SALVADOR - Dois institutos avançados de pesquisa do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que serão inaugurados nesta quinta-feira, 27, em Salvador, começam a funcionar com projetos de mais de R$ 30 milhões encomendados por empresas de vários setores que buscam melhores indicadores de competitividade e produtividade.
Os Institutos Senai de Inovação (ISI) da capital baiana, instalados no Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia (Cimatec), fazem parte da rede de 25 unidades que serão abertas até o fim do ano que vem para fornecer ações de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para todas as atividades industriais do país.
Os primeiros dois ISI, inspirados nos centros Fraunhofer da indústria alemã, foram abertos no Paraná e em Santa Catarina, no ano passado, para estimular inovação de empresas de eletroquímica e manufatura integrada. O projeto desses institutos conta com investimentos de R$ 2 bilhões, sendo R$ 1,5 bilhão financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
Robô submarino
O maior projeto do ISI de Salvador foi encomendado pela BG Brasil, multinacional britânica de petróleo e gás com atuação no Brasil. A empresa pagou R$ 30 milhões para os pesquisadores do Senai desenvolverem um robô capaz de fazer operações de inspeção e manutenção de instalações petroleiras do pré-sal em até 2 mil metros de profundidade por controle remoto e sem fio. A iniciativa conta com a troca de experiências de profissionais especializados em robótica e inteligência artificial da Alemanha e terá impacto na formação de mão de obra para essa atividade no país.
“Temos engenheiros e doutores com capacidade para produzir equipamentos com esse nível de sofisticação na Alemanha. Mas não temos clientes e um mercado com demanda para manutenção de equipamentos de petróleo em águas profundas. Nesse intercâmbio todo mundo ganha, os profissionais brasileiros e alemães”, explica o professor Frank Kirchner, diretor do Centro de Inovação em Robótica do DFKI, um outro instituto industrial alemão para formulação de pesquisa em robótica e inteligência artificial sediado em Bremen.
“A parceria com a BG vai gerar uma solução inédita do mundo. O que temos hoje são mergulhadores que não passam de cem metros de profundidade e robôs movimentados por joysticks e ligados a um cabo, que tem sério risco de enroscar na estrutura por ser muito extenso — e quando isso acontece é uma grande perda de tempo e recursos para a empresa. Uma operação com esses ROV [remotely operated vehicle] custa cerca de US$ 60 mil por hora. E os AUV [autonomous underwater vehicle] ficarão permanentemente debaixo d'água, só subindo para superfície para manutenção”, acrescenta o paulista Herman Lepikson, gerente do ISI de automação de Salvador.
Cemig
Outro projeto em andamento no instituto é mais simples, diz Lepikson. Trata-se de um aparelho com menos de 50 quilos para fazer inspeção da qualidade deslizando pelos cabos de alta tensão das linhas de transmissão da Cemig, que tem um contrato de R$ 1,2 milhão com o Senai para esse projeto de P&D. Ainda um protótipo de laboratório, a máquina também é única no mundo com esse peso e será equipada com sensores de temperatura e câmeras que transmitirão informações e imagens para uma equipe em solo.
“Por incrível que pareça, a inspeção dessas redes é feita de helicóptero, que voa bem pertinho dos fios. Se é preciso fazer alguma manutenção, eles jogam uma espécie de cesta e o cara tem que descer para fazer o conserto. É um grande risco. A inovação nesse caso entra para garantir segurança dos profissionais e reduzir custos dessas operações”, diz Lepikson.
Na área de automação, o ISI de Salvador também tem em carteira um projeto de R$ 1,2 milhão para melhorar o aproveitamento da produção de fios de seda de uma indústria têxtil paulista chamada Bratac adicionando monitoramento ótimo nas mais de 400 máquinas da empresa. A Bentler, fornecedora do setor automotivo, contratou o Senai para desenvolver solução tecnológica para identificar erros na produção de peças a um custo de apenas R$ 12 mil.
“Nosso objetivo é nos tornarmos um dos quatro maiores centros do mundo em robótica nos próximos dez anos. Para isso temos que continuar atraindo projetos de grande porte, como o da BG Brasil”, projeta Leone Peter Andrade, diretor regional do Senai Bahia.
Para João Fernando Gomes de Oliveira, diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), o formato dos institutos de inovação do Senai representa avanço na relação da produção de conhecimento com o setor empresarial.
“As empresas hoje sabem que dependem de todo o conhecimento e inovação possível para continuar no mercado. No Brasil, pesquisa científica e produção de conhecimento ocorriam, na maior parte dos casos, nas universidades e centros de pesquisas públicos, que estavam descasados do setor empresarial. Hoje isso começa a mudar”, avalia Oliveira.
O repórter viajou a convite do Senai.
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