Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Selton Mello embarca numa ode surrealista em editorial de moda

Selton Mello embarca numa ode surrealista e vai do clássico ao improvável para mostrar que a moda também é uma das suas pautas preferidas.

Look total FERRAGAMO e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind

Look total FERRAGAMO e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind

Selton Mello está colado no imaginário popular. O menino criativo, introspectivo, apaixonado pela teledramaturgia desde sempre – que já quis morar dentro da “caixa mágica” chamada televisão –, filho de mãe costureira e de pai bancário, irmão mais velho do também ator Danton Mello, já tinha conquistado o Brasil bem antes de o arrasa-quarteirão “Ainda Estou Aqui” estrear nas telonas. Selton é desses artistas que se vestem de personagens inesquecíveis: de Chicó a João Estrela, passando por Rubens Paiva e Caio Barone. Tudo nele flui como encantamento.

Há uma leveza em seus gestos potentes, que, à primeira vista, parecem sacados do tablado, mas logo são compreendidos como superlativos da própria vocação. “Pulei para o mundo da imaginação. É onde gosto de viver, onde me sinto bem, onde me sinto parte de uma coisa maior, mais nobre no sentido espiritual.

Então acho que é isso, que eu vim para ser artista.” Multifacetado, o ator, diretor, roteirista e escritor – agora “totalmente premiado” com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro –, retorna à série “Sessão de Terapia”, estreia na superprodução hollywoodiana em “Anaconda”, ao lado de Jack Black e Paul Rudd, e avisa que ainda tem projetos inéditos para este ano. No ensaio exclusivo para a L’Officiel Hommes, que celebra o surrealismo latino-americano, que revisita obras de Tarsila do Amaral, Leonora Carrington, Frida Kahlo e Ismael Nery, Selton exibe a sua melhor versão conectada aos universos da arte e da moda. O menino tímido do passado, que encontrou refúgio na fantasia, realmente virou o homem mais querido (e pop) do País.

" /">Selton veste casaco NORMANDO, camisa e calça À LA GARÇONNE, sapatos FERRAGAMO e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind
Selton veste casaco NORMANDO, camisa e calça À LA GARÇONNE, sapatos FERRAGAMO e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind

L’OFFICIEL HOMMES Em que momento você se descobriu artista? Como foi essa questão para os seus pais – que tiveram logo dois filhos atores? 

SELTON MELLO Eu não sei... Acho que tem algo de mágico nisso, de destino mesmo. A minha mãe era de uma cidade chamada Nepomuceno, em Minas Gerais, que hoje tem uns 25 mil habitantes. Ela era uma mulher muito simples, dona de casa; e o meu pai trabalhava em banco. Começou como caixa, depois foi melhorando; aí teve uma chance de ir para Ribeirão Preto e, na sequência, para São Paulo. Nasci em Passos (MG), em 1972, mas fui bebê para a capital paulista. Nessa época, o meu pai tinha dois empregos – no banco, durante o dia, e no Jockey, como contador, à noite. A minha mãe fazia costura. Não havia nenhuma referência de arte entre a gente. Mas eu era um menino com muita imaginação, um menino mais cerebral do que físico – e essa sempre foi a maior diferença com o meu irmão, pois ele era aquele aventureiro que ia para a rua e quebrava o dente. Eu preferia a imaginação. Hoje em dia sou diretor e como sigo curioso, acredito que o menino criador segue intacto. Mas, de volta à pergunta, talvez tenha me percebido artista aos cinco ou seis anos, quando ficava assistindo tevê – programas de humor e novelas – e ficava vidrado. Então, um dia virei para a minha mãe, apontei para o televisor e falei: “Quero ir ali dentro!”. E acho que foi isso o que aconteceu.

" /">Camisa ZEGNA - Foto: Bruna Sussekind
Camisa ZEGNA - Foto: Bruna Sussekind

L’OFF Ao longo da sua carreira, quais são os seus papéis favoritos? 

SM Nossa, cada um deles é como um filho. Tenho a sorte ou o critério de escolher muito bem os trabalhos que faço, então acumulo personagens queridos, como Caio Barone, de “Sessão de Terapia”, onde somo funções como diretor e ator. Também tem o Chicó, do “Auto da Compadecida”, que é o meu personagem mais popular, além de João Estrela, de “Meu Nome não é Johnny”, Lourenço, de “Cheiro de Ralo”, João da Ega, de “Os Maias”, Augusto de Val mont, de “Ligações Perigosas”, Leléu, de “Lisbela e o Prisioneiro”, Dom Pedro II, de “Nos Tempos do Imperador”, Benjamin, de “O Palhaço” e Rubens Paiva, de “Ainda Estou Aqui”. Eles são como entidades que convivo por longos períodos e empresto um pouco da minha sensibilidade e da minha criatividade.

L’OFF Você coleciona sucessos. Sobre isso, como foi fazer a sequência do “Auto da Compadecida” – um dos hits do cinema nacional? 

SM Foi um barato fazer a continuação de “O Auto da Compadecida” e poder reencontrar velhos amigos. E vestir a pele do Chicó de novo, brincar como Chicó, contar todas aquelas mentiras e estar ao lado do João Grilo, papel do Matheus (Nachtergaele), com quem trabalhei pouquíssimo nesta vida, foi realmente incrível.

" /">Jaqueta À LA GARÇONNE, calça DOD ALFAIATARIA, camisa HANDRED, sapatos PRADA, joias e relógio BULGARI - Foto: Bruna Sussekind
Jaqueta À LA GARÇONNE, calça DOD ALFAIATARIA, camisa HANDRED, sapatos PRADA, joias e relógio BULGARI - Foto: Bruna Sussekind

L’OFF Agora sobre “Ainda Estou Aqui”. Como aconteceu o convite? 

SM O convite veio de uma conversa com o Waltinho (Moreira Salles). A gente já tinha tentado trabalhar juntos anos atrás e não deu certo por conta das agendas. Desta vez, ele me procurou e marcamos uma reunião. Ele me contou sobre o filme que ia fazer baseado no livro do Marcelo (Rubens Paiva) e disse que precisava de mim para o papel do Rubens. Foi um convite, não foi um teste, não foi uma leitura. Ele virou e disse: “Você quer vir comigo? Quer fazer o Rubens Paiva?” E eu respondi: “Estou dentro!”. 

L’OFF Como foi filmar uma história de tanta potência num momento em que a política está fragilizada e há um significativo avanço da extrema-direita? Qual é a importância de termos um filme como este? E como é levar esta narrativa para o mundo? 

SM É um filme importante, como eu sempre disse, desde Veneza, onde aconteceu a estreia. É mais do que um belo filme, é um filme necessário, que passou dos 300 mil espectadores na França, rodou mais de 70 cidades na Espanha, é um sucesso nos Estados Unidos e ainda nem chegou à Ásia. Cinema de altíssima qualidade, uma história que narra uma perda familiar e acaba conectando muita gente de culturas diferentes. A importância deste filme é fundamental para que não se esqueçam do período da ditadura. Mas não é apenas o Brasil que não tem memória, basta ver o crescimento da extrema-direita na Alemanha... O mundo precisava deste filme.

" /">Jaqueta CARNAN e camisa e gravata COHÍ - Foto: Bruna Sussekind
Jaqueta CARNAN e camisa e gravata COHÍ - Foto: Bruna Sussekind

L’OFF Desse processo exaustivo, que lembrou as campanhas políticas mais acirradas, o que te marcou? 

SM Nossa, foi realmente um processo exaustivo e que lembrou uma campanha política corpo a corpo, em que cada voto conta. Pra dar conta de tanta coisa, a gente se dividia para ir a uma festa, a um café da manhã ou encontrar alguém importante. Valeu a pena cada esforço porque o filme chegou longe e conseguiu esse feito maravilhoso de ganhar o Oscar de Melhor Filme Es trangeiro, sem grandes investimentos publicitários. O que nós fazíamos eram sessões menores aqui e acolá, com conversas com o público. Isso foi fascinante e ajudou a conquistar fãs. Já tinha vivido essa experiência de tentar a vaga no Oscar com o longa “O Palhaço”. Então, ver de perto uma campanha vitoriosa como a de “Ainda estou Aqui” foi um aprendizado. Neste processo, não posso deixar de mencionar os encontros com a Glenn Close e com o Sean Penn, que virou um cara próximo, com quem almocei antes de voltar ao Brasil.

L’OFF Qual é a leitura que você faz deste período em que vivemos? 

SM A leitura é que o mundo é circular, o mundo dá voltas, o mundo vai, vira, tem conquistas, comete erros, aprende e se levanta. 

L’OFF O que um Oscar pode impactar na carreira de um artista? 

SM Ele pode impactar no interesse pelo nosso trabalho. Tem muita gente querendo saber quem somos, gente que se não conhecia o Walter, agora quer conhecer; muita gente que se não conhecia a Nanda (Fernanda Torres) está querendo conhecê-la; muita gente que, se não me conhecia, quer conhecer. As pessoas estão curiosas pelo cinema brasileiro e isso é um fenômeno interessante, já que mobiliza uma geração jovem, que vai atrás de outros filmes que nós protagonizamos, além de impactar na autoestima da cultura nacional. Todos os filmes que vêm depois de “Ainda Estou Aqui” terão mais relevância aqui e no exterior. É isso o que o Oscar faz.

" /">Blazer e calça JOÃO PIMENTA, camisa CARNAN, sobretudo À LA GARÇONNE, lenço KOIA BRAND e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind
Blazer e calça JOÃO PIMENTA, camisa CARNAN, sobretudo À LA GARÇONNE, lenço KOIA BRAND e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind
" /">Look total MISCI, sapatos AGUI e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind
Look total MISCI, sapatos AGUI e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind

L’OFF Quais são os seus planos futuros? 

SM Acabei de fazer um filme muito louco, que se chama “Anaconda”. Será o meu primeiro longa em Hollywood, rodado na Austrália. Foi uma experiência que amei fazer, amei porque nunca tinha vivido algo parecido. Ver o tamanho da produção realmente me impactou. E trabalhar com o Jack Black e com o Paul Rudd, que são dois caras que sempre curti, foi muito legal. Foi incrível fazer um filme deste tamanho, numa indústria que sempre assisti, mas que nunca fiz parte. Então, foi ótimo botar ali o meu molho brasileiro. Sobre os meus planos futuros, só posso dizer que estou escrevendo coisas novas e que esta temporada de “Sessão de Terapia” vai ser muito comovente.

L’OFF Como você enxerga o atual cinema brasileiro? 

SM O cinema brasileiro segue sendo muito potente. Tem filmes extraordinários em cartaz e também no streaming.

L’OFF No início do livro “Eu Me Lembro”, você diz que ele teria como objetivo “comemorar essa volta ao mundo em 40 anos”, referindo-se também à sua carreira. Em algum momento da divulgação do filme “Ainda Estou Aqui” você refletiu sobre como aquela volta ao mundo te preparou para esta “nova” volta ao mundo? 

SM Não tinha pensado nessa volta ao mundo que foi “Ainda Estou Aqui”, mas ela foi bem (sur)real. Tinha uma pergunta no meu livro que era justamente sobre ganhar um Oscar – e achei uma coisa tão distante, que a deixei de fora. Agora ganhei o Oscar inédito para o Brasil junto com a minha equipe. Isso é maravilhoso, é a verdadeira volta ao mundo, né?!

" /">Look total ZEGNA - Foto: Bruna Sussekind
Look total ZEGNA - Foto: Bruna Sussekind

L’OFF De onde surgiu a ideia de fazer uma autobiografia? 

SM Durante a pandemia, com aquele medo de morrer e de ver o mundo acabando. Acho que queria deixar uma lembrança do que vivi nas artes. Pode ajudar alguém, pode tocar alguém, pode fazer sentido para alguém... Mas, na verdade, a ficha caiu quando entendi que aquilo era um ato de salvar a minha própria memória, porque a minha mãe teve Alzheimer durante 12 anos. Foi muito doloroso. Ela faleceu em 2024. Então, se amanhã eu tiver Alzheimer, este livro guarda as minhas recordações.

L’OFF A “Substância” existe no universo do cinema? E você acredita que o etarismo possa ser mais determinante na carreira de suas colegas mulheres? 

SM Acho que a substância existe não apenas no universo do cinema, mas no mundo das redes sociais, dos filtros, da tentativa do não envelhecimento. As pessoas se expõem mais. O etarismo, sim, é muito mais duro com as mulheres. Mas essa coisa da eterna juventude sempre esteve presente. Talvez a terapia ajude a melhorar o autoconhecimento e a fazer entender as diferentes etapas da vida. Eu tive uma fase aos dez anos, aos 20 anos, aos 30 anos, aos 40 anos e, agora, aos 50 anos. São experiências distintas. Mas tenho certeza de que vou continuar criativo e atuante.

L’OFF Fernanda Torres é muito mais atriz do que Mikey Madison. Isso é fato. Você acha que a Academia ainda não percebe o artista latino--americano? 

SM A Mikey Madison é uma atriz extraordinária. E a Fernanda também, assim como a Demi Moore. Enfim, toda disputa parece injusta para uma das partes. Acredito que o mundo está mais aberto para entender outras culturas. Os últimos blockbusters já não fazem tanto sucesso quanto antes. Será que não está na hora de repensar a fórmula e colocar mais diretores chilenos, atrizes francesas misturadas com brasileiras para dar um sacode geral? Novas energias. Sinto que existe esse espaço. Eu gostei da vitória de “Anora”. O Sean Baker é um cineasta muito importante. Sou fã do “The Florida Project”, que tem esse viés de cinema independente raiz. “Flow”, que é uma animação feita quase sem orçamento ganhou da gigante DreamWorks! Então, esse foi um Oscar muito marcante.

" /">GIORGIO ARMANI, camisa ORI RIO, gravata KOIA BRAND e joias e relógio BULGARI - Foto: Bruna Sussekind
" /">Blazer GIORGIO ARMANI, camisa ORI RIO, gravata KOIA BRAND e joias e relógio BULGARI - Foto: Bruna Sussekind
Blazer GIORGIO ARMANI, camisa ORI RIO, gravata KOIA BRAND e joias e relógio BULGARI - Foto: Bruna Sussekind

L’OFF Para você, a astrologia é uma “ciência exata”. Qual é a influência dela no seu dia a dia? Você é do tipo que lê horóscopo? 

SM Não, horóscopo não. Mas gosto de mapa astral e costumo fazer sempre no final do ano porque é próximo do meu aniversário. É uma oportunidade de fazer um balanço e de estudar as possibilidades. E é interessante observar como, geralmente, as coisas batem. Ou, se não batem, passam muito perto. Penso nele como um guia, com pistas interessantes. E eu olho para as pistas, pois sou um cara interessado no mundo oculto, naquilo que não se vê. A astrologia entra nesse lugar.

L’OFF O que você espera da vida? 

SM Olha, já fiz muita coisa como artista. Eu nem sei responder isso... Acho que talvez seja fazer isso o que eu fiz agora, por exemplo. Eu estava do outro lado do mundo, com pessoas que não conhecia, de várias nacionalidades, atuando numa outra língua. Isso é algo que fiz pouquíssimo na minha vida. Talvez seja isso que falte fazer mais.

" /">Look total LOUIS VUITTON e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind
Look total LOUIS VUITTON e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind
" /">Look total ZEGNA e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind
Look total ZEGNA e joias BULGARI - Foto: Bruna Sussekind

Fotografia: Bruna Sussekind

Direção criativa: Marilia Martins 

Direção de arte: Hugo Teixeira 

Edição de moda: Guilherme Alef 

Beleza: Gabriel Gomez 

Texto: Patrícia Favalle

Assistentes de foto: FELIPE VIVEIROS e GUIDO DOWSLEY

Assistente de moda: LINCON CATTO

Assistente de arte: GABRIELA TRAVASSOS

Produção de moda: FEDRA FONSECA

Produção executiva: PRISCILA KRÜGER | NOTITLE.MGT

Assistente de produção: BRUNA SALGADO Platô CLEYTON MACHADO

Videomaker: YAN FELIPE e Fotos making of

Camareira: ANA PAULA NASCIMENTO

Catering: RAPPANUI GASTRONOMIA

Tratamento de imagem: PHILIPE MORTOSA

Agradecimentos: DOCUMENTA COMUNICAÇÃO, RAPPANUI GASTRONOMIA e STUDIO DO CAIS

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