda, da Faculdade SENAI CETIQT 

Com o desafio de escrever sobre a “A moda Rita Lee”, que nos deixou no último dia 08 de maio, aos 75 anos, passou um filme colorido, irreverente, divertido e feminista na tela da memória. E não dá para falar de moda sem mencionar a sua música, que logo invadiu as nossas vidas sem pedir licença. Isto porque viveu períodos incríveis de mudanças sociais radicais, em que as hierarquias tradicionais começaram a se dissolver, abrindo caminho para uma nova era. A maneira como as pessoas se vestiam era um sinal óbvio de mudança de atitude. Na década de 1960, muitos optaram, publicamente, por começar a parecer diferente do normal – e Rita Lee veio junto nesta onda. 

Rita entendeu ainda muito jovem as dificuldades de ser uma mulher-artista cercada de garotos roqueiros. Preconceito? Machismo? A questão é: para que serve um artista se não há a chance de se expressar, falar o que pensa? Foi uma roqueira que interpretava e escrevia suas canções, expressando nas imagens dela própria, que comporia no palco, todas as mulheres que viveu e interpretou em seus versos. Performática desde os tempos do grupo Mutantes, afirmava que vinha de outro planeta, mas eis que era ela, Rita Lee Jones, a mulher que caiu na terra. 

No Instagram de Arnaldo Baptista, em sua mensagem de condolências, ele faz um belo resumo, com várias referências: “Rita Lee trouxe para os Mutantes um lado circense, que envolveu humor, roupas e instrumentos que ela tocava, como o Theremin. Além de nossas parcerias, como ‘Balada do louco’, entre tantas outras. Descanse em paz”. A imagem escolhida para a postagem é Rita com sua jaguatirica chamada Ziggy Stardust.  

Os festivais e programas de auditório televisionados pela Record impulsionaram os movimentos dos anos 60 e difundiram opiniões e novos posicionamentos políticos. Foi em 1967 que tudo mudou. Acompanhando Caetano Veloso na música “É Proibido proibir’ no 3º Festival Internacional da Canção (FIC), Rita, ao lado de Arnaldo e Sergio Dias Baptista, se apresenta com o vestido de noiva que a atriz Leila Diniz havia usado na novela da Rede Globo (1966) “’O Sheik de Agadir’. Os Mutantes ganharam o mundo com seu som rasgado e psicodélico – vanguarda para a época, que ainda digeria o iê-iê-iê da Jovem Guarda. Magrela, como a famosa modelo inglesa Twiggy e seu ar ingênuo de menina, era o oposto, quando o grupo apresentava suas brincadeiras e destilavam ironias.  

No ano seguinte (1969) no 4º FIC, usa novamente um vestido de noiva, mas com uma barriga falsa de gravidez, que fez a plateia ir ao delírio. No mesmo ano, na contracapa do LP, Rita posa com os Mutantes na cama, todos nus, e a repercussão chega além-mar, tornando-os conhecidos em toda Europa. Em 1970, na turnê francesa, passam a fazer uso do LSD e formam uma comunidade hippie, até que, em 1972, foi expulsa do grupo, começando a se despir do efeito hippie. 

Foi construindo uma imagem de moda, reflexo de questionamentos, como o papel da mulher na sociedade. Foi à Londres e importou modas, como a bota plataforma meia pata da loja Biba, referência da moda jovem e autoral na época, e que fez parte do álbum da recém banda só dela, chamada “Tutti Frutti”, com músicas que indicavam a temática feminista e um novo caminho musical. Londres, nos anos 60/70, foi um campo de experimentações estéticas, encabeçadas por Marc Bolan (T-Rex), David Bowie (Ziggy Stardust), Syd Barrett (Pink Floyd), Jimi Hendrix, Beatles (em sua fase psicodélica), entre outros; com acessórios maximizados e com cabelos coloridos – inspirados em Zandra Rhodes? Nos anos 70, numa dessas viagens a Londres, adotou o cabelo vermelho vivo. 

Rita Lee, sempre crítica e irreverente, depois de ser presa em 1976, surpreende em show com uma roupa listrada, símbolo de uniformes de presidiários. Passa a elaborar looks com o uso de plásticos, acessórios maximizados e fantasias incorporadas a figurinos de shows, como a performance vestida de bruxa desde a época dos Mutantes, transformando suas canções em quadros teatrais místicos, sem medo de ser “queimada na fogueira” – a cara dela! 

O macacão inteiro de mangas compridas com base malha telada/vasada tipo rede, em “arrastão” e aplicação de estrelas prateadas quase revelando o corpo magro e nu da artista, produzindo uma imagem andrógina, de moda icônica – “glam disco’ que ficará guardada para sempre. Criando desta imagem um reflexo do que amamos na moda: autenticidade e rebeldia, mesmo inicialmente causando estranheza.  

Talvez um dos seus looks mais comerciais, seja o macacão de Jersey branco da estilista norte-americana Norma Kamali usado no LP “Lança Perfume” de 1980: todo drapeado nos ombros até a cintura e mangas, que envolvia o corpo como uma cascata, lindo, muito anos 80. Virou uma febre entre as amigas, como Elis regina e o público feminino em geral. 

Outra composição surpreendente foi o figurino conceitual produzido pelo estilista brasileiro Ocimar Versolato, conhecido internacionalmente. Usado na turnê paulista nos anos 90, contava com um suporte com seis imagens da própria Rita Lee e tinha como base peças de alfaiataria. 

Fez dos óculos com lentes coloridas (à la Jonh Lennon), por ter quase todos os “ismos” – [fotofobia, hipermetropia e astigmatismo], cabelos tingidos de vermelho e franja reta, combinação livre de cores, estampas e brilhos – seu grito antimoda, até porque sempre vestiu o que quis e cedo percebeu que a moda é cíclica. Falava que “não tinha um guarda-roupas, mas um acervo de peças”, e que não se incomodava em repetir. Rita Lee, a mais famosa Ovelha Negra ‘da família brasileira’, sempre soube das coisas… 

O SENAI CETIQT 

O Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil – SENAI CETIQT – é formado pela Faculdade SENAI CETIQT, Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras (instalado no Parque Tecnológico da UFRJ, na Ilha do Fundão) e Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção. Inaugurado em 1949, o SENAI CETIQT é hoje um Centro de Referência em Moda e um dos maiores centros de geração de conhecimento da cadeia produtiva química, têxtil e de confecção, setores que juntos geram cerca de 11,9 milhões de empregos no país. O curso de graduação em Design foi listado como o melhor curso do Rio de Janeiro dentre as faculdades privadas e terceiro melhor do país, segundo ranking publicado pela Folha de São Paulo e replicada no site FFW. 

https://senaicetiqt.com/seja-diferente-como-rita-lee-jones/

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