Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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SENAI CETIQT: Permeada pelo tema´Fora do Eixo´, Inova Moda Digital lança macro tendência Outono/Inverno 24

O mote é representado pelo circo contemporâneo, que tem toda uma construção e um embasamento que fazem florescer esse grande espetáculo. E tudo isso vem carregado da arte, da emoção, da performance, dos figurinos, das músicas, das cores – enfim, de todo um cenário de encantamento junto com essa base de construção. Os três conceitos que compõem o tema principal, Fantasia, Movimento e Improvável, trazem um convite para que soltemos as amarras que nos prendem às questões matemáticas, às questões exatas, para ensaiarmos outros futuros, prototipar inovações, mudar a indústria nacional aproveitando essa habilidade que nós brasileiros temos de sermos intensamente criativos”, pontua a head de Pesquisa do Inova Moda Digital, Christina Rangel

Pensar “Fora do Eixo”, dar vazão a um espetáculo de imaginação e criatividade, deixando para trás o pensamento linear, repetitivo, e alinhavando novas formas e novos olhares para o que fazemos no nosso dia a dia. Seja bem-vindo, leitor, às fantasias e aos movimentos improváveis que o circo nos proporciona. Um lugar de pura inspiração do saber, que une uma grande comunidade aberta ao território, onde convivem valores de tolerância, responsabilidade, solidariedade, educação, pesquisa artística e inovação cultural. Aprender, pertencer, reforçar, identidade, práticas que se entrelaçam criando caminhos e saberes sempre novos. Estas frases estão intrinsicamente relacionadas à tônica para a escolha do tema “Fora do Eixo”, que permeia o Relatório de Macrotendência Outono/Inverno 24, fruto da pesquisa dos integrantes do projeto Inova Moda Digital. Propõe que todos os holofotes sejam voltados para o “soltar suas amarras e desafiar-se a ensaiar futuros fantásticos, prototipar inovações perturbadoras e a simular soluções improváveis para incentivar a indústria da moda brasileira a criar novos espetáculos”. E ainda sinaliza a chegada da Era da Imaginação, na qual a criatividade, seja individual ou coletiva, é sinônimo de explorar novos caminhos, oxigenar valores, inteligência de produtos, estratégias de varejo…

O projeto Inova Moda Digital é uma parceria entre o SENAI CETIQT e o Sebrae Nacional para democratizar o acesso a conteúdo e informações de qualidade para micro e pequenas empresas de moda e confecção de Norte a Sul do Brasil. A plataforma apresenta insights e tendências globais, análises comportamentais e de consumo para impactar as transformações dos profissionais e negócios do setor moda, a partir das conexões entre os atores da cadeia produtiva. O lançamento da Macrotendência Outono/Inverno 24 da Plataforma Inova Moda Digital foi realizado no Centro de Referência de Artesanato Brasileiro (CRAB), na Praça Tiradentes, no Centro do Rio, espaço que agrega o que existe de mais significativo e expressivo na produção artesanal brasileira. E mais: o #tourIMD, integrado pelos especialistas do IMD, também tem cruzado o país para apresentar as inspirações. No início de junho, desembarcou em Fortaleza (CE) e, durante a Jornada de Conhecimento do DFB Festival, multiplataforma da moda autoral em sinergia com música, gastronomia e empreendedorismo, o público pôde ter acesso ao start das informações inovadoras do conteúdo de tendências e inteligência de mercado, partes integrantes da Macrotendência Outono/Inverno 24.

No Rio, no auditório do CRAB, um espaço urbano inovador que resgata o valor da arquitetura dos prédios centenários do Rio e proporciona uma imersão tanto do ponto de vista da visibilidade nacional e internacional do nosso artesanato como o da conexão entre empresas, artesãos e compradores, o gestor de Processos Inova Moda Digital e consultor do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção, Bernardo Barbosa, ressaltou que o Inova Moda Digital tem o propósito de conectar pessoas e compartilhar informações que inspirem novos produtos e segue apoiando e informando o empreendedor para aprimorar e construir negócios de valor.

Sob coordenação de Christina Rangel, consultora do SENAI CETIQT e head de Pesquisa do Inova Moda Digital, a equipe técnica fez uma imersão nos cenários que vêm sendo desenhados nos âmbitos sociais, econômicos, tecnológicos e relacionados ao meio ambiente, decodificando realidades e lançando luz ao futuro no que diz respeito aos desafios da moda e consumo. Além de Chris Rangel, o resultado da pesquisa de Macrotendência Outono/Inverno 24 foi apresentado por Angélica Coelho, consultora do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção e head de Moda Circular IMD; Cléber Lima, do SENAI Pernambuco, consultor em design de moda e especialista em pesquisa de tendências e responsável pela Inteligência de Produtos do IMD e por Rafael Lemos, consultor de Fashion Design do Instituto Senai de Tecnologia Têxtil e de Confecção da Paraíba, que também abordou a sinergia entre a macrotendência com jornadas de comunicação e consumo.

“O circo contemporâneo tem construção e embasamento que fazem florescer esse momento de criatividade e encantamento, um grande espetáculo ‘Fora do Eixo’, que é nossa temática. E tudo isso vem carregado da arte, da emoção, da performance, dos figurinos, das músicas, das cores… Enfim, de todo um cenário de encantamento junto com esta base de construção”, analisa Christina Rangel, acrescentando que são três os conceitos que compõem o tema principal: Fantasia, Movimento e Improvável”.

CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE O CENÁRIO

Fragilização do setor com a inflação e a desaceleração da indústria de transformação são os primeiros pontos analisados. Ainda estamos em um momento turbulento mundialmente, seja econômico, político ou social. O reflexo direto no mercado é a inflação e a indústria ainda tenta se recuperar dos anos que passamos em isolamento e sofrendo impactos da crise provocada pela pandemia do coronavírus. Os estudos da equipe técnica do IMD mostram que a indústria da moda necessita reequipar os atuais processos de fabricação e adotar um modelo de precisão que seja mais ágil, sustentável e reativo às necessidades do consumidor. “Há a necessidade da ênfase nas informações mais valiosas, não apenas no que é fácil de medir. Estamos falando de qualidade de dados, não de quantidade. Dados de fontes diferentes precisam ser organizados. TI e Negócios andam de mãos dadas, porque há necessidade de uma equipe que entenda de tecnologia e varejo e que os integrantes se comuniquem e pensem de forma coletiva e não apenas sobre suas funções específicas”, pontua Christina Rangel.

Já as novas tendências geracionais estão intrinsicamente relacionadas à decodificação de consumidores. E integram a segunda linha de influências. As pessoas estão cada vez mais com um olhar personalizado, buscando ser representadas por marcas e empresas de uma maneira subjetiva, ou seja: individual, que reflita o próprio “eu”. “As empresas precisam estar mais atentas aos micronichos. Dá mais trabalho porque, a cada dia que passa, principalmente por conta do TikTok, surgem vários micronichos. Mas é muito importante compreender essas gerações para que a marca possa falar com os diversos grupos”, alerta a coordenadora.

O terceiro ponto importantíssimo na elaboração do resultado da Macrotendência diz respeito às reconfigurações no sistema e nas operações com a força da tecnologia e Inteligência Artificial. Foram colocadas para jogo tanto as questões dos algoritmos e IA com decodificações para encontrar respostas mais adequadas como também a criatividade espontânea, tal qual um sexto sentido para diferenciação e evolução da moda. Esse avanço da tecnologia começa a nos trazer para novas regiões, mas não haverá a possibilidade de abrir mão da interação humana.

O crescimento do uso da Inteligência Artificial é fato, mas Christina Rangel propõe uma reflexão ao abordar a atual onda do ChatGPT, por exemplo. “Se você digitar: ‘quero fazer uma redação sobre o peixinho fora do aquário’, está fornecendo as informações e ele vai rastrear a internet inteira, copiar frases escritas por um monte de gente e criar um texto. Olha o que estou falando: copiar de um monte de gente! Guarde isto. Então, ela cita uma empresa de construção que usou um mega tapume na obra como um painel com a seguinte frase: “Inteligência Artificial, termina esse edifício”. “Cadê a habilidade dela? Se eu não disser nada para a IA, conseguirá terminar a construção do edifício? Não. Essa é a grande sacada do momento: a gente não se apavorar e perceber que existem habilidades do ser humano que são insubstituíveis. No Fórum Econômico Mundial, as principais habilidades para o desenvolvimento de novas produções foram ressaltadas e elas são: pensamento analítico; o pensamento criativo; resiliência e flexibilidade; motivação e autoconsciência; curiosidade e aprendizado; empatia e escuta ativa; liderança e influência social e pensamento sistêmico”, enumera.

Christina Rangel, head de Pesquisa do Inova Moda Digital (Foto: Heloisa Tolipan)

A head de Pesquisa do Inova Moda Digital comenta ainda do exemplo do Dall.E 2, plataforma de Inteligência Artificial que cria imagens, e, combinada, no caso, com outro software, o Cala, tem capacidade de criar seis variações de um produto de moda em um minuto. “O ser humano, mesmo copiando, não consegue fazer isso à mão. De um lado, a gente está baseado na Ciência dos Dados, em decisões operacionais mais rápidas. É importante? É importante. Mas, por outro lado, a gente está olhando para a diferenciação – e é ali que estão os criativos, é ali que está a criação. Na hora em que estamos criando, a possibilidade é seguir por várias direções”, frisa.

Portanto, a eficiência com os cientistas de dados trará economia de custos sem precedentes, proporcionando decisões operacionais mais rápidas e precisas do que os concorrentes. E, lado a lado, está a diferenciação dos criativos com produções originais e únicas, alavancando a diversidade, as diferenças, expandindo o conhecimento e experiências de estratégias com o mundo natural.

E Christina Rangel manda um recado para os empreendedores: “Não há necessidade, nesse momento, de ficar apavorado. ‘Ah, eu sou micro, sou pequeno, não tenho acesso a isso. Não sei mexer com tanta tecnologia. O que eu vou fazer da vida? Não vou sobreviver’. Calma. O momento é de desacelerar este pensamento”.

COR, SABERES ENTRE GERAÇÕES E O CRIAR

Neste 2023, Magenta é a cor do ano escolhida pela Pantone. Apesar de parecer um tempo sombrio e caótico, os pesquisadores do IMD frisam que as pessoas estão dispostas a mostrar resiliência, inovação e alegria. A escolha da cor retrata o sentimento do momento: “um tom não convencional para um tempo não convencional”. Vemos uma continuidade da Macrotendência para o Verão 24, apresentada em novembro passado e cuja palavra-chave é “Euforia”. Em síntese, lança luz sobre o híbrido, engajamento, percepções, propósitos e valores com um zoom na geração Z e como ela está influenciando uma grande mudança de paradigmas. “Momentos de arrebatamento, que podem ser poderosas forças disruptivas, boas oportunidades para criar mudanças positivas e encontrar novas possibilidades. É um grande fervo e intenso. É uma nova forma de trabalhar. É sobre vibração e euforia”, como já havia nos apontado Christina Rangel.

No CRAB, durante a apresentação da Macrotendência Outono/Inverno 24, a estilista Isabela Capeto e a filha, Chica Capeto, foram convidadas para um talk sobre o processo criativo que permeia o universo de mãe e filha. Ali, no palco, Chica, uma apaixonada pelas artes, lançou mão de pincel e tintas e criou um desenhou na blusa da mãe. A peça foi sorteada entre a plateia. Vimos autoralidade, sinergia, inspiração e criatividade.

Isabela e Chica Capeto sortearam a camisa com o desenho (Foto: Heloisa Tolipan)

OUTONO/INVERNO 24 A ERA DA IMAGINAÇÃO

CONCEITO 1 – FANTASIA

Neste conceito são ressaltados os seguintes pontos focais: novas segmentações geracionais, sátira, desproporção, caricatura, camadas estéticas, o humor dramático e realidades alternativas. O portal para a expressão livre se abriu, mundos infinitos tornam-se realidades. A “fantasia” do palhaço permeia o humor e o drama dá permissão para criarmos um personagem e expressar uma alegria alternativa. Os espaços são transformados com efeitos digitais sobrepostos e trazem personagens para o mundo real. A cultura da internet baseada em excessos produz personagens que vêm e vão, entre mundos tangíveis e, ao mesmo tempo, inimagináveis. O consumidor quer o melhor dos dois mundos. “Quando falamos sobre Fantasia, nós estamos diretamente brincando com o ‘absurdo’. Mesclando informações digitais, físicas, fazendo essa dualidade. E buscando sempre através de alguns olhares, que são mais exagerados, provocativos, mas muito divertidos. A gente brinca com o que seria, tradicionalmente o erro, a falha de uma forma muito leve para fazer fluir brincadeiras criativas”, afirma Angélica Coelho, head de Moda Circular do IMD.

E acrescenta com alguns exemplos: “O maior medo de quem está produzindo um desfile é que os modelos levem tombos homéricos na passarela. No vídeo do desfile da AVAVAV, as modelos propositalmente caem no chão. A marca pensou nesta forma de as pessoas consumirem entretenimento e conteúdo. O TikTok é o lugar das brincadeiras em um mundo mutante. É possível entender a bifurcação das gerações e um grande exercício para que as marcas evitem jogar com estereótipos. Quando se fala na possibilidade abundante de intervenções, interpretações e conteúdos disponibilizados, a gente começa a ver nuances. E esses micronichos, as microcomunidades de consumo, começam a se interpretar e a desenvolver para essa diferenciação também”, avalia.

Os especialistas do IMD chamam de “Travessuras Criativas”, caricaturas que nos libertam dos constrangimentos da realidade. “Produtos e projetos virais e controversos que despertam o debate público e geram atenção da mídia. Questionam a sabedoria convencional e é o que, às vezes, tendemos a dar como certo em nossos comportamentos consumistas”, afirma Angélica.

Portanto, Fantasia explora o lado mais exagerado da criatividade. É meio sem limites, percebe-se uma certa exploração da moda com outros olhos. “Pensando nessas lógicas dos absurdos, a gente fala de uma estação que está olhando para o maximalismo. O minimalismo esteve muito em destaque. Não pense que isso seja nulo agora, mas a bola da vez é o exagero, o bold, o dramático, aquilo que causa”, explica Angélica Coelho.

“A cor como elemento focal tem a potencialidade para trazer isso quando a gente está falando de uma coleção”, comenta o consultor Rafael Lemos, assinalando que o padrão maximalismo vibrante tem mais de 600 milhões de visualizações no TikTok. Vemos padrões coloridos, texturas e acessórios divertidos “de forma bem esquisita” em produtos e pontos de venda.

“O que acontece nesse primeiro tema? A grande referência é o universo do palhaço. Então, pensem em tudo que é divertido, jocoso. Aqui o lance é se divertir no inusitado, do quase impróprio, só que explorado no aspecto positivo em que a liberdade é um convite à extravagância. A diversão é tão plena que transborda, vai além dos limites”, comenta Cléber Lima, responsável pela Inteligência de Produtos do IMD. E acrescenta: “A partir da cartela e do tema, nós desenvolvemos uma linha de raciocínio sobre como desdobrar essa temática em produtos, porque não acreditamos mais em coleções que se encerram na história diária”.

A inteligência de produto do conceito Fantasia é baseada na tríade flashes oníricos – volumes líquidos, metálicos, transcendentais e espetaculares; pop-up ou diversão 360 graus – forma e superfície tratadas como vetores de humor e provocação através do uso da tecnologia de fabricação e da cor; e drama skin ou funny skin, uma estamparia absurda, debochada e surreal feita para transgredir o comum e divertir o olhar.

CONCEITO 2 – MOVIMENTO

Este momento do espetáculo é representado pela bailarina. Desafiar a gravidade – tudo com uma dose perfeita de equilíbrio e originalidade; movimentos entre as artes circenses e atos urbanos de rua. Uma mistura perfeita de força e graça determina um compasso em que o passado encontra o futuro em busca de alternativas regenerativas. Abordagens responsáveis e com os seguintes pontos focais: restaurador, expressivo, luxo essencial, drama rudimentar, virtuoso, opulência sóbria e misterioso. As novas gerações estão escrevendo as regras e ressignificando a forma como o luxo se materializa colocando ética, valores, bem-estar e comunidades no centro de suas expectativas.

“Quando a gente fala: ‘Vamos criar algo novo?’. O novo nem sempre tem os insights a partir do inexistente. Ele pode se basear no que já existe. Nem toda inovação depende de uma tecnologia de ponta, até porque tecnologia é uma ferramenta que ajuda, apoia, melhora o nosso processo por uma entrega melhor”, pondera Angélica Coelho.

Ainda ressalta a tecnologia criativa, práticas, fazeres, saberes ancestrais que trazem um novo modus operandi para o que está acontecendo: “Olhar para uma modelagem, por mais que a gente tenha o melhor sistema de encaixe tridimensional, inclusive falando de moda digital, a gente bebe de uma fonte do que conhecemos, do vestirmos, do que é palpável. E do que já foi feito e aprimorado por outras gerações. Esse olhar de tecnologia, a gente volta para materiais, processos para estruturas”.

Cléber Lima, Angélica Coelho e Rafael Lemos (Foto: Heloisa Tolipan)

A ótica de regeneração, de ressignificação, a escolha dos materiais é muito mais que uma prática, uma filosofia em que se busca não só ser sustentável, mas recuperar o que já foi perdido para continuar caminhando. “E para isso também trazemos um olhar sobre circularidade, sobre economia circular, uma outra ótica para os recursos, de que aquilo não vai ter fim e vai acabar no lixo, mas, sim, a possibilidade de inovação criativa para desenvolvimento de novos produtos, recursos e processos, trazendo longevidade para esses recursos e regeneração para o setor”, frisa Angélica.

“A noção é de estabilidade – eu tenho o chão muito firme no meu pé –, mas consigo circular e pensar coisas novas a partir desse eixo. Estou fixo, mas não estou preso. Isso remete à circularidade. A cartela traz esse aspecto bem outonal. Tudo parece um pouco empoeirado, porque fala do desejo de abraçar uma imagem. Movimento trata de alguns questionamentos que novos grupos geracionais vêm apontando. Estamos falando aqui de quesitos como sustentabilidade, a preocupação com o aquecimento global, a crise climática”.

Angélica nos conta que, nas últimas pesquisas feitas pelos consultores durante a Prermière Vision, em Paris, uma das principais feiras de materiais da indústria têxtil global, foi observado o crescimento de uma exposição de materiais sustentáveis reciclados, que têm essa ótica de diminuição de impacto. “Um dos pontos altos foi o olhar sobre ressignificação de materiais. E isso a gente vê através do corante. Vocês já devem ter ouvido falar de materiais reciclados desfibrados que são reconstituídos em um novo material. Imagine isso sobre um material que já foi tingido. Uma peça superpopular é o nosso querido companheiro total denim. A gente já tem como característica o azul ou uma cor mais escura, corantes pretos. Esse algodão desfibrado, ou seja, picado em mil pedacinhos para depois compor um novo denim, uma nova sarja, um novo tecido de algodão, já vai vir impregnado de uma cor”, observa.

“Não é aquela cor virgem, aquela cor natural, aquela cor de produto tinindo saindo da fábrica. Ele vai ter uma cor residual. Por que vamos precisar tingir novamente? Essa cor pode trazer possibilidades. E aí a gente tem um olhar para corantes a frio, que consomem cada vez menos energia no processo, e também olhar para esse material com a ótica de “eu não preciso retingi-lo”, ele já traz uma cartela de cores novas que abre possibilidades até para inovação em produtos”.

Também neste momento sobre materiais regenerativos é de suma importância a cultura das fibras naturais, que geram menor impacto no consumo de água, e a reciclagem. Multiplicar em mil pedacinhos e trazer um olhar criativo sobre o que a gente está reciclando.

Aqui é citado o exemplo a marca italiana Vittelli com produção de design regenerativo a uma linguagem visual orientada por valores. A estratégia da marca é o tricô artesanal, reabilitado, valorizado e reinventado por novas técnicas; valorização da expertise de makers e da comunidade local. Desafia o modelo hierárquico convencional; controle sobre a matéria-prima, produção sob demanda e fontes de segunda mão. A estratégia criativa diz respeito a cada designer de experimentar diferentes processos de pesquisa, materiais e técnicas contribuindo para a linguagem criativa da moda. Utiliza fios descartados, recuperados, armazéns e fábricas da região como recurso para a produção. São peças feitas à mão e sob medida.

Quanto à Inteligência de Produto do conceito Movimento, Cléber Lima contextualiza o tema trabalhado em três possibilidades: bruma – tricôs levíssimos propõe uma revisão da corporalidade; ultra maciez – felpas em diferentes densidades. Envolventes, aconchegantes e imperfeitas e conforto elevado com camadas importantes com ares nonchalant atualizam as noções de sportwear.

“Sabe essa onda crescente de linho que a gente está vendo? Observem também a ascensão do tricô. A evolução da cartela caminha para uma estética em que os materiais parecem já ter sido utilizados. As cores são abafadas, não são intensas. Parecem ora úmidas, ora empoeiradas, têm como se fosse uma leve sombra”, revela Cléber Lima.

E Rafael Lemos ressalta a questão da criatividade em experimentações de materiais. O poder de expressar vontades e sentimentos através da escolha de materiais. E como as marcas podem ser criativas, sustentáveis e atrair o consumidor.

CONCEITO 3 – IMPROVÁVEL

E chegamos ao último momento do nosso espetáculo circense, que é onde tudo pode acontecer: o Improvável. “Por que devemos nos curvar a limites quando podemos nos desafiar a interromper o eu é racional, prático e esperado? Além é onde está o nosso futuro”, como enfatizam os integrantes do Cirque du Soleil em entrevista à Bazzar. O improvável é “degustar” diferentes possibilidades de criatividade, que possibilitam o desdobramento de novas formas de negócios e soluções surpreendentes resultantes de sistemas alternativos e híbridos. Aqui são pensados os Algoritmos e Inteligência Artificial + Criatividade Espontânea e com os seguintes pontos focais: camaleônico, mutante, mutável, simbiótico, transformação, transição equilibristas.

“Dos insights à ação, no caminho para criar o valor extraordinário tudo se conecta e começa e termina na criatividade”. A partir desta frase Angélica Coelho reflete: “Aqui, nós construímos juntos. Quando abordamos a abundância de dados e tecnologia, transformação digital, a gente começa a refletir enquanto empresa, produtor de moda, estudante de moda, quem trabalha com a cadeia sobre a alusão de dados que é igual à eficiência, agilidade, efetividade. E parece que é só um monte de números que vão trazer o caminho das pedras para que eu tenha o caminho certo. Mas será que só esses dados, só essa análise de um compilado de informações é suficiente para que a gente possa sustentar uma moda do futuro ou o futuro da moda? Já pararam para pensar nisso?”.

Já Rafael Lemos lembra que quando se trata de tecnologia na moda, é preciso pontuar que ela não aconteceu hoje. “Fala-se em Inteligência Artificial e as pessoas estão meio espantadas. Mas, se você parar para pensar, não começou hoje. A gente já passou por algumas revoluções. As tecnologias já provaram para todos nós que podem, na verdade, ser agregadoras de valor, e não necessariamente algo que vai colocar em xeque todas as profissões e todo o conhecimento que já existe hoje”.

“Os softwares estão em constante aperfeiçoamentos. As ferramentas começam a serem trocadas, mas aí a inserção de alguns critérios como os dados, a I.A. consegue nos dar algumas informações que antes eu não tinha de maneira objetiva. E o quanto isso pesa do lado da criatividade? A tecnologia vai estar cada vez mais inserida no nosso cotidiano. Nos próximos 10 anos, o avanço será cada vez maior. Qual é a dose certa? Como eu uso a minha criatividade, o meu saber pessoal diante de tudo isso? Acho que esse é o pensamento que a gente tem que manter para discutir o avanço dessas questões”, avalia Rafael Lemos.

Temos três caminhos para exemplificar o que foi dito e Angélica Coelho nos guia: “Em 2010, a ascensão de marca sobre o o mundo de dados, ganhando uma agilidade imensa e essencialmente pautada pela tecnologia. Em um segundo momento, a gente vem para uma ruptura. E entende como essa criatividade espontânea, aquele insight, aquilo que você sabe que é inerente, que é um instinto, é importante também. A gente passou pela pandemia do coronavírus com o isolamento e viu uma desaceleração, alguns problemas da cadeia ficando mais evidentes, como o desabastecimento. E foram pensadas novas possibilidades de logística para esse fornecimento de materiais e, inclusive, de entrega de produtos que a gente viu durante esses últimos anos. E quando todo mundo estava estacionando para ir para um lugar seguro, alguém teve um insight e vendeu sete milhões de dólares em moletons, em 2020, para quem estava em casa em home office”.

A partir de então, vem a terceira etapa, “no melhor dos mundos, o case da Zalando. E a gente fala de uma aplicação de tecnologias muito profunda, que faz uma análise de coleta de dados muito bem feita, a aplicação de Inteligência Artificial para auxiliar na velocidade dessa coleta e análise de dados aliada a uma equipe de pessoas. Aquela equipe que tem o feeling, o insight, a criatividade para que a gente possa, em conjunto, trazer a rapidez da coleta de dados, dessa pesquisa, dessa decoração com aquele insight, aquela faísca que faz a gente brilhar o olho quando falamos de moda, produzir moda e comprar moda”.

E Rafael Lemos provoca mais uma vez a plateia: “Qual Inteligência Artificial poderia prever uma pandemia? Qual Inteligência Artificial foi capaz de prever as saídas que nós, humanos, criamos nos momentos de pandemia? A gente tem que saber que a tecnologia está à disposição. Cada um vai buscar uma forma de trazer isso como um “a mais” para o seu trabalho, não como uma obrigação. Análise de dados hoje em dia é superimportante, mas não é a salvadora de tudo. É mais uma coisa que estaremos conectados daqui para a frente”.

Quando a inteligência de produtos é abordada por Cléber Lima, ele explica três pontos: miméticos – texturas mil promovem uma estética mística e inspirada em seres que de tão modernos parecem ancestrais; superfície in natura com alongamentos e espaçamentos esportivos que valorizam materiais de aspecto crocante, amassado e manchado; e macro Earth, uma visão energizante das manifestações transitórias das paisagens, seres ou vislumbres naturais sobre materiais tecnológicos. “O fazer manual, o fazer tão apaixonado eleva a moda para um lugar novo. Vemos a estamparia lançar um zoom sobre o planeta Terra, que vai trazer este sentimento de aventura. A criatividade transpassa limites e encontra possibilidades”.

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