Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Sem emprego na crise, amigas criam brechó com inspiração hip hop

A cultura hip hop e o gosto pela moda foi a solução encontrada por quatro jovens da periferia de Itaquaquecetuba, que tiveram dificuldades em encontrar emprego depois de formadas. Juntas, elas resolveram empreender e criar um brechó online e, hoje, levam conceitos de moda a Itaquaquecetuba e à Zona Leste de São Paulo. As amigas dizem que o objetivo é levar o “Muambei” para outras “quebradas” do Alto Tietê e acabar com a imagem de que roupa de brechó é feia, ruim ou suja.

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O grupo é formado por um design de modas, uma jornalista e duas publicitárias e oferece um serviço diferenciado: a cliente recebe inspiração para montar o look completo. Em um mês as meninas esvaziaram seus guarda-roupas para dar início às vendas e logo na inauguração venderam R$ 1,7 mil.

“Fazia um ano que estávamos tentando conseguir emprego e não nos encaixávamos nos padrões: não tínhamos experiência, morávamos longe, diversas coisas. Quando vimos que não ia rolar no mercado de trabalho, principalmente por conta da crise, resolvemos fazer algo por conta própria”, conta a publicitária Mariana Pereira, de 23 anos.

O brechó começou há cinco meses e, neste curto período, mais de 300 peças foram vendidas. O valor investido já foi recuperado.

A jornalista Jéssica Alves ainda lembra que a ideia do brechó surgiu enquanto assistia um filme com as amigas: “Foi tudo sem pretensão. Estávamos assistindo ‘Até as últimas consequências’ que conta a história de quatro meninas que estavam sem oportunidades e resolvem assaltar um banco. Assaltar um banco não ia dar para gente, mas já que todas consumíamos roupas de brechó, vimos a oportunidade num brechó online porque não seria caro para mantermos”, conta aos risos.

Uma das quatro amigas é formada em design de moda. Michelle Cazuza, de 28 anos, é tão apaixonada por elaborar looks e, mais do que isso, transparecer a sua identidade, que forrou as paredes e o teto do quarto com recortes de revistas de moda.
Depois de montar o negócio, ela conseguiu uma bolsa em Milão, na Itália, para estudar técnico de modelista, com especialização em alta costura, e se mudou para lá. Do outro lado do oceano repassa dicas para as amigas que fizeram do seu quarto o ateliê do brechó.

“A vivência que ela está tendo lá fora, no centro da moda, traz muitas referências para a gente. Com essa oportunidade ela está trazendo ainda mais novidades e conhecimentos. Ela já está mandando tendências para o inverno de 2017. A montagem do look e toda a produção é feita por ela. É lógico que a gente opina, mas todo o composê é dela, porque ela tem a parte técnica do que combina com o quê”, explica Dayane Estefanio, de 27 anos.

Com a “consultoria internacional” de uma das fundadoras do brechó, as amigas oferecem além de peças customizados, opções de looks completos. A combinação de uma saia com uma blusa, por exemplo, é feita virtualmente com a ajuda da Michelle e, depois, as meninas fotografam os looks e postam nas redes sociais para vendas.

Além das vendas pela internet, as amigas participam de eventos culturais onde aproveitam para expor gratuitamente as peças. “Nas feiras a gente consegue vender bem, até porque muitas pessoas das periferias ainda têm dificuldade com a internet. O bacana é que estamos conseguindo atender a clientela daqui que antes precisava ir para São Paulo buscar essas peças. Além do brechó, nós queremos movimentar a cena cultural da cidade, trazer coisas legais como os saraus para cá.”
O gosto por moda está estampado na personalidade forte, no visual e no cabelo das amigas. Uma das inspirações veio da música “aqui tem mulher firme arrebentando as suas correntes”, de Ellen Oléria. “Somos quatro mulheres pretas, periféricas que consomem esse tipo de cultura. Foi instantânea a nossa repercussão. É lógico que temos uma visão empreendedora, queremos expandir, mas o nosso foco é o Alto Tietê. Queremos levar isso de quebrada para quebrada: para Poá, Ferraz, Suzano. A comunidade comprou a nossa ideia porque estamos mostrando que roupa de brechó não é feia, ruim e suja”, diz Jéssica.

Das quatro amigas, apenas Dayane trabalha como freelancer de bartender. Enquanto isso, as demais procuram formação empreendedora através dos cursos oferecidos pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Por mês, são cerca de R$ 1 mil reais de lucro do brechó que são divididos entre elas.

A rotina de trabalho inclui o procura de peças em outros brechós, a limpeza e higienização das peças e até mesmo customização. “Todas as peças são tratadas e temos o cuidado de escolher peças de qualidade. Levamos quase um dia inteiro para o garimpo. Vamos todas juntas para porque, se deixar, levamos tudo e, com todas juntas, entramos num consenso. As peças que customizamos são os jeans: jaquetas e calças a gente acaba desfiando ou colando alguma coisa. As nossas peças variam de R$ 3 até R$ 55 reais”, conta Dayane.Sustentabilidade
A preocupação com a moda vai além do look. Além querer por fim ao preconceito com quem é de favela, as meninas estão pensando em meio ambiente. “Queremos acabar com o preconceito da cultura do hip hop. A questão da sustentabilidade, de reutilizar, nós temos muito forte. Nos preocupamos  com a questão do consumismo e as pessoas também estão apostando em coisas mais baratas em épocas de crise”, diz Jéssica.
A preocupação com o consumismo também está presente do Brechó da Carochinha, que fica em Mogi das Cruzes. Quando um cliente entra no brechó, a proprietária Mayra Leão, dá uma aula de sustentabilidade: “Eu adoro falar e conversar com as pessoas. Então eu aproveito isso para explicar sobre o consumo. Não tem esse lance de que a roupa precisa ir para o lixo porque mudou a moda.”

Mayra diz que há anos não compra uma peça nova de roupa em lojas e acredita que, as pessoas que procuram esse tipo de consumo, estão em buca de algo diferente. “As pessoas estão se libertando mais para comprar, estão mais concientes de marcas que utilizam a mão de obra escrava e infantil. Às vezes chega alguma cliente que pergunta se eu tenho determinada marca e, como eu sei que as marcas são ruins, que tem esse hábito ruim, eu falo que não trabalho e não pretendo trabalhar. Como esse tipo de informação não rende muita publicidade, às vezes, o cliente nem sabe e eu aproveito para explicar.”

A proprietária conta ainda que não criou um brechó no estilo que não coloca roupas em promoções em cestas, como acontecem nas pechinchas. Para ela, o importante é manter a imagem de que um brechó pode ter roupas “bonitas, cheirosinhas e lavadinhas.”

Outro diferencial é que ela prova todas as roupas, forografa e posta fotos nas rede sociais para que a clientes possam ver as peças. “A roupa no corpo fica mais fácil para os clientes terem uma noção de como fica a combinação. É melhor do que num manequim. Agora no final do ano minha renda quase dobra. Eu estou aqui no brechó há um ano e seis meses e consigo me manter só com essa renda”, finaliza.

http://www.conews.com.br/2016/12/27/sem-emprego-na-crise-amigas-cri...

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