Num ano difícil, os líderes criativos da Moda dão-nos permissão para fugir à realidade.
Para qualquer amante da Moda, não há nada tão entusiasmante como Alta-Costura. O dogma que esta forma de arte que tanto amamos tem de ter uma vertente comercial pode finalmente ser ignorado. O que vemos à nossa frente nesta tão pequena semana, é tudo o que queremos: arte sem compromisso. Por falar em expressão artística sem fronteiras, começamos pela maison que abre todas as semanas de Alta-Costura: Schiaparelli. Para primavera/verão 2025, Daniel Roseberry inspirou-se no mito grego de Ícaro. Como seria de esperar para um designer com a profundidade de Roseberry, o ponto de referência não foi superficial ou apenas visual—a inspiração refletiu-se na mensagem por detrás da coleção. ”Icarus” é uma ode ao esforço por detrás da Alta-Costura, uma arte que é dedicada a um só propósito: o alcance da perfeição. Mas, ao contrário do famoso mito, as asas de Roseberry não são de cera, mas de cetim, veludo, seda, etc. A procura de perfeição foi alcançada. Desde há seis anos que Roseberry tem feito esforços para reconstruir a definição de Schiaparelli, não só no mundo da Moda, mas na cultura popular. Com a tarefa alcançada, esta estação o designer puxou-se mais além: o léxico da maison já se sabe, Roseberry trata agora de o expandir. Sim às lagostas, sim às partes de corpo em vestidos, sim a sapatos como chapéus e sim a todas as outras formas em que o legado de Elsa Schiaparelli se manifesta na marca atual. Mas, é refrescante ver Roseberry a criar definições para a marca. Experiências não foram só feitas, foram sucessos. Um vestido de cetim champanhe é só em si um folho gigante. Um vestido descai toda a seda que o cobria e revela apenas a estrutura de um espartilho que alcança os calcanhares.
Schiaparelli Alta-Costura SS25
Ok, já falámos do que não podia deixar de ser falado—Schiaparelli é uma obrigação moral. Agora passamos ao que foi com certeza a mais entusiasmante (e controversa) coleção da semana. Ganhámos, finalmente temos Alessandro Michele a criar uma coleção de Alta-Costura, neste caso para a Valentino. Para todos os - na ausência de uma palavra melhor - haters, do designer (os mesmos que passam horas no Twitter, a reclamar que não vêm a diferença do seu trabalho na Gucci e na Valentino) esta coleção foi uma mensagem. Assim que a sua posição foi anunciada na marca italiana, é este o momento pelo qual todos esperámos. A estética do designer italiano sempre adjacente à Alta-Costura. Os seus bordados, as suas silhuetas, a sua opulência: o seu maximalismo toca na forma mais elevada de Moda. No entanto, para a sua estreia, Michele decidiu fazer algo interessante, em vez de se apoiar na sua linguagem visual, escolheu mergulhar pelos extensos arquivos de Valentino Garavani. Com uma precisão aguçada, Michele apresentou looks reinventados do legado da marca. De volumosos vestidos completamente incrustados de cristais dourados, a verdadeiras cascatas de renda, a diversidade das propostas teve apenas duas coisas em comum: muito Valentino, muito Alessandro Michele. É neste sweet spot que o designer constrói o seu legado na marca.
Valentino Alta-Costura SS25
Na Chanel, a filosofia foi diferente. Se Michele enveredou por caminhos que demonstram a criatividade como o instrumento mais valioso da Alta-Costura, na Chanel, o estúdio da maison provou que o savoir-faire é a sua arma de escolha. Na última coleção dirigida pelo estúdio até à primeira coleção oficial de Matthieu Blazy, a Chanel apresentou uma seleção que representa o legado da maison perfeitamente. As propostas foram uma visão refrescante dos códigos tradicionais. Casacos de tweed foram reformulados de formas criativas: as mangas foram infladas, recheadas de cetim, bordados, etc. Até nos momentos mais glamourosos—os vestidos sumptuosos necessários para Alta-Costura—havia uma juventude, uma leveza. O último look, o clássico traje de noiva, foi uma alternativa mais ténue, um cardigan acetinado sob um vestido translúcido. Na Christian Dior, Maria Grazia Chiuri partiu de um ponto semelhante. As propostas foram leves, ainda que carregadas de significado político característico da designer. Inspirada pelo clássico de Lewis Carroll, “Alice no País das Maravilhas,” Chiuri repensou as formas mais basilares de Maison Dior. O new look, a silhueta mais icónica do legado da marca, foi expandida, rodeando modelos em espécies de gaiolas. A bibliografia da coleção traduziu-se em looks que, ainda que acompanhados de mohawks, tinham uma doçura iminente. Vestidos com panniers interessantes encontravam-se cobertos de flores ou encharcados de renda.
Chanel Alta-Costura SS25; Dior Alta-Costura SS25
Como última menção, e para terminar a semana, Jean Paul Gaultier colaborou com Ludovic de Saint Sernin. A estética sensual do jovem designer viu-se refletida nos extensos arquivos de Gaultier. Os códigos de Saint Sernin expandiram—aliás, explodiram—através do espólio de um dos mais criativos designers de Alta-Costura. Ok, bem, agora de volta à vida real, onde a Alta-Costura não nos sustenta na sua fantasia. Mas não é preciso esperar muito, daqui a duas semanas estamos em Nova Iorque a analisar as propostas para o melhor que a Moda americana tem para oferecer.
Jean Paul Gaultier por Ludocvic de Saint Sernin Alta-Costura SS25
BY PEDRO VASCONCELOS
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